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Ásia

Governador é morto em pleno centro de cidade paquistanesa

4 jan 2011 - 16h09
(atualizado às 16h28)
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O governador da província paquistanesa de Punjab, Salmaan Taseer, alvo do ódio de fundamentalistas islâmicos, foi assassinado nesta terça-feira em Islamabad, local onde nas horas prévias foi palco de uma frenética atividade política pela crise parlamentar da qual o governo está tentando sair imune.

Taseer se encontrava perto de seu carro, estacionado no mercado central de Kohsar, que abriga cafeterias e restaurantes, quando um de seus próprios guarda-costas atirou nove vezes contra ele, às 16h local (9h de Brasília), informou uma fonte policial.

O governador era alvo das críticas dos clérigos fundamentalistas por sua forte oposição à legislação contra blasfêmia no Paquistão e por apoiar a camponesa cristã condenada à morte sob esta norma, Asia Bibi. As emissoras de televisão mostraram imagens do local, com um rastro de sangue ao lado de um carro com marcas de bala.

O ministro de Interior paquistanês, Rehman Malik, confirmou em entrevista à imprensa que o guarda-costas, identificado como Malik Mumtaz Hussain Qadri, pertence às forças de segurança de Punjab e tem 26 anos. "Durante a investigação, determinaremos se (o assassinato) foi uma decisão pessoal ou se alguém o instigou", declarou o ministro.

Fontes policiais citadas pelos canais de televisão Geo e Express indicaram que Qadri, que se entregou após o assassinato à polícia, era membro das forças de elite policial de Rawalpindi, cidade vizinha a Islamabad. Desde a morte da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto em Rawalpindi em dezembro de 2007, não se tinha registrado outro assassinato de uma figura política paquistanesa do primeiro escalão político.

Também militante da legenda governista Partido Popular (PPP) e próximo ao viúvo de Benazir, o presidente Asif Ali Zardari, Taseer tinha tentado interceder no caso de Asia Bibi, condenada à morte por um tribunal distrital por proferir uma suposta blasfêmia contra o profeta islâmico Maomé. Apesar de se mostrar seguro de que Asia receberia o perdão presidencial, o caso percorreu os leitos da Justiça ordinária e se encontra atualmente no Tribunal Superior de Lahore.

Nas manifestações islâmicas que foram convocadas contra a intenção do governo de emendar a lei contra a blasfêmia, foram lançadas proclamas contra Taseer, transformado junto ao ministro de Minorias, Shahbaz Bhatti, na face visível dos protetores das minorias religiosas no Paquistão. O primeiro-ministro, Yousuf Raza Gillani, condenou o atentado, anunciou três dias de luto nacional por sua morte, decretou honras de Estado para o funeral e o cancelamento de todas as cerimônias oficiais.

Taseer era governador de Punjab, um cargo de caráter cerimonial (o poder executivo recai sobre o chefe do governo provincial), mas era uma figura destacada no panorama político paquistanês. O ataque terrorista ocorreu justo quando o líder opositor Nawaz Sharif se dirigia à imprensa em outro ponto de Islamabad para explicar a estratégia de seu partido na atual crise política, que deixou o partido de Taseer, o PPP, sem a maioria absoluta necessária no Parlamento.

Após a reunião da cúpula de sua legenda política - a Liga Muçulmana-N -, Sharif disse que vai esperar 45 dias para ver se há "progresso" nos planos do governo, reivindicando medidas como lutar contra a corrupção e deter a inflação. Caso contrário, Sharif ameaçou se unir às forças da oposição ou inclusive forçar a saída do PPP da província de Punjab, onde está aliado com a Liga-N.

Um porta-voz da Liga-N, Siddiq Farouk, esclareceu em declarações à Agência Efe que o prazo para que o governo responda a seu "ultimato" será ampliado para seis dias devido à morte de Taseer e ressaltou que, de qualquer maneira, seu partido não se unirá ao governo. Preferimos que este Governo do PPP complete seu mandato constitucional de cinco anos, mas se não for possível, não o ajudaremos", resumiu.

O PPP ficou sem a maioria absoluta no Parlamento após a saída do governo de um partido religioso e sobretudo do Muttahida Quami Movement (MQM, que possui 25 cadeiras parlamentares). A legenda governista está tentando cooptar agora o apoio da terceira força política do país, a Liga Muçulmana-Q (50 cadeiras parlamentares), que estava reunida no momento do assassinato do governador, após o qual a atividade política ficou paralisada.

Apesar do caráter simbólico de seu cargo, Taseer era bastante ativo politicamente e intervinha em todas as polêmicas. A última crise política não foi uma exceção. "O apoio do presidente Zardari ao primeiro-ministro mais uma vez silenciou os rumores de cisão da cúpula do PPP. O governo fica até 2013", postou Taseer em sua última mensagem na rede social Twitter.

EFE   
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