Sarkozy discute Líbia, moedas e questão nuclear na China
A França e a China deixaram às claras nesta quarta-feira, em Pequim, as divergências sobre os ataques na Líbia, no início de um giro asiático do presidente francês Nicolas Sarkozy, que o levará na quinta-feira a Nanquim (leste) para um seminário do G20; depois, ao Japão, para uma visita solidária.
O chefe em exercício do G8 e G20, que chegou a Pequim no início da tarde, inaugurou os prédios ainda inacabados da nova embaixada francesa, antes de um encontro com o colega Hu Jintao para uma reunião e depois um jantar no Palácio do Povo.
Diante dos franceses na China, Nicolas Sarkozy não economizou elogios ao descrever "a amizade sem comparação" entre os dois países, após a grave disputa nascida de seu encontro com o Dalai Lama, em 2008. Mas deixou claro que os dois países "não concordam sobre tudo".
A começar pela operação militar internacional liderada pela França e a Grã-Bretanha contra o regime do coronel Muamar Kadhafi, que suscita sérias reservas por parte da China, mesmo que o país tenha aprovado a intervenção com relutância.
Segundo as mídias oficiais chinesas, o presidente Hu afirmou em frente ao convidado que os ataques na Líbia "poderiam violar o espírito original da resolução do Conselho de Segurança (...), se as ações militares levarem infortúnio aos civis inocentes e agravarem a crise humanitária".
Os franceses minimizaram a amplitude dessas divergências, preferindo falar em diplomacia de "nuances" ou de uma "questão um pouco preocupada" de Pequim sobre o assunto. Nicolas Sarkozy ainda tranquilizou seu anfitrião ao destacar que os bombardeios aéreos da coalizão "não fizeram nenhuma vítima civil, pelo que foi informado até o momento".
Os dois dirigentes concordaram sobre a questão nuclear civil, ao se comprometerem em "aprofundar" ainda mais sua cooperação. Sarkozy e Hu decidiram tirar juntos lições da catástrofe de Fukushima no Japão e "trabalhar de mãos dadas" para levar segurança "a um nível de exigência absoluta na Europa e também na China".
Sarkozy ainda mencionou a reforma do sistema monetário internacional, uma das prioridades de seu mandato à frente do G20, tema que deve discutir na quinta-feira durante o seminário de especialistas em Nanquim.
Evidenciando sinais de hesitações em relação ao assunto, a presidência francesa advertiu que nenhuma "decisão" ou "conclusão" sairia do seminário em Naquim. Sobre a delicada questão da desvalorização do iuane chinês, considerada por muitos como uma das causas da instabilidade monetária atual, as autoridades chinesas voltaram a exprimir suas reservas nesta quarta-feira.
Diante de Sarkozy, o governador do Banco Central chinês não se opôs a entrada do iuane na cesta de moedas que constituem os Direitos Especiais de Saque (DES), unidade de conta do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas deixou a questão em aberto, informando, segundo uma fonte francesa, que havia ainda muito "caminho a percorrer".