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Oriente Médio

Ataque em igreja de Bagdá deixa 46 fiéis mortos

1 nov 2010 - 05h00
(atualizado às 14h35)
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A missa em uma igreja em pleno centro de Bagdá terminou em banho de sangue na noite de domingo, quando um grupo de insurgentes da Al-Qaeda invadiu a catedral siríaca católica e matou 46 fiéis, em sua maioria mulheres e crianças. Além disso, sete policiais e cinco insurgentes morreram em uma troca de tiros posterior.

Soldados observam a frente de uma igreja onde o grupo de fiéis foi feito refém no domingo, no centro de Bagdá
Soldados observam a frente de uma igreja onde o grupo de fiéis foi feito refém no domingo, no centro de Bagdá
Foto: Reuters

O ataque, cometido na véspera do Dia de Todos os Santos, foi um dos mais sangrentos contra os cristãos no Iraque e que foi condenado pelo Papa Bento XVI como uma "violência absurda e feroz contra pessoas indefesas". A ação foi reivindicada por um grupo ligado à Al-Qaeda, o Estado Islâmico do Iraque, que também deu um ultimato de 48 horas à igreja copta do Egito para libertar os muçulmanos "detidos em mosteiros" deste país, segundo o Centro Americano de Vigilância de Sites Islamitas (SITE).

"Quarenta e seis reféns morreram, incluindo muitas mulheres e crianças, e 56 ficaram feridos, incluindo 10 mulheres e oito crianças, no ataque da noite de domingo na igreja em Bagdá", afirmou uma fonte do ministério do Interior que pediu anonimato. A invasão também terminou com sete membros das forças de segurança mortos e 15 feridos.

A fonte informou ainda que cinco terroristas morreram e oito suspeitos foram detidos. Mais de 100 pessoas estavam no templo de Saiydat al Najat (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) no momento do ataque.

Segundo o bispo caldeu de Bagdá, Shlimun Wardumi, dois padres da Catedral Sayidat al Najat, localizada no bairro de Karrada, morreram e um terceiro foi ferido a tiros. "Fomos invadidos por um imenso sentimento de tristeza. O que posso dizer? É desumano, nem os animais se comportam assim entre eles", declarou Wardumi à AFP.

A catedral mais parecia um campo de batalha nesta segunda-feira. O chão e as paredes estavam manchados de sangue e com marcas de tiros. Pedaços de cadeiras, bancos virados e quebrados, assim como estilhaços de vidro são vistos em todos os lados.

Para o padre Yusif Thomas Mirkis, diretor da ordem dos dominicanos, a ação foi planejada há muito tempo, como demonstram as armas e munições encontrados na catedral. "É necessário tempo para preparar tudo", disse.

O vigário episcopal dos siríacos católicos, monsenhor Pios Kasha, que visitou o templo devastado, classificou o ocorrido de "verdadeiro massacre". "O que é certo é que todos os membros de minha comunidade vão abandonar o Iraque", declarou.

"Homens vestidos com uniforme militar invadiram a igreja com suas armas e mataram um padre imediatamente. Me refugiei em uma pequena sala onde já estavam quatro pessoas", contou um dos reféns, um jovem de 18 anos que não revelou o nome. "Pouco depois, dois homens armados entraram na sala, atiraram para o alto e para o chão. Três pessoas ficaram feridas e eles nos empurraram para o templo. Depois aconteceu um tiroteio e ouvimos explosões", completou.

Às 21h (16h de Brasília), as forças de segurança iraquianas iniciaram a invasão, apoiadas pelas tropas americanas - que, apesar do fim da missão de combate, em agosto, podem utilizar a força se forem atacadas ou receberem um pedido de ajuda de Bagdá.

"É uma circunstância triste, que confirma a difícil situação dos cristãos que vivem neste país", afirmou à AFP o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

"Rezo pelas vítimas desta violência absurda e feroz que atingiu pessoas indefesas, reunidas na casa de Deus, que é um lugar de amor reconciliação", disse, por sua vez, o Papa, após a bênção do Angelus na Praça de São Pedro. "Expresso minha solidariedade afetuosa à comunidade cristã (iraquiana), de novo afetada", completou. "Diante dos episódios atrozes de violência que continuam desgarrando as populações de Oriente Médio, quero renovar meu chamado à paz", afirmou.

No dia 12 de outubro, durante o sínodo sobre o Oriente Médio no Vaticano, o arcebispo de Kirkuk (norte do país) manifestou preocupação com o "êxodo mortal" dos cristãos do Iraque. Segundo a Igreja, os católicos no Iraque, que representavam 2,89% da população em 1980 (378 mil), representavam 0,94% em 2008 (301 mil).

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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