Manifestantes que pedem dissolução de partido de Ben Ali são atacados
O exército e a polícia tunisiana reagiram contra uma manifestação de cerca de mil pessoas no centro de Túnis que reivindicavam a dissolução do Reagrupamento Constitucional Democrático (RCD), o partido do presidente foragido, Zine el Abidine Ben Ali, que continua no poder.
As forças de segurança lançaram fumaça e usaram canhões de água contra os manifestantes, além de efetuarem disparos para o ar para dissolver o protesto, que percorria a Avenida Habib Burguiba, no centro da capital, segundo a agência EFE constatou.
O RCD é o partido onipresente há décadas no país, que ainda ocupa todos os níveis do poder nas administrações central, estaduais e municipais.
Os manifestantes gritavam palavras de ordem como "Abaixo o RCD" e "Fora o partido da ditadura" e tentavam se dirigir à sede central da legenda situada perto da Avenida Burguiba, mas não conseguiram avançar mais do que umas centenas de metros, até que as forças de segurança investiram contra eles.
O sindicato da União Geral de Trabalhadores Tunisianos (UGTT) alertou os cidadãos na manhã desta segunda-feira para que não participem de manifestações diante do perigo de que sejam aproveitadas pelos partidários de Ben Ali para criar incidentes violentos e fomentar o caos.
Durante a noite deste domingo ainda foi possível escutar tiros e rajadas de metralhadora em vários bairros da capital pelos confrontos entre as forças de segurança e membros da Guarda Presidencial do antigo presidente e milícias do RCD que tentam desestabilizar o país.
Habitantes de vários distritos relataram à rede de televisão estatal terem visto pessoas em veículos 4x4 pretos, em motocicletas e até a pé disparando indiscriminadamente inclusive contra residências particulares com a única intenção de semear o caos.
Também se fala da presença de franco-atiradores em várias partes da cidade e, por isso, especialmente durante o toque de recolher, ninguém se atreve a chegar às janelas.
Enquanto isso, a população espera com impaciência nesta segunda-feira o anúncio do novo governo do país, marcado para as 15h do horário local (12h de Brasília), no qual a rádio estatal estimou que estarão presentes pelo menos todos os líderes dos três partidos de oposição legal.
Tunísia enfrenta crise social e política
Desde as duas últimas semanas, a Tunísia vive uma tensão deflagrada nas ruas. Jovens e estudantes iniciaram protestos contra os altos índices de desemprego e falta de liberdade política, na maior onda de manifestações em décadas.
Em meio a pedidos de calma à população, o governo de Ben Ali anunciou o fechamento de universades e escolas. O exército também saiu às ruas para frear as manifestações, gerando confrontos com os manifestantes nos quais dezenas de pessoas acabaram mortas.
Críticos acusam o governo de corrupção e de usar a ameaça de grupos islâmicos e a necessidade de atrair investimentos estrangeiros como pretexto para manter políticas domésticas repressivas e violar os direitos civis básicos da população.
A crise social ganhou um novo episódio quando, na última sexta-feira, o presidente Ben Ali abandonou o país, passando o controle do país para o Exército e o comando interino do governo para o primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi.