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Mundo

Protesto contra presidente reúne 1 milhão de pessoas no Egito

1 fev 2011 - 13h42
(atualizado às 14h08)
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Pelo menos 1 milhão de pessoas saíram às ruas do Egito nesta terça-feira, em cenas nunca vistas antes na história moderna do país, exigindo em uníssono a renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, e de seu novo governo.

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Mais de 200 mil egípcios se concentraram na praça Tahrir, no centro do Cairo, e 20 mil saíram em passeata na cidade de Suez, no leste do país.

Há manifestações em Alexandria, na costa norte, Ismailia e cidades no delta do Nilo, como Tanta, Mansoura e Mahalla el-Kubra. Em todo o Egito, o número de manifestantes chegou ao 1 milhão esperado pelos organizadores, segundo estimativas da Reuters.

Os manifestantes se sentem mais confiantes depois de o Exército ter prometido, na véspera, que não iria abrir fogo contra manifestantes pacíficos. Analistas dizem que o destino de Mubarak agora está nas mãos dos militares, no que pode ser a maior reviravolta política no país desde que o Exército depôs o rei Fahrouk, em 1952.

"Mubarak, vá para a Arábia Saudita ou o Bahrein", "Não te queremos, não te queremos", gritavam homens, mulheres e crianças na multidão que começou a se formar nas primeiras horas do dia. "Revolução, revolução até a vitória", entoavam alguns.

As cenas na praça Tahrir (Libertação) contrastam com as imagens de sexta-feira, quando a polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e jatos de água contra os manifestantes.

Há rumores de que os manifestantes irão em passeata até o palácio presidencial, mas até o meio dia a multidão não havia se movido da praça, e muita gente continuava chegando.

Inicialmente desorganizado, os protestos contra Mubarak estão gradualmente se consolidando em um movimento reformista que abrange muitos setores da sociedade egípcia. Jovens e desempregados se misturam a membros do grupo islâmico Irmandade Muçulmana; pobres urbanos dão as mãos em solidariedade com médicos e professores.

"Estamos pedindo a derrubada do regime. Temos uma meta, que é retirar Hosni, nada mais. Nossos políticos precisam intervir e formar coalizões e comitês para propor um novo governo", disse o engenheiro de computação Ahmed Abdelmoneim, 25 anos.

Fotos de Mubarak, que a exemplo de todos os seus antecessores foi um oficial militar de alta patente, eram penduradas nos semáforos, simulando um enforcamento.

Mubarak não se manifesta ao país desde sexta-feira, quando demitiu seu gabinete. Na segunda-feira, o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman anunciou uma proposta de diálogo com todas as forças políticas. O fato animou ainda mais os manifestantes.

"A revolução não vai aceitar Omar Suleiman, nem por um período de transição. Queremos um novo líder democrática", disse Mohamed Saber, membro da Irmandade Muçulmana.

"Somos muito pacientes, podemos ficar aqui por muito tempo... Nos últimos 30 anos este regime tirou o pior de nós. Agora todos estão se manifestando. Antes, todos eram negativos e passivos", disse o funcionário público Mahmoud Ali, 42 anos.

Mas não está claro o que virá depois de Mubarak caso ele renuncie. A oposição egípcia se fragmentou e enfraqueceu sob o atual regime. A Irmandade Muçulmana, embora oficialmente ilegal, tem a maior penetração popular, com seus projetos sociais e de saúde. O grupo diz defender um Estado islâmico pluralista e democrático.

"Nosso país tem muita gente capaz de ser presidente", disse o advogado Essam Kamel, 48 anos, que no entanto rejeitou a figura do Nobel da Paz Mohamed El Baradei, que se ofereceu para comandar o país interinamente. Mas Kameol acrescentou: "Somos muçulmanos, mas não desejamos um governo islâmico."

Protestos convulsionam o Egito

A onda de protestos contra o presidente Hosni Mubarak, iniciados em 25 de janeiro, tomou nova dimensão no dia 29. O governo havia tentado impedir a mobilização cortando a internet, mas a medida não surtiu efeito. O líder então enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher - ignorado pela população - e disse que não renunciaria. Além disso, defendeu a repressão e anunciou um novo governo, que buscaria "reformas democráticas". A declaração foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da política antimotins. A emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição segue se articulando em direção a um possível novo governo para o país. Em um dos momentos mais marcantes desde o início dos protestos, ElBaradei discursou na praça Tahrir e garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na segunda-feira, o principal grupo opositor, os Irmãos Muçulmanos, disse que não vão dialogar com o novo governo. Depois de um domingo sem enfrentamentos, os organizadores dos protestos convocaram uma enorme mobilização para a terça, dia 1º de fevereiro. Uma semana após o início dos protestos, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse que informações não confirmadas sugerem que até 300 pessoas podem ter morrido e que há mais de 3 mil feridos do país.



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