PUBLICIDADE

Oriente Médio

Juiz obriga família palestina a compartilhar casa com judeus

15 mar 2011 - 06h02
(atualizado às 07h14)
Compartilhar

A família palestina Hamdala terá que compartilhar sua casa em Jerusalém Oriental com colonos judeus que reivindicam a propriedade do imóvel, após uma decisão judicial que os condena a viver juntos.

Os Hamdala viveram os últimos 59 anos em um edifício do território ocupado de Jerusalém Oriental, no qual dentro de pouco tempo passarão a conviver com seus piores inimigos.

Nos últimos 11 anos, a família gastou boa parte de sua renda em uma verdadeira batalha judicial contra o milionário judeu americano Irving Moskowitz, conhecido por financiar judeus dedicados a colonizar o território palestino.

Na semana passada, uma ordem judicial obrigou a família a esvaziar dois quartos do edifício, nas quais vivem o casal com seu filho de um ano, e concedeu aos colonos o direito de se instalar ali e a usar um dos pátios, onde fica um balanço para a criança e gaiolas com dois pássaros.

O jovem casal já retirou os móveis e quase todas as propriedades da casa, tal como lhes ordenaram as forças de segurança israelenses, que em breve entrarão em sua propriedade escoltando os colonos.

"Não sabemos o que fazer, foram tirando nossa terra pouco a pouco e agora vão se instalar em nossa casa", diz à Agência Efe, angustiada, Fátima Hamdala, quem revela que "os judeus têm todo o poder".

"Não temos outra casa, não temos dinheiro, estamos aqui desde 1952. Somos gente pobre, não temos para onde ir. Eu cresci aqui, brinquei neste jardim com meus pais. Para onde iremos?", questiona ela, quem ressalta que nos últimos dias não fez mais nada a não ser "chorar e rezar na Mesquita de al-Aqsa" para que não os tirem de sua casa.

Ahmad ganha o equivalente a cerca de US$ 850 por mês em um pequeno supermercado e, por isso, não tem condições de procurar outra moradia.

Segundo Fátima, o jardim que rodeia a casa na qual ela foi criada era muito maior, mas os colonos conseguiram fazer com que os tribunais lhes dessem direitos sobre a propriedade.

Agora, no que até então pertencia à sua família, se constrói o assentamento judaico de Maale Zeitim, com apartamentos para uma centena de israelenses.

"Tudo isto era um campo de oliveiras que nos pertencia, e eles o pegaram e construíram esse edifício para que pudessem viver ali", diz Fátima, apontando para o enorme edifício enfeitado com bandeiras de Israel.

"Agora querem tirar nossa casa para continuar construindo", afirma Fátima, quem assegura que sua desgraça tem origem na falta de documentos oficiais, já que "todos os papéis e escrituras foram queimados na guerra de 1967 (Guerra dos Seis Dias)".

A família afirma que a convivência com os colonos é "muito difícil".

"Os filhos dos colonos brincam no pátio e nos ameaçam e insultam sempre que nos veem", diz Fátima, quem acrescenta que "agora vai ser horrível.

"Vamos ter o jardim cheio de soldados armados", declarou.

No entanto, assegura que eles lutarão até o fim para conservar seu lar: "A única solução é ficarmos aqui. Esta é minha terra, é a terra do meu pai e são as casas de nossos pais. Não posso sair daqui", diz.

O advogado da família, o israelense Shlomo Leker, explica que "não há dúvida de que os Hamdala são os proprietários da casa", mas afirma que os tribunais determinaram que "a terra sobre a qual está construída é legalmente propriedade de Moskowitz, o patrono dos colonos".

No entanto, considera que "o que deve reger é a decisão judicial de 2005 que estabelece que a família Hamdala pode viver em sua casa por tempo ilimitado".

Segundo ele, a nova decisão da administração judicial "deixa claro qual é a resposta dos tribunais quando um dos nomes é Moskowitz e o outro Hamdala".

EFE   
Compartilhar
Publicidade