Campanha eleitoral peruana é marcada por ausência de debates
8 abr2011 - 17h40
(atualizado às 19h35)
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A campanha para as eleições do próximo domingo no Peru foi uma das mais disputadas da história do país, mas não pelas ideias ou programas de governo apresentados, já que, na falta de um verdadeiro debate, sobraram acusações.
Entre os que reivindicavam um maior nível de discussão, o presidente da Conferência Episcopal Peruana, Luis Bambarén, alertou recentemente para a "superficialidade" da campanha, que o escritor Mario Vargas Llosa chegou a qualificar como um "torneio de palhaçadas", unindo-se assim ao coro de críticos.
No entanto, é difícil imaginar que debate de ideias pode haver entre o ex-presidente Alejandro Toledo, o ex-prefeito de Lima, Luis Castañeda, a congressista Keiko Fujimori (filha do ex-presidente preso, Alberto) e o economista Pedro Pablo Kuczyinski, já que todos eles têm as mesmas propostas essenciais: aprofundar o modelo econômico liberal e privilegiar os investimentos estrangeiros.
Apenas o nacionalista Ollanta Humala, embora já sem o discurso chavista das eleições de 2006, quando foi derrotado por Alan García, mostrou-se partidário de uma política claramente redistributiva e de proteção social, e a favor da renegociação dos grandes contratos de gás e petróleo.
Perante esta coincidência nos principais assuntos, a campanha esteve centrada em lembranças, como a já famosa "análise capilar" dos candidatos para examinar possíveis rastros de substâncias tóxicas.Não faltaram visitas a mercados, aparições em estúdios de televisão, fantasias com quase todos os trajes regionais deste país rico em folclore, tudo isso para adornar as promessas de toda eleição: melhora no sistema previdenciário, mais policiamento e contratação de professores, entre outras propostas, quase nunca com explicações de onde sairá dinheiro para financiá-las.
Por outro lado, os debates entre os candidatos se limitaram a meras exposições de programas, em geral muito rígidos, e apenas o último, realizado no domingo passado, permitiu algumas réplicas. "O Sendero Luminoso e Alan García se encarregaram de desorganizar e destruir a sociedade. Não há sindicatos nem organizações sociais, mas uma política hiperpersonalizada", disse o sociólogo Julio Cotler para explicar a extrema despolitização da campanha.
Como consequência imediata, a imagem projetada pelos candidatos, e não seus programas, pode ajudar a entender as oscilações da popularidade nas pesquisas: enquanto o "gringo" Kuczyinski optou por atitudes mais populares, o esquerdista Humala mudou sua habitual polo vermelha por uma gravata e uma imagem de homem de família.
Alejandro Toledo, que começou com uma imagem de estadista que se recusa a entrar em disputas pessoais, começou a perder pontos justamente quando se desviou desses propósitos, embora ainda não esteja claro se ele poderá recuperá-los daqui até o próximo domingo.
Alguns dos gestos mais comentados foram a aparição de Humala com um rosário em companhia do cardeal Juan Luis Cipriani, arcebispo de Lima, considerado integrante do setor mais conservador do catolicismo e que também recebeu Toledo e Castañeda. Cipriani tentou "enquadrar" os candidatos com alguns dos temas polêmicos que cuida zelosamente, e praticamente conseguiu que todos fizessem pública profissão de fé contra o aborto e as uniões civis entre homossexuais.
Curiosamente, as pesquisas, que a princípio eram dominadas por Toledo e Castañeda, ambos promovendo suas gestões (estatal e municipal), mudaram de rumo. Entre os candidatos com maior possibilidade de passar a um eventual segundo turno estão agora os que têm os maiores índices de rejeição: Ollanta Humala e Keiko Fujimori.
Segundo o prêmio Nobel Vargas Llosa, uma eleição entre ambos seria como escolher "entre o câncer e a aids", mas, segundo as pesquisas, tamanha advertência não parece ter surtido efeito. Humala desperta grande simpatia entre os pobres e no sul do país, apesar do grande aparelho midiático que instigou durante semanas o medo do "chavismo", até o ponto de o candidato ter que tomar distância publicamente do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que recentemente o qualificou como um "bom soldado".
Já Keiko Fujimori é popular em regiões rurais e da periferia de Lima, onde o regime de seu pai foi generoso em sua política assistencialista, mas conta com grande resistência entre os que lembram os graves delitos contra os direitos humanos e a corrupção desenfreada, assuntos dos quais a candidata não parece ter tomado suficiente distância.
Peruanos residentes em São Paulo votaram na tarde deste domingo no Bairro da Liberdade para as eleições realizadas no Peru
Foto: Futura Press
O candidato à presidência do Peru Ollanta Humala votou neste domingo em Lima
Foto: EFE
Ollanta Humala lidera as pesquisas de intenção de voto com 28,1%
Foto: AFP
Alan Garcia, atual presidente peruano, registra seu voto neste domingo nas eleições de seu país
Foto: AFP
O ex-ministro e candidato a presidente Pedro Pablo Kuczynsk vota neste domingo nas eleições peruanas
Foto: AFP
Pessoas votam nas eleições presidenciais do Peru no Palau San Jordi, em Barcelona, na Espanha
Foto: Laisa Cisneros / Especial para Terra
O ex-presidente peruano e candidato da chapa Peru Possível Alejandro Toledo, vota neste domingo nas eleições do país
Foto: AFP
Pessoas fazem fila para votar nas eleições presidenciais do Peru em Barcelona, na Espanha
Foto: Laisa Cisneros / Especial para Terra
A conservadora Keiko Fujimori briga para disputar o segundo turno, segundo as pesquisas
Foto: AFP
Foto: Terra
O candidato presidencial e ex-presidente Alejandro Toledo concede entrevista coletiva em Lima
Foto: Reuters
Ollanta Humala, um dos principais candidatos presidenciais das eleições do próximo dia 10, deixa estabelecimento empresarial após discurso, em Lima
Foto: Reuters
Foto: Terra
O candidato Pedro Pablo Kuczynski mostra seus dotes musicais com uma flauta após discursar para multidão em Lima
Foto: Reuters
Cão de estimação faz propaganda para o candidato Ollanta Humala durante campanha em Arequipa
Foto: AP
Foto: Terra
Partidários acompanham passeata da candidata Keiko Fujimori pelas ruas de Canete
Foto: AP
Simpatizantes aplaudem discurso do candidato Alejandro Toledo durante comício em Ferreñafe
Foto: AP
Foto: Terra
Xamãs peruanos realizam ritual com os cartazes eleitorais dos candidatos presidenciais Keiko Fujimori (esq.), Alejandro Toledo (segundo, à esq.), Pedro Pablo Kuczynski (segundo, à dir.), e Luis Castañeda, em Lima
Foto: Reuters
Simpatizantes a cavalo acompanham passeata com o candidato Alejandro Toledo, do Partido Peru Possível, em Lambayeque
Foto: AP
O candidato Alejandro Toledo atende a simpatizantes em avião antes de viagem após fazer campanha em Lambayeque
Foto: AP
Xamã realiza ritual com imagem da candidata presidencial da direita Keiko Fujimori, em Lima
Foto: AFP
Partidária segura cartaz eleitoral com a foto do candidato e ex-ministro da Economia Pedro Pablo Kuczynski, do Partido Popular Cristiano
Foto: AFP
Partidários da candidata à presidência Keiko Fujimori celebram em Lima após resultados do primeiro turno darem a ela o segundo lugar nas votações. O candidato de esquerda Ollanta Humala ficou com o primeiro lugar
Foto: Reuters
Uma eleitora usando roupas tradicionais roupas indígenas Quechua durante eleições gerais em Cuzco
Foto: AP
O candidato Ollanta Humala, que vai ao segundo turno, concede entrevista coletiva em Lima
Foto: AP
Principais jornais peruanos destacam em suas capas o enfrentamento entre Ollanta Humala e Keiko Fujimori no segundo turno
Foto: EFE
Humala recebeu o carinho das filhas na casa do seu pai no dia posterior à votação do primeiro turno
Foto: AP
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Candidato presidencial Ollanta Humala deixa uma estação de rádio em Lima, dois dias após as eleições, que levaram ele para o segundo turno do pleito
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Amparado por assessores, candidato Ollanta Humala entra em carro, após entrevistas à rádio, em meio ao segundo turno que disputa com Kenko Fujimori
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O nacionalista Ollanta Humala discursa para persdonalidades peruanas durante evento de campanha em Lima
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A candidata Keiko Fujimori arrisca um soco em saco de pancada durante visita à academia da campeã de boxe Kina Malpartida, em Lima
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O candidato presidencial Ollanta Humala, líder do 2º turno segundo as pesquisas, concede entrevista em Lima
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A candidata da direita Keiko Fujimori sorri ao lado da filha durante entrevista concedida em sua casa, na capital peruana, Lima
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O candidato nacionalista Ollanta Humala participa do Fórum Liberdade de Expressão em Lima. HUmala defendeu ao lado da adversária no segundo turno, Keiko Fujimori, o respeito pela liberdade de imprensa, se motrando contrário a qualquer tipo de controle de conteúdos
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A candidata de direita Keiko Fujimori assiste ao Fórum Liberdade de Expressão em Lima. Keiko e o adversário no segundo turno, Ollanta Humala, defenderam o respeito pela liberdade de imprensa sem controle de qualquer tipo de conteúdo
Foto: EFE
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Candidato à presidência do Peru Ollanta Humala corre ao lado correligionários durante atividade de sua campanha eleitoral, em Lima
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Em busca de votos das camadas populares, candidato Ollanta Humala discursa na periferia de Lima
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Oponente de Ollanta Humala, a conservadora Keiko Fujimori participa de comício com mototaxistas, no distrito de Villa El Salvador, em Lima
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Sobre motocileta personalizada, Keiko Fujimori busca votos com mototaxitas e moradores de comunidade de Lima
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O candidato Ollanta HUmala estica as pernas enquanto aguarda por embarque em viagem de campanha, no aeroporto Jorge Chavez, em Lima
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A adversária de Humala no segundo turno, Keiko Fujimori, saúda participantes em passeata de campanha em Ancon
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Com "chuva" de confetes, Keiko Fujimori sorri durante supercomício do partido Fuerza 2011, em Lima
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Keiko acena para multidão no último comício se sua campanha, em Lima
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Milhares de peruanos ovacionam Keiko Fujimori, na reta final da campanha do 2º turno marcada por indefinição sobre quem é favorito
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No último dia de campanha, Ollanta Humala se destrai com celular antes de avião partir de Lima para Cusco. Mais cedo, o peruano havia realizado um supercomício com milhares de pessoas na capital do país
Foto: AP
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Ollanta Humala chega a emissora de rádio para conceder entrevista coletiva, em Lima. Peruano tenta afastar comparações com Hugo Chávez
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Humala cumprimenta jornalistas em entrevista coletiva na qual ele assegurou não ter recebido recursos de Hugo Chávez. Peruano adota discurso moderado, comparado ao de Lula no Brasil
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Funcionária prepara local de votação em colégio de Lima, que irá receber milhares de eleitores
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Conservadora Keiko Fujimori vota em colégio de Lima, já com a perspectiva de derrota apertada indicada por pesquisas
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Antes de votar, Ollanta Humala decidiu praticar uma corrida matinal e dificultou a vida de repórteres, em Lima
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Com o clássico "V" da vitória, Ollanta Humala vota na capital peruana na sua segunda eleição presidencial
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Peruanos são fotografados durante votação na Espanha. Segundo especialistas, votos estrangeiros foram decisivos no pleito
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Quase 20 milhões de peruanos foram convocados para escolher o sucessor de Alan García
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Apoiadores em Lima gritam lemas como "Sim é possível", e "Ollanta presidente"
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No local da campanha do candidato nacionalista, sua equipe de assessores já começou a comemorar a previsível vitória
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Após a divulgação das pesquisas, houve muita comemoração no hotel de Lima onde está o comando da campanha de Humala
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Pesquisas apontam mais de 5% de vantagem de Humala sobre Keiko Fujimori
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Pesquisas que apontam a vitória do candidato Humala animaram apoiadores
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Apoiadores de Humala comemoram resultado das pesquisas de boca de urna
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Keiko Fujimori concede entrevista coletiva após ser informada sobre pesquisas que indicavam sua derrota
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Ao lado da esposa, Ollanta Humalla vibra ao ser ovacionado por multidão no comício da vitória, em Lima. Com uma vantagem apertada, o líder da esquerda peruana se tornou o novo presidente do país
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Seis horas após o fechamento dos colégios eleitorais resultado é definido: com 84,4% das urnas apuradas, números indicaram 50,7% dos votos para Humala contra 49,29% de Keiko Fujimori
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Em discurso, Humala se mostra conciliador no discurso da vitória, diante de milhares de partidários reunidos na praça Três de Maio, em Lima
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Keiko Fujimori concede entrevista coletiva para reconhecer oficialmente derrota nas eleições peruanas
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Ao admitir a derrota, Keiko assegurou que é o momento de "iniciar o diálogo" para que "o país não se detenha"