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"Eles não deixam ninguém caminhar nas ruas", diz egípcia

27 jan 2011 - 17h50
(atualizado em 28/1/2011 às 22h15)
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Tariq Saleh
Direto de Beirute, no Líbano

Desde que as manifestações exigindo a derrubada do governo do presidente egípcio Hosni Mubarak começaram, no dia 25 de janeiro, o governo do Egito usa seu aparato de segurança para reprimir os protestos. Por telefone via internet, testemunhas falaram ao Terra que serviços de inteligência e a polícia estão nas ruas da capital Cairo prendendo e intimidando pessoas.

Policiais egípcios prendem Mohamed Abdul Quddus, relator da Comissão das Liberdades Cívicas e membro do conselho do Sindicato de Imprensa, do lado de fora do sindicato de jornalistas no centro do Cairo
Policiais egípcios prendem Mohamed Abdul Quddus, relator da Comissão das Liberdades Cívicas e membro do conselho do Sindicato de Imprensa, do lado de fora do sindicato de jornalistas no centro do Cairo
Foto: AP

"É uma loucura, eles (policiais) não deixam ninguém caminhar nas ruas sem destino", disse a egípcia Nedine M., que teve seu sobrenome omitido por razões de segurança.

Ela contou que passava por uma das ruas próximas à praça Tahrir, onde acontecem as maiores manifestações, quando policiais chegaram e começaram a mandar as pessoas embora. "Eles foram rápidos. Se a pessoa não está indo para um local que não seja os protestos, eles prendem ou mandam embora", completou ela.

A polícia entrou em choque com os manifestantes em duas grandes cidades do Egito na última quarta-feira. No centro do Cairo, as forças de segurança agrediram pessoas com bastões, enquanto a polícia entrava em confronto com manifestantes na cidade de Suez, no leste do país.

As autoridades disseram que ao menos 500 pessoas foram presas desde que o Ministério do Interior advertiu que aglomerações públicas não seriam mais toleradas e que processaria qualquer pessoa participando dos protestos.

"Quando vi as tropas da polícia de choque, eu saí correndo. Mas vi vários jovens enfrentando os policiais para chegarem no local dos protestos", falou Nedine.

Violência policial
Segundo Mohammed D., os policiais agem com brutalidade e reprimem até pessoas que não tinham nada a ver com as manifestações. "Eu vi quando dois policiais com bastões começaram agredir uma mulher que só tentava chegar a um local para ver o filho", disse.

"Ela não foi presa porque os policiais se deram conta de que ela não estava fazendo parte dos protestos", contou Mohammed, que participou das manifestações da última terça-feira.

O primeiro-ministro Ahmed Nazif defendeu as ações das forças policiais e disse que estava comprometido com "a liberdade de expressão por meios legítimos". "A polícia agiu de forma correta e moderação", disse ele em um comunicado às agências de notícias.

Relatos dão conta de que a polícia vem usando também gás lacromogênio para dispersar os protestos, mas que encontrou resistências de manifestantes, que atiraram pedras de prédios nas redondezas.

O levante no Egito foi inspirado nas manifestações de um mês na Tunísia, onde o presidente do país ocupava o poder há 23 anos e foi obrigado a renunciar após um mês de protestos populares.

Medo nas ruas
Mohammed também revelou que há um medo nas ruas de alguns bairros próximos ao centro da capital, onde carros tentam evitar a concentração de jovens."Pessoas evitam os locais perto das manifestações para não serem pegas de surpresa".

Outra egípcia, Sula H., disse que o comércio funcionava normalmente e não havia sinais de racionamento. "Tudo funciona normal, mas há medo e receio nas ruas. A polícia seguidamente para pessoas e as questiona", falou ela, que também participou dos protestos. "São trinta anos vendo esse ditador no poder. Quero ver ele partir juntamente com sua turma".

O Egito está oficialmente em estado de emergência desde 1981 e protestos são considerados ilegais no país. O governo tolera pequenas dissidências, e manifestações da oposição são em geral banidas. Mubarak está no poder há 30 anos e especula-se que seu filho, Gamal, deverá ser indicado pelo partido governista para sua sucessão.

Fonte: Especial para Terra
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