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Estados Unidos

Especialistas: Era Mubarak acabou e transição cabe ao exército

10 fev 2011 - 20h45
(atualizado às 20h51)
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Eduardo Graça
Direto de nova York

O não-evento que tomou conta do dia, a decisão do presidente egípcio Hosni Mubarak de apenas transferir poder para o vice-preidente, Osmar Suleiman, outro nome forte das Forças Armadas egípcias, surpreendeu o presidente de um dos "think-tanks" mais importantes de Washington, Richard N.Haas, assessor especial do primeiro presidente Bush.

Egípcios gritam de indignação após o anúncio de que Mubarak fica na presidência até setembro
Egípcios gritam de indignação após o anúncio de que Mubarak fica na presidência até setembro
Foto: AP

"Honestamente, quando convocamos esta conferência de imprensa, pensamos que as notícias seriam outras", disse, em teleconferência realizada na sede do Council on Foreign Relations (CFR), em Washington. A seu lado, Steven A. Cook, que dirigiu a grupo especial do CFR voltado para a reforma do mundo árabe, autor de Ruling But Not Governing: The Military and Political Development in Egypt, Algeria, and Turkey e esteve em Cairo na primeira semana da revolta popular contra a ditadura militar estabelecida em 1952 no país mais populoso do mundo árabe, também esperava pela renúncia de Mubarak, no poder há 30 anos.

"A questão agora é como os militantes vão reagir. Mubarak tomou um pequeno passo, transferindo o poder para o vice, propondo possíveis emendas na Constituição. Ele caiu para o lado, não para baixo, como o povo esperava. Não houve evento histórico. Suleiman pediu para o povo voltar para casa, mas há a possibilidade de que os protestos aumentem e acabem gerando mais violência", diz Cook.

O anúncio de que Mubarak não deixaria o poder, feito pelo próprio líder em um pronunciamento na TV, em rede nacional, contrariando informações vindas de fontes do próprio governo, surpreendeu os milhares de protestantes que, na praça Tahrir, no centro de Cairo, e em várias cidades egípcias, contavam com a queda do regime na noite de hoje.

Cook lembrou que suas fontes no Egito estavam celebrando nas ruas "há menos de uma hora" e agora já estavam no twitter convocando a população a levar os protestos para à frente do Palácio Governamental, guardado pela Guarda Presidencial, o grupo de elite do Exército. "Os episódios de hoje mostram que os militares mantém sua lealdadea a Mubarak e Suleiman. Os rumores de golpe de estado não procederam. Os militares claramente mostraram que não estão neutros, estão interessados em manter o governo nas mãos dos fundadores do regime", disse.

Um dos principais indicadores da saída de Mubarak havia sido a manifestação do Conselho Supremo das Forças Armadas de que assegurariam os "direitos do povo egípcio". Até o momento em que esta reportagem estava sendo conduzida, os alto-comandantes do Exército egípcio seguiam em reunião extraordinária tratando da situação extraordinária gerada pela cessão de poder ao vice-presidente que, em sua primeira declaração pública, pediu ao povo que voltasse para casa imediatamente. A Constituição egípcia prevê que Mubarak só poderia passar o poder para o líder da maioria no Congresso. Mas setores importantes do partido governista já pedem a saída de Mubarak e uma transição pacífica para um governo nas mãos dos civis.

O presidente Barack Obama convocou reunião de seu Conselho Nacional de Segurança logo após as declarações de Mubarak. Uma das frases mais fortes do discurso do presidente egípcio foi o de que ele não irá se submeter "a pressões internacionais". Haas e Cook divergem no que diz respeito ao papel de Washington na crise egípcia. "A adminsitração está correta ao agir de forma cautelosa, o importante é assegurar uma transição seja gradual, como Obama frisou hoje. Não podemos cortar nossos laços com as Forças Armadas egípcias. Devemos seguir a política de dar conselhos aos líderes do regime. Os EUA não estão, hoje, em posição de dar ultimatos, de dizer a Cairo o que eles devem fazer", disse Haas.

Cook diminui a importância da "carta da interferência estrangeira" jogada por Mubarak no discurso de hoje. "A mensagem de intervenção estrangeira não ecoa na praça Tahrir. Dizer que jornalistas são agentes estrangeiros, muito menos. O foco dos militantes é interno, é uma mensagem contra um governo brutal que precisa acabar", frisou. Haas acredita ser um jogo perigoso entrar na discussão se os EUA estão ou não "do lado certo da História" e, assim como Cook, aposta que cabe agora ao Exército assumir uma posição mais clara sobre se Suleiman e Mubarak seguirão no poder, comandando a transição para um governo civil.

"Se estivesse dando conselhos para este governo democrata, diria que é a hora de falar em um processo de reformas, com civis em posição de autoridade, mas com a participação ativa do Exército. Algo é claro: eles ficando uma semana, ou até setembro no poder, como o presidente prometeu em seu discurso, a Era Mubarak acabou. Mais do que o desapontamento ou frustração do dia, o que importa é a mudança política que virá. O Exército corre riscos ao assegurar a permanência de Mubarack e ter de manter a segurança pública. Mas, ao mesmo tempo, eles são fundamentais para o próximo momento, que já começou, o de reorganização da sociedade. Seria terrível se eles não participarem decididamente da transição para um governo civil", disse Haas.

Fonte: Especial para Terra
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