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Mundo

Habitantes de Lazarevo estão decepicionados pela prisão de Mladic

28 mai 2011 - 14h17
(atualizado às 14h47)
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Decepcionados, mas orgulhosos. Assim estão os habitantes de Lazarevo, a aldeia ao norte da Sérvia na qual foi capturado o ex-general Ratko Mladic, o homem mais procurado dos Bálcãs, acusado de ser o responsável por milhares de mortes de civis na guerra da Bósnia (1992-1995).

Os moradores de Lazarevo dizem estar decepcionados porque Mladic foi finalmente preso, mas também afirmam estar orgulhosos de ter, mesmo sem saber, oferecido refúgio ao ex-comandante militar durante os últimos anos de sua fuga da Justiça internacional.

É que ninguém no povoado havia notado a presença do novo vizinho, que aparentemente só saía de casa à noite ou de madrugada para passear. Lazarevo é um povoado como muitos nesta fértil região de Voivodina, situado a menos de 100 km de Belgrado. A maioria dos 3,5 mil habitantes chegou como colonos sérvios da Bósnia, depois da Segunda Guerra Mundial.

Os habitantes vivem da agricultura, suas casas são humildes, mas não miseráveis. Estão bem cuidadas, assim como seus jardins. É difícil imaginar que neste lugar idílico tenha se escondido um homem como Mladic, acusado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) dos piores crimes de guerra cometidos na Europa desde 1945.

O ex-comandante militar vivia na casa de um primo, Branko Mladic, um solteirão de cerca de 60 anos que neste sábado estava tosando uma de suas cabras enquanto vários jornalistas tentavam arrancar alguma declaração sua. Tudo em vão. Branko não fala sobre seu parente perseguido.

Sua fazenda fica na rua que recebeu o nome de Vuk Karadzic, o reformador da língua sérvia no século XIX. Esse sobrenome é o mesmo de outro suposto criminoso de guerra: Radovan Karadzic. O ex-líder político servo-bósnio foi capturado em 2008 em Belgrado e extraditado a Haia.

A Polícia sérvia relatou que na quinta-feira, quando encontrou Mladic, foi a primeira vez que fez uma operação de busca em Lazarevo, apesar de que lá viviam vários parentes do ex-general.

Os moradores do povoado já estão visivelmente irritados com a presença da imprensa, por ouvirem sempre as mesmas perguntas, sobretudo de repórteres considerados "inimigos", como os americanos, alemães e britânicos, cujos exércitos lideraram em 1999 os bombardeios da Otan contra o país.

Mas após uma breve conversa sobre o futebol espanhol, a final da Liga dos Campeões ou novelas latino-americanas, começam a dar sua opinião sobre Mladic. "Se alguém soubesse, ninguém teria delatado. Ele é um herói nacional, que lutou pelo bem dos sérvios", opina Milan, um camponês de 55 anos que vive na mesma rua que o primo de Mladic.

Branko, um outro morador montado em sua bicicleta, se une à conversa. Assegura que faria "todo o possível" para esconder Mladic, "para que não o encontrassem nem com a ajuda de satélites". Perguntados sobre a iniciativa de mudar o nome de Lazarevo para homenagear o ex-militar capturado, todos dizem que não se incomodariam.

Pelo contrário. "Povoado General Ratko Mladic, isso eu gostaria", diz Branko, e acrescenta: "e de quebra poderiam mudar de nome duas ruas, uma em honra a Mladic e outra a Karadzic", diz entre risos.

Mas os que aqui parecem personagens marcantes da história sérvia, são segundo a Justiça internacional os piores criminosos de guerra que a Europa viu na segunda metade do século XX.

São acusados de ser responsáveis por 10 mil mortes no ataque a Sarajevo, a capital bósnia, que esteve sob disparos e bombardeios indiscriminados durante mais de três anos.

Além disso, Mladic e Karadzic são considerados os artífices do pior massacre ocorrido na Europa após os horrores nazistas.

Na cidade bósnia de Srebrenica, que era habitada por uma grande maioria de muçulmanos, foram assassinados em menos de três dias de julho de 1995 cerca de 8 mil homens. Mas aqui isso não interessa. Muita gente dúvida inclusive que Mladic seja o responsável pelo massacre. "Não acho que tenha feito isso", diz Neboja, rodeado por vários repórteres.

Nos Bálcãs, as teorias da conspiração sempre estão em moda. Por isso, alguns também põem em xeque a ideia de que Mladic tenha vivido durante anos em Lazarevo. "Simplesmente o trouxeram há poucos dias para depois prendê-lo aqui", dizia Ivan, um aposentado sentado em um dos vários cafés situados na principal rua do vilarejo.

Seja como for, o "açougueiro dos Bálcãs" está detido, será extraditado e agora a Sérvia pode olhar para o futuro. E Lazarevo ficará marcada para sempre com a duvidosa honra de ter sido o último refúgio de Ratko Mladic.

EFE   
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