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Alegria dos eleitores se impõe no plebiscito do sul do Sudão

9 jan 2011 - 10h48
(atualizado às 12h00)
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A alegria mostrada pelo sudanês Plath Piar, de 35 anos, emigrante na Austrália e que retornou a Juba só para votar, ilustra o dia que vive este domingo o sul do Sudão, no início do plebiscito com duração de sete dias para decidir se mantém unidade com o restante do país ou declara sua independência.

Quase quatro milhões de eleitores do Sul do Sudão votarão em um referendo sobre divisão da maior nação da África em dois
Quase quatro milhões de eleitores do Sul do Sudão votarão em um referendo sobre divisão da maior nação da África em dois
Foto: AFP

Desde o momento em que mostrou o título de eleitor até depositar o voto na urna, Piar não conseguiu mais esconder o sorriso estampado em seu rosto, feliz por poder participar deste dia histórico para o sul do Sudão.

"Perdemos muitas vidas para chegar até este dia", disse, após votar em um centro instalado no Mausoléu de John Garang, duas horas após que o fizesse no mesmo lugar o presidente da região autônoma do sul do Sudão, Salva Kiir.

Ao todo, 3,9 milhões de sudaneses desta parte do país estão aptos deste domingo até 15 de janeiro a votar no referendo de autodeterminação. Todos concordam que a separação será a opção escolhida, por isso nascerá uma nova nação.

Os últimos anos de Plath Piar refletem as tragédias vividas no sul do Sudão até a chegada deste dia. Aos 24 anos, quando era estudante em uma província da área limítrofe entre o norte e o sul, o Exército do norte tentou recrutá-lo para lutar contra os rebeldes do sul em uma guerra que se estendeu por duas décadas, matando 2 milhões pessoas. Plath Piar fugiu do país, viveu no Egito quatro anos e depois viajou à Austrália, onde se casou e criou seus cinco filhos.

Há três semanas veio a Juba, a capital do sul do Sudão, para votar e visitar familiares, e na próxima terça-feira retorna à Austrália. O emigrante sudanês, que trouxe uma câmera para que ser fotografado enquanto votava, tem clara qual é sua opção, e só perde seu sorriso quando fala da unidade que propõe o regime do norte, liderado por Omar al-Bashir. "Nós não queremos a unidade. Se tu matas a minha gente e vens aqui matar-me, não somos irmãos, mas inimigos", afirma.

Esta é a primeira vez na vida que Plath Piar vota. É também a primeira ocasião para o pastor protestante Thomas Roguena, de 81 anos, que exiliou-se no Quênia e na Uganda e só retornou ao país quando o acordo de paz foi assinado em 2005.

Apoiado em um bastão e carregando uma pasta de lona com a frase "Vota pela paz", o octogenário sudanês declarou que hoje era "o dia mais feliz" de sua longa vida. "Vamos trabalhar todos juntos, e juntos faremos crescer o Sudão do sul. É um bom lugar para viver", afirmou.

As longas filas de eleitores no Mausoléu de John Garang, a figura mais importante da rebelião do sul, que morreu em um acidente de helicóptero sete meses após assinatura da paz, eram vistas em outros locais da cidade.

A população compareceu às urnas desde o primeiro dia apesar de haver mais seis dias pela frente de votação, ignorando o chamado de Salva Kiir para que os sudaneses tenham paciência e não queiram votar todos neste domingo. Mas ele mesmo não demonstrou muita paciência, porque votou apenas oito minutos depois da abertura dos colégios.

Em uma breve mensagem após depositar seu voto, Salva Kiir, bastão em mão e coberto com costumeiro chapéu preto, homenageou John Garang e a todos os que lutaram em favor da independência do sul do Sudão. "Tomara que não tenham morrido em vão", afirmou.

Neste domingo, em Juba, o povo que fazia fila para votar não falava em outro assunto a não ser liberdade. Até os presos do presídio central da cidade, que disciplinadamente e vigiados pelos carcereiros foram às urnas deixar seus votos em uma mesa instalada no muro externo da prisão.

"Podemos falar de liberdade porque vamos estar em nosso território, e todos nós vamos ser beneficiados, talvez eu não agora, mas sim meus irmãos", disse um dos presos, Peter Tiberio Ibrahim, 26 anos.

Por outro lado, outros, como Santino Ubok, a palavra liberdade não estava em seus comentários, e parecia conformar-se com pouco. "Votei para que as coisas melhorem", disse o recluso.

Santino, de 85 anos, quem está preso "por um erro" que cometeu há 12 anos, ainda com oito anos de condenação a cumprir, provavelmente conhecerá a liberdade que vai existir além dos muros da prisão. Mas isso já o deixa feliz.

Referendo do Sul: passado e futuro em jogo

Neste domingo, 9 de janeiro de 2011, a população da porção sul do Sudão vai às urnas no referendo que vota a autonomia da região. A expectativa geral é de que o 'sim' saia vencedor, resultado que deve levar à secessão do resto do país e a criação de uma nova nação: o Sudão do Sul, com capital em Juba e presidido por Salva Kiir.

O referendo está previsto desde janeiro de 2005, quando foi assinado o Tratado de Naivasha. Também conhecido como Amplo Acordo de Paz, o tratado colocou fim a um conflito de 21 anos travado entre o norte sudanês, predominantemente árabe, e rebeldes do sul, região miscigenada e parcialmente cristã. Durante este período, iniciado em 1983, cerca de dois milhões de pessoas morreram.

Apesar da boa expectativa para a realização do referendo, muito deve ainda acontecer depois dele. O presidente sudanês, Omar al-Bashir, garantiu que aceitará o resultado da votação, mas ainda é incerto o futuro das relações entre norte e sul. Por trás do conflito está a disputa pelo controle da maior riqueza natural do país, uma reserva de milhões de barris de petróleo, localizada justamente na faixa central do Sudão.



EFE   
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