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Ásia

Prisão de Ai Weiwei inunda internet chinesa de "amor pelo futuro"

9 abr 2011 - 10h01
(atualizado às 12h02)
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Os internautas chineses protestam contra a prisão do artista e dissidente político Ai Weiwei e ao mesmo tempo se safam da censura do regime com uma frase que em chinês se assemelha ao nome do dissidente: "Ame o futuro!".

Irmã do artista e dissidente político Ai Weiwei conversa com jornalistas após deixar delegacia em Beijing
Irmã do artista e dissidente político Ai Weiwei conversa com jornalistas após deixar delegacia em Beijing
Foto: AP

Enquanto os censores se empenhavam em eliminar rapidamente todos os ''posts'' sobre a detenção do artista na rede social mais popular do país asiático, "Sina Weibo", os engenhosos internautas começaram a buscar alternativas até encontrarem a mais similar ao nome do criador, "Ai Wei Lai", ou "ame o futuro", cujos ideogramas são quase idênticos aos do nome de Ai Weiwei.

A ideia funcionou e a frase se multiplicou de forma exponencial na web chinesa, a maior do mundo com mais de 420 milhões de usuários, até que o aparelho de censura mais sofisticado do planeta detectou a jogada e começou a correr contra o tempo para eliminar as mensagens.

Um grupo de estudantes da Universidade de Berkeley que administra um site contra a censura chamado China Digital Times conseguiu salvar e traduzir alguns destes ''posts'', muitos dos quais incluem uma foto do artista de 53 anos. "Nós amamos o futuro, não só por uma pessoa, mas porque esperamos que o futuro seja melhor", diz uma dos textos. Outras fornecem mais pistas sobre a situação de Ai: "Nós amamos o futuro, mas o futuro desapareceu, o futuro está na prisão, o futuro se foi".

Outras criticam a passividade da sociedade chinesa diante da campanha de repressão atual: "O fato mais aterrorizador deste país não é que o governo faz o que quer, mas as pessoas que dizem: ''Este país é assim, não é possível mudá-lo, é preciso se acostumar''. Enquanto elas não forem as vítimas, podem tolerar a desgraça alheia".

Em todo o caso, a prisão de Ai encheu a internet de "amor", palavra que se pronuncia em chinês quase da mesma forma que o sobrenome do famoso criador do estádio olímpico de Pequim 2008. "Ame a vida, ame teus sonhos, ame a liberdade, ame o futuro!", diz uma das mensagens.

A internet foi contagiada pelo espírito rebelde e insolente que é atribuído ao artista chinês, uma atitude que vem de família, já que seu pai, o respeitado poeta Ai Qing, foi perseguido pela Guarda Vermelha de Mao Tsé-tung após lutar com ele na revolução dos anos 1940. "Estamos vivendo uma situação muito parecida à qual meu marido sofreu durante a Revolução Cultural (1966-76)", explicou Gao Ying, viúva do poeta e mãe de Ai Weiwei.

Seu filho não é apenas uma das figuras mais radicais e cotadas da arte conceitual chinesa, exemplificada na recente instalação de cachimbos de porcelana na galeria Tate Modern, em Londres, mas também um irreverente opositor do regime chinês e um líder de opinião na internet para aqueles que dispõem de "proxies" para evitar a censura.

Sua prisão é a de mais destaque na campanha que as autoridades executam contra a fragmentada dissidência chinesa desde que foi anunciada a concessão do prêmio Nobel da Paz 2010 ao intelectual chinês preso Liu Xiaobo, há exatos seis meses, em 8 de outubro.

No entanto, Pequim assegurou nesta quinta-feira que a detenção de Ai não está relacionada com a repressão da liberdade de expressão, mas com uma investigação por suposto crime financeiro, uma estratégia legal já usada com dissidentes como o ecologista Wu Lihong, o advogado Xu Zhiyong e o jornalista Zhao Yan. Curiosamente, um novo blog contra Ai chamado "neimucankao" ("informação em segredo") começou a fazer acusações contra o artista dois dias antes de sua prisão, no domingo.

O blog reúne algumas das críticas frequentes lançadas contra dissidentes políticos pela propaganda do regime, como a de ser pago pelo Ocidente, somadas a uma de sua vida pessoal, já que há anos Ai não convive com sua esposa, Lu Qing, e tem um filho de dois anos com uma de suas assistentes, Wang Feng.

EFE   
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