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Mundo

Público gay encontra seu espaço nas noites de Havana

24 mar 2011 - 06h04
(atualizado às 07h03)
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Em uma cidade sem bares ou discotecas para os homossexuais, a comunidade gay que vive em Havana começa a encontrar seu espaço em alguns centros noturnos estatais que estão desbancando as festas clandestinas.

Embora sejam poucos, esses locais atraíram o público homossexual, cuja melhor opção para se reunir até então eram as festas ilegais, que eram divulgadas pelo boca a boca.

Muito perto da Praça da Revolução, o "Café Cantante Mi Habana" é considerado o paraíso da comunidade gay nos finais de semana e conta com uma programação variada.

Na noite de uma segunda-feira de março, o chão do famoso "Piano Bar Habaneciendo", situado no centro da cidade, treme com cerca de 200 clientes, em sua maioria gays, que dançam ao ritmo de Shakira, enquanto do lado de fora a fila para entrar ainda é grande.

No antigo cabaré "Las Vegas", os homossexuais se reúnem nas noites de quintas-feiras para presenciar um espetáculo conduzido por dois dos travestis mais famosos do país.

O "Las Vegas" funciona como o primeiro - e até agora único - centro noturno que apresenta regularmente shows de drag queens em Havana, com o apoio do Ministério da Cultura de Cuba.

A especialista do Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), Ada Alfonso, disse à Agência Efe que em Cuba "não há lugares gays", mas esse público foi "se apoderando" de outros estabelecimentos.

Segundo ela, o que ocorreu nos últimos meses foi que alguns ambientes caíram nas graças da comunidade gay e não se "espantaram" com a presença de namorados do mesmo sexo.

Ada ressaltou que, historicamente, as casas noturnas que eram frequentadas pelos gays eram as que operavam de forma ilegal, aumentando "a vulnerabilidade social" dos homossexuais.

Sua percepção é que o fenômeno atual está relacionado com a "sensibilidade particular" das administrações desses estabelecimentos e também com o trabalho de educação sexual realizado no país.

O diretor do "Café Cantante Mi Habana" admitiu à Efe que, efetivamente, a popularidade que esse local alcançou entre o público gay forçou "uma mudança de mentalidade de todos os funcionários".

Em grande medida, pode ser que a mudança tenha sido impulsionada pela intensa campanha que o Cenesex liderou nos últimos anos para sensibilizar a opinião pública em relação à diversidade sexual.

Essa instituição, dirigida por Mariela Castro, filha do presidente Raúl Castro, tem entre suas conquistas a celebração do Dia Mundial contra a Homofobia desde 2007, a legalização das operações de mudança de sexo e a apresentação ao Parlamento de um projeto de lei para modificar o Código de Família, com aspectos como a união legal entre casais homossexuais.

Há seis meses, o Cenesex e o Ministério da Cultura assinaram um convênio cultural que abriu o "Las Vegas" para drag queens, em um projeto orientado a todos os públicos.

Membros da comunidade gay da ilha consideram que esses centros noturnos "romperam barreiras" e asseguram que há "normas" implícitas para preservá-los.

Malú Cano, uma ativista pelos direitos dos homossexuais, disse à Efe que, como norma, "aquele que criar problemas não volta a entrar" nesses lugares, porque a comunidade gay não está disposta a perder o terreno ganho.

Juan Manuel, de 44 anos e quem diz ter conhecido todo o circuito ilegal de Havana na busca de diversão, acredita que não se deve exagerar no otimismo, mas admite que há grandes avanços.

Ele disse à Efe que o "reinado" das festas clandestinas perdeu muito terreno e que, se o Governo não censurar o que está ocorrendo nos novos estabelecimentos e admitir que surjam outros, as casas ilegais simplesmente desaparecerão.

"Agora, nestes ambientes novos, não é necessário se esconder nem se assustar com a chegada da Polícia", ressaltou.

Além disso, acrescentou que os funcionários desses estabelecimentos estão encarando tudo "muito bem, apesar de ao seu redor estar ocorrendo algo pouco comum em Cuba: homens dançando com homens".

EFE   
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