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Ásia

Karzai critica Ocidente em inauguração do Parlamento

26 jan 2011 - 12h22
(atualizado às 13h00)
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O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, que nesta quarta-feira se viu forçado pelos deputados a inaugurar a primeira sessão do Parlamento, pediu o fim da "ingerência estrangeira" nos processos eleitorais afegãos.

O presidente afegão Hamid Karzai inspeciona os guardas de honra antes da inauguração do Parlamento do Afeganistão em Cabul
O presidente afegão Hamid Karzai inspeciona os guardas de honra antes da inauguração do Parlamento do Afeganistão em Cabul
Foto: Reuters

Karzai, cujo governo esteve à beira de um conflito institucional com o Parlamento quando os deputados ameaçaram transgredir suas ordens e abrir as sessões no último dia 23, centrou suas críticas nesta quarta-feira no Ocidente e pediu aos legisladores afegãos que deixem as "diferenças" de lado.

"É natural que haja concorrência durante as eleições, mas quando acaba a disputa, começa a união nacional", declarou o presidente na cerimônia de abertura do novo plenário, transmitida pela emissora de televisão pública.

Karzai havia decidido na semana passada adiar por um mês a primeira sessão do Parlamento eleito nas legislativas de setembro de 2010, algo que deixou os deputados insatisfeitos. Após pressionarem o presidente, conseguiram com que a Câmara fosse aberta nesta quarta-feira.

A intenção do presidente era dar tempo a uma corte especial criada para investigar os resultados das eleições, as quais resultaram desfavoráveis para Karzai em matéria de número de cadeiras.

O presidente estabeleceu com os legisladores um compromisso por escrito, enviado ao Tribunal Supremo, para que aceitem as resoluções desta corte em troca da abertura imediata das sessões.

Tanto os Estados Unidos como a missão da ONU no Afeganistão (Unama) exerceram pressão para que o Parlamento fosse constituído o mais rápido possível.

Karzai, que foi enfrentado pelos deputados, preferiu nesta quarta-feira centrar suas críticas na "ingerência estrangeira" e fazer um apelo pela unidade dos legisladores.

"Sem dúvida, a 'afeganistanização' de nossas eleições seria muito mais barata, muito mais transparente e boa para a democracia em nosso país", disse.

"Segundo a ONU, foram gastos US$ 140 milhões em nossas eleições parlamentares. Um dos países mais pobres do mundo teve as eleições mais caras... Temos que pôr fim às ingerências estrangeiras", insistiu.

Ao todo, 25% dos 5,6 milhões de votos das eleições foram cancelados depois de uma fraude ter sido detectada pelos órgãos eleitorais, mas a baixa participação no sul prejudicou candidatos próximos a Karzai.

"Nossas últimas eleições parlamentares estiveram acompanhadas por uma crise de legitimidade, confusões e interferências", admitiu o presidente.

"A pergunta aqui é: que poderes querem levar o nosso jovem sistema em direção à crise de legitimidade e a enfrentar os três pilares de nosso governo?", questionou.

Karzai já havia acusado nesta terça-feira "elementos estrangeiros" de terem instigado a polêmica sobre as consequências de atrasar o início das sessões e esperar que a corte especial examinasse alguns resultados.

"Não tenho medo de nenhum tribunal especial. É preciso deixar o sistema trabalhar", disse nesta quarta-feira à agência EFE a deputada Shukria Barakzai, próxima ao presidente.

Cada vez mais isolado, Karzai foi um alvo frequente das críticas das potências estrangeiras, sobretudo após a chegada de Barack Obama à Casa Branca, e acusou o Ocidente como responsável pelos males de seu país em várias ocasiões.

"Que o presidente Karzai inaugure o Parlamento é uma boa notícia que chega do Afeganistão", avaliou um porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley, em mensagem de seu perfil no Twitter.

"Graças à separação dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, o caso vai na direção correta", afirmou em declarações à imprensa o chefe da Unama, Staffan de Mistura, cujo órgão foi bastante crítico com as ações de Karzai.

Os talibãs, através de um porta-voz identificado como Zabiulá Mujahid, minimizaram a importância da inauguração da Câmara.

"Todos estes parlamentares são escolhidos a dedo pelos EUA, portanto este Parlamento é também parte desta marionete de governo", afirmou Mujahid, segundo a agência de notícias AIP.

EFE   
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