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Mundo

KGB, o acrônimo que sobreviveu em Belarus à queda do comunismo

27 dez 2010 - 10h08
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O serviço secreto da KGB, um acrônimo que ainda produz calafrios no mundo todo, sobreviveu à queda do comunismo da antiga União Soviética e resiste ao passar dos anos em Belarus, último bastião da máquina de repressão stalinista.

"O objetivo da KGB é garantir a segurança dos cidadãos, a sociedade e o Estado", assinala o site do Comitê de Segurança do Estado - KGB - bielorrusso ("www.kgb.by").

No entanto, esse órgão é na realidade o braço armado daquele que é chamado de ''último ditador da Europa'', o presidente bielorrusso Aleksandr Lukashenko, que o utiliza para controlar a população e reprimir a dissidência política em seu país.

Em 1993, o então presidente russo, Boris Yeltsin, certificou a extinção da KGB, mas muito antes já tinha desmantelado todas as estruturas de espionagem da antiga União Soviética, ao considerar que a própria existência delas contradizia um Estado democrático.

O ex-chefe da KGB soviética Vladimir Kryuchkov (1988-1991) foi um dos oito membros do Comitê Estatal de Emergência que destituiu o último líder da URSS, Mikhail Gorbachev, no golpe de Estado de agosto de 1991.

Por outro lado, os bielorrussos se negam a renunciar ao legado da KGB, fundada em 1954, mas cujas origens remontam à organização Cheka (sigla para Comissão Extraordinária), precursora, esta criada pelos revolucionários bolcheviques em 1917.

A Cheka foi criada por Felix Dzerzhinsky, nascido em 1877 nos arredores de Minsk, atualmente capital de Belarus. Dzerzhinsky é considerado um herói nacional para muitos bielorrussos e, especialmente, para o líder Lukashenko, um confesso admirador dos modos do ditador soviético Josef Stalin.

"Lukashenko manteve em vigor tanto a economia planificada como a simbologia soviética. Muitos bielorrussos ainda tremem ao ouvir o termo KGB", declara à Agência Efe o bielorrusso Igor Garmash, diretor de um jornal digital independente.

Já o líder opositor Jaroslav Romanchuk, que obteve menos de 2% dos votos nas eleições presidenciais de domingo da semana passada, enfatiza que o Comitê de Segurança do Estado bielorrusso não é tão poderoso como era o soviético, pois concentra menos competências.

"Agora (a KGB bielorrussa) deve compartilhar com outras estruturas e órgãos a defesa da segurança nacional. A KGB é muito poderosa, mas não controla todos os âmbitos da vida pública, como durante a União Soviética", assinalou Romanchuk à Efe no último sábado.

Mesmo assim, a KGB bielorrussa parece onímoda, já que se encarrega de garantir a segurança nacional e defender a integridade territorial do país, desempenha funções de espionagem no exterior e de contraespionagem dentro das fronteiras da Belarus.

Também cabe a ela lutar contra as organizações terroristas, extremistas e qualquer grupo ou indivíduo que ameace a segurança nacional, o que inclui opositores, defensores dos direitos humanos e jornalistas independentes.

O Comitê se subordina diretamente a Lukashenko, quem compartilha voluntariamente o controle sobre suas estruturas com o Conselho de Ministros.

"Lukashenko delega parte de suas funções, mas está ciente de tudo o que ocorre na esfera da segurança nacional", indicou Garmash.

Atualmente, o centro de detenção da KGB em Minsk e outras prisões preventivas acolhem, pelo menos, cinco dos candidatos à Presidência bielorrussa e várias dezenas de opositores, jornalistas e ativistas que participaram dos violentos protestos após as eleições do último dia 19.

Tal como informa a organização de direitos humanos Viasna, cerca de 20 desses detentos enfrentam penas de vários anos de prisão por instigar os distúrbios.

Entre eles figura o candidato Vladimir Neklyayev, que foi brutalmente golpeado no domingo pela Polícia a caminho da prisão em Minsk e, uma vez no hospital, foi sequestrado por agentes de segurança.

Também está nessa lista a jornalista Irina Khalip, esposa do candidato Andrei Sannikov, e a redatora-chefe do site opositor "Charter97.org", Natalia Radina.

Um dos presos, o veterano opositor Anatoli Lebedko, líder da Frente Cívica Unificada, iniciou uma greve de fome para protestar contra sua detenção, já que, quando eclodiram os protestos, ele se encontrava em seu domicílio.

"Ele resiste como pode. Não me deixam vê-lo. O advogado diz que prolongaram por dez dias sua permanência no centro de detenção da KGB. Depois se verá se o processam ou não", assinalou sua esposa à Efe no último sábado.

A Justiça bielorrussa abriu processos segundo o artigo 293 do código penal (organização de distúrbios maciços), acusações que poderiam acarretar aos réus até 15 anos de prisão.

Supostos ''esquadrões da morte'' da KGB e do Ministério do Interior bielorrusso submetidos a Lukashenko são apontados como responsáveis pelo desaparecimento de centenas de opositores, ativistas e jornalistas bielorrussos e de outros países nas duas últimas décadas.

Entre os desaparecidos, segundo as revelações de agentes desertores da KGB, está o antigo ministro do Interior, Yuri Zaharenko; o vice-primeiro-ministro Victor Gonchar; o empresário Anatoli Krasovsky; e o cinegrafista russo Zmitser Zavadski.

EFE   
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