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Mundo

Seduzidas pela máfia, africanas engravidam para ir à Espanha

16 abr 2011 - 15h58
(atualizado às 16h44)
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Érica Chaves
Direto de Algeciras, Espanha

Que os africanos saem de seus continentes em busca de uma vida melhor, não é surpresa, mas o que poucos sabem é que as mulheres ficam grávidas propositadamente antes de empreender a viagem em direção ao velho mundo. Em 2011 já são 14 mulheres grávidas que viajaram da África para a Espanha.

O padre "patera" de Algeciras Isidoro Macías Martin diz ter ajudado cerca de 200 crianças e bebês desde 2000
O padre "patera" de Algeciras Isidoro Macías Martin diz ter ajudado cerca de 200 crianças e bebês desde 2000
Foto: Isidoro Macías Martin/Arquivo pessoal / Divulgação

As máfias as seduzem, dizendo que se elas estiverem esperando um filho que nascerá na Espanha, ele terá a nacionalidade e, por isso, elas, como mães, também terão privilégios e não poderão ser expulsas do país.

Para estas mulheres não importa quem é o pai, já que os filhos são apenas um meio para que elas consigam ir à Europa para ter uma vida melhor. Elas chegam sem documentos, dizendo-se casadas quando, na maioria das vezes, engravidam fora de seu país, geralmente no Marrocos, último ponto africano antes da viagem à Espanha. Enganadas e com uma dívida em torno de 300 euros pelo transporte em barcos com poucos recursos, elas só descobrem que as leis são diferentes depois de chegar.

O litoral espanhol hoje está melhor vigiado por câmeras do que há alguns anos. Além disso, a crise econômica fez com que a imigração de africanos que chegam em embarcações em péssimas condições caísse 50,1% no último ano. Ainda assim, sempre que o mar está calmo, mais "pateras" (como os espanhóis chamam as embarcações que transportam os africanos) são resgatadas pela Guarda Civil.

Na Espanha
São muitos os caminhos para chegar à Espanha e o mais curto deles, de apenas 14 km, sai de Tanger, no Marrocos, em direção a Algeciras. Outros, mais longos, levam os imigrantes a permanecerem no mar por até um dia. Os destinos menos vigiados, e por onde chegam mais imigrantes atualmente, são Murcia e Castellón.

Ao serem identificados, eles são registrados pelas forças de segurança espanholas e, em seguida, ficam sob os cuidados da Cruz Vermelha, que lhes dá comida e abrigo, e leva as mulheres para que um médico verifique sua saúde e a do bebê.

Fuensanta Perez Alvarez é mediadora da Cruz Vermelha desde 2007 em Motril, Granada. Ela recebe as imigrantes, traduz o que os médicos e a polícia lhes dizem e dá informação sobre como elas devem agir para não arriscar sua vida e a de seus filhos.

"Se a viagem de volta for um risco para a vida da mãe e do bebê, eles ficam até o nascimento, por isso muitas africanas chegam grávidas de seis meses ou mais. Depois disso, já não estão sob custódia da polícia e fogem para outras cidades para não serem deportadas", explica Fuesanta.

Depois disso, muitas ficam à sua própria sorte e outras vão para os abrigos dos padres franciscanos, onde permanecem em média três anos, tempo necessário para conseguir que seus documentos sejam válidos para que elas permaneçam na Espanha.

Um dos mais antigos abrigos é o de Algeciras, que pode receber até 20 pessoas, entre mulheres e crianças, principalmente. O padre Isidoro Macías Martin, conhecido como padre "patera" de Algeciras, afirma que desde 2000, já ajudou cerca de 200 bebês e crianças, e que o número de mulheres que chegaram ao centro é muito maior.

"Essas mulheres e seus filhos não conseguem os documentos facilmente e vêm sempre sem passaporte ou qualquer tipo de identificação", explica o religioso.

Segundo o padre, elas têm medo de falar porque a máfia sempre acaba descobrindo o que elas fazem e as extorque durante muitos anos, inclusive se mudam de cidade ou de país, muitas vezes tornando-se prostitutas.

Na cidade mais próxima do continente africano, o padre diz que a origem da maioria dessas mulheres é a Nigéria. Elas chegam à Espanha com esperança de novos trabalhos, mas, para o padre "patera", se não houvesse as máfias, com certeza elas não viriam porque não saberiam nem por onde começar.

Legislação espanhola
Segundo as leis sobre estrangeiros na Espanha, as crianças nascidas em seu território não são automaticamente espanholas. Elas recebem a nacionalidade de origem dos pais e são reconhecidas como bebês nascidos fora de sua pátria. Assim, tanto as mães como os filhos, se estiverem em boas condições de saúde, podem ser devolvidos a seus países de origem.

Fonte: Especial para Terra
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