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América Latina

ONU encara dúvidas sobre papel no Haiti 1 ano após terremoto

11 jan 2011 - 22h13
(atualizado às 23h12)
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No primeiro aniversário do terremoto que devastou o Haiti, a ONU se vê às voltas com dúvidas da população sobre sua eficácia na reconstrução do país e uma crescente hostilidade à presença de suas tropas na nação caribenha. "O governo haitiano, os doadores e as Nações Unidas têm uma responsabilidade compartilhada de explicar à população por que a reconstrução não foi mais rápida. É preciso identificar problemas e fazer correções", disse Farid Zarif, chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU para América Latina e Europa.

Junto às autoridades locais, a ONU é um dos principais alvos do descontentamento pelo lento progresso da reconstrução do país após o violento tremor de 12 de janeiro de 2010 e suas réplicas, que juntos causaram a morte de mais de 200 mil pessoas e deixaram sem lar outras 1,5 milhão, segundo números da própria organização, que também sofreu um duro golpe, ao perder 101 de seus membros no desastre.

Desde então, a ONU liderou os esforços para reconstruir o Haiti e, por exemplo, através do Programa Mundial de Alimentos (PMA), chegou a auxiliar 4 milhões de pessoas nas semanas posteriores ao desastre. Um ano depois, ainda alimenta 2 milhões e proporciona 80 mil postos de trabalho. Além disso, impulsionou em Nova York uma conferência de doadores na qual foram prometidos US$ 10 bilhões para a reconstrução, e nomeou como enviado especial a esse país o ex-presidente americano Bill Clinton, que copreside a comissão encarregada de administrar as doações.

No entanto, 12 meses depois, mais de um milhão de pessoas ainda vivem em condições precárias em acampamentos improvisados em uma Porto Príncipe em ruínas, enquanto dos US$ 2,1 bilhões comprometidos para 2010, até novembro só haviam sido desembolsados dois terços, segundo a ONU. Clinton reconheceu em sua recente visita ao Haiti que compreende a frustração dos haitianos com a lentidão das melhoras, embora lhes tenha assegurado que "verão uma grande aceleração" em 2011, e que centenas de milhares de desabrigados poderão se mudar a lares permanentes.

"Sabemos agora que eram exageradas", afirmou Zarif sobre as expectativas do ritmo de reconstrução um ano depois da tragédia. "O Haiti sofre com uma sucessão de crises que parece interminável, e que deixa grande parte da população em condições cada vez mais desesperadas", disse o especialista, que ressaltou que ao descumprimento das expectativas se somaram fatos como a epidemia de cólera, que agravou ainda mais o desespero.

Quem demonstrou ter a mesma opinião foi o chefe da missão da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Haiti, Stefano Vannini. "Muitos se perguntam sobre o que mudou. Passaram-se 12 meses e a situação continua a mesma", afirmou. Em entrevista por telefone, Vannini disse que os haitianos ainda veem a missão de estabilização da organização no Haiti (Minustah) como "uma força de ocupação", apesar dos "indubitáveis" avanços obtidos desde seu início, em 2004.

A essa percepção se soma o desconforto causado pelas denúncias de irregularidades nas eleições de novembro, realizadas com o apoio da ONU e que foram marcadas por graves distúrbios, com saldo de quatro mortes. As suspeitas de que a epidemia de cólera, que matou cerca de 3,5 mil pessoas desde outubro do ano passado, foi originada em um acampamento de capacetes azuis do Nepal, também não ajuda a melhorar a imagem da organização no país, onde, com violentos protestos, foi exigida a saída do contingente.

A ONU encarregou um grupo independente de especialistas, liderado pelo mexicano Alejandro Cravioto, para averiguar a origem da epidemia. A tudo isso se soma a polêmica cassação, no mês passado, do diplomata brasileiro Ricardo Seitenfus como representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA), após este acusar a ONU em entrevista a um jornal suíço de "impor" a presença de suas tropas em um país que não vive um conflito, e de querer "transformar os haitianos em prisioneiros de sua própria ilha".

Apesar desta complicada situação, e de que a Minustah cogitava deixar o Haiti após as eleições de novembro, a instabilidade política causada pela ausência de resultados oficiais congelou esses planos. Para Vannini, a ONU frequentemente tem que "dar a cara" perante os haitianos devido aos erros de toda a comunidade internacional, embora reconhece que falte "agressividade" à organização para pôr as mãos à obra e superar as dificuldades de trabalhar nas condições extremas nas quais atualmente o país se encontra.

EFE   
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