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Oriente Médio

Crianças mortas são o símbolo da impiedosa repressão na Síria

3 jun 2011 - 10h29
(atualizado às 10h44)
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As crianças mortas nos ataques das forças de segurança sírias - pelo menos 30 desde meados de março, segundo o Unicef - tornaram-se símbolo da repressão cada vez mais violenta que o regime do presidente Bashar al-Assad exerce contra a rebelião popular.

23 de março - Manifestantes contrários ao governo sírio comemoram o avanço dos protestos, na cidade de Daraa
23 de março - Manifestantes contrários ao governo sírio comemoram o avanço dos protestos, na cidade de Daraa
Foto: AP

Amzeh al-Khatib, um menino de 13 anos, que foi "torturado e assassinado", é a grande figura da resistência à brutalidade do regime, que tenta, sem sucesso, abafar o movimento popular.

Várias páginas da rede social Facebook - algumas delas com fotos e vídeos que mostram o suposto corpo mutilado de Amzeh - prestam homenagem ao jovem.

A nova jornada de protestos convocada para esta sexta-feira foi dedicada às "crianças da liberdade", já que alguns daqueles que morreram como mártires tinham apenas quatro anos.

"Todos somos Hamzeh Khatib" indicam muitas páginas do Facebook, seguindo a célebre frase "Todos somos Khaled Sadi" (nome do jovem egípcio morto pela polícia), que desencadeou as grandes manifestações do povo egípcio que causaram a queda de Hosni Mubarak.

A detenção e a tortura de 15 crianças que escreviam palavras de ordem contra o regime nos muros de Deraa (sul) foi a fagulha que causou a explosão.

A história do pequeno Hamzeh, que o regime nega considerando que as marcas em seu corpo se devem à decomposição do cadáver, revoltou os militantes que afirmam que o menino teve o pescoço quebrado.

O porta-voz do Fundo Mundial das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Patrick McCormick, afirmou que a "utilização de imagens de crianças é incrivelmente poderosa".

"A foto de um menino morto, torturado ou mutilado, tem muito mais impacto do que a de um adulto", disse McCormick à AFP.

Na internet surgem todos os dias páginas intituladas "Crianças mártires da Síria", "Pelas crianças da Síria" ou "Ajudem as crianças da Síria".

O Unicef disse que não pode verificar as circunstâncias exatas das mortes, mas indica que o número de crianças mortas na Síria, assim como na Líbia, é certamente mais elevado do que se imagina.

Nestes dois países, os regimes autocráticos bombardearam cidades "rebeldes", ao contrário do que aconteceu na Tunísia e no Egito.

Nessas situações, as crianças "não estão conscientes do perigo, ainda mais por que as manifestações são um fenômeno novo no país", disse McCormack.

No site "Crianças mártires da Síria", um vídeo mostra uma menina, chamada "Maya", carregada por seu pai, que grita "Fora, fora!", lema repetido constantemente pelos manifestantes contra Al-Assad.

De acordo com a oposição, Hamzeh tinha decidido participar das manifestações depois que a polícia matou um primo do menino.

O Unicef insiste na necessidade de salvar as crianças que acompanham seus pais nas manifestações.

"Não é uma luta delas, não escolheram estar nesta batalha, estão no meio", lembra McCormick, que pediu que as mortes e denúncias de torturas sejam investigadas e que os responsáveis sejam punidos.

A preocupação aumenta à medida que se aproxima o fim do ano letivo.

"As crianças ficarão mais vulneráveis, estarão nas ruas e não em uma sala de aula", disse o porta-voz do Unicef.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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