Chanceleres avançam com resolução final e "cláusula democrática"
Os chanceleres ibero-americanos acordaram nesta sexta-feira a resolução final da 20ª Cúpula e uma "cláusula democrática" contra tentativas golpistas horas antes da inauguração da reunião presidencial.
As significativas ausências do chefe do Governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e dos chefes de Estado da Venezuela, Hugo Chávez; da Bolívia, Evo Morales; da Nicarágua, Daniel Ortega, e de Cuba, Raúl Castro, junto ao hondurenho Porfirio Lobo, que não foi convidado, diminuíram o peso da 20ª Cúpula Ibero-Americana.
A maioria dos presidentes que participarão da reunião de Mar del Plata já está na cidade litorânea argentina, onde nas próximas horas a anfitriã, Cristina Kirchner, inaugurará a Cúpula com um jantar de gala.
Os líderes referendarão neste sábado a chamada "Declaração de Mar del Plata", um documento de 57 pontos centrado nas necessidades de promoção educativa em uma região que conta com 15 milhões de crianças não escolarizadas e 8,7% de analfabetos.
Além disso, seu primeiro ponto condena explicitamente a "tentativa de golpe de Estado perpetrado em 30 de setembro no Equador", em referência à sublevação policial desse dia, e "fatos e tentativas similares de subverter o Estado de direito e a ordem legitimamente constituído".
Paralelamente, os ministros aprovaram uma "cláusula democrática" que estabelece mecanismos políticos de resposta perante situações que ameacem a ordem constitucional e o Estado de Direito nos países-membros.
O grau de consenso foi tal que, segundo fontes diplomáticas consultadas pela Agência Efe, a reunião terminou com aplausos e com a aprovação de outras 11 resoluções particulares sobre temas como a soberania das Malvinas e o embargo americano imposto a Cuba.
Além disso, a jornada permitiu a alguns dos chefes de Estado que se encontram em Mar del Plata desdobrar uma intensa atividade diplomática.
É o caso do Rei Juan Carlos I da Espanha que, acompanhado da ministra de Assuntos Exteriores espanhola, Trinidad Jiménez, almoçou com o presidente do México, Felipe Calderón, se reuniu com uma representação da comunidade espanhola em Mar del Plata, e tem previstas reuniões com os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e Argentina, Cristina Kirchner.
A ministra espanhola aproveitou para se reunir, separadamente, com os chanceleres de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, e Paraguai, Héctor Lacognata.
A delegação costarriquenha, liderada pela presidente Laura Chinchila, foi uma das mais ativas para tentar defender seu ponto de vista na disputa territorial que mantém com a Nicarágua sobre a Ilha Calero.
A presidente, que nesta sexta-feira concedeu cerca de 20 entrevistas, pretende envolver vários de seus vizinhos latino-americanos, e Espanha e Portugal, membros da comunidade ibero-americana, na mediação para resolver o conflito.
Em declarações à Agência Efe, Laura reconheceu que seu país "iniciou gestões perante o Conselho de Segurança", ao mesmo tempo em que tenta conseguir a mediação de vários países do continente americano, além de Espanha e Portugal.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, manifestou em Mar del Plata sua esperança de que na reunião ibero-americana ocorra "um avanço informal" rumo à resolução do conflito.
Os chanceleres de Colômbia e Venezuela, María Ángela Holguín e Nicolás Maduro, respectivamente, se reuniram no marco da Cúpula para abordar temas de interesse bilateral após o reatamento das relações diplomáticas em 10 de agosto.
Paralelamente, os chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) tentaram aproximar posições sobre a escolha de um novo secretário-geral após a morte, em 27 de outubro, do ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner.
Até agora, os dois candidatos com maiores possibilidades são a ex-chanceler da Colômbia, María Emma Mejía, e o venezuelano, Alí Rodríguez, atual ministro da Energia Elétrica da Venezuela, embora não haja unanimidade entre os Estados-membros.
Além disso, Mar del Plata serviu de palco para a apresentação de um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que pediu para a América Latina velar por sua classe média, pilar do crescimento econômico da região em tempos de crise.
O relatório previu um crescimento de 4% para os países da região, quase o dobro que a média da expansão dos membros da OCDE.