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Oriente Médio

Analistas: Ahmadinejad no Líbano fortalece Irã e Hezbollah

17 out 2010 - 09h49
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Tariq Saleh
Direto de Beirute

A visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Líbano fortalece a posição do grupo xiita Hezbollah, um forte aliado do Irã, dentro do cenário político libanês e na região, e coloca o Irã em posição para desafiar o isolamento imposto pelos países ocidentais, disseram analistas ouvidos pelo Terra.

Libanses agitam bandeiras do Irã e do Hezbollah durante um comício em honra ao presidente Mahmoud Ahmadinejad
Libanses agitam bandeiras do Irã e do Hezbollah durante um comício em honra ao presidente Mahmoud Ahmadinejad
Foto: AFP

Segundo eles, Irã e Hezbollah ganham força com o apoio mútuo, já que o grupo xiita vem sofrendo uma pressão nos últimos meses por conta do Tribunal Especial da ONU (Nações Unidas), que deve indiciar membros seus pela morte do ex-prêmier libanês Rafik al-Hariri, em 2005.

O Irã, por suas vez, tenta desafiar os Estados Unidos e outros países ocidentais mostrando que tem uma posição de influência no Oriente Médio.

Para Hilal Khashan, professor de Ciência Política da Universidade Americana de Beirute, mesmo o líder iraniano tendo suas próprias razões e interesses, o Hezbollah ganha com a visita de Ahmadinejad por mostrar que tem o total apoio de seu maior patrocinador, uma potência na região.

"Obviamente que Ahmadinejad veio ao Líbano por suas próprias razões, a de enviar duas mensagens, uma para os Estados Unidos e outra para Israel. Mas o Hezbollah mostra a seus adversários políticos no Líbano que segue com a cobertura do Irã, seu forte aliado", disse Khashan.

Para ele, com Síria e Irã declarando seguidamente que permanecem unidos ao Hezbollah, o grupo xiita fica em posição privilegiada dentro do cenário político libanês.

"A Síria ainda exerce seu domínio na política libanesa, e o Irã, indiretamente, mostra que tem grande influência também. O Hezbollah tem o que outros partidos não têm tão explícito, um total apoio de duas potências regionais".

Segundo o general aposentado Elias Hanna, que leciona Ciência Política em várias universidades libanesas, com a visita de Ahmadinejad, o Hezbollah demonstra sua crescente significância regional, que consolidou o fato de que é o mais forte ator político com aumento de seu poderio militart desde a guerra de 2006 com Israel.

"Essa visita está realmente institucionalizando a importância do Hezbollah. O Líbano, e em particular o Hezbollah, representa a mais importante ferramenta para projetar poder, por causa do que o Hezbollah conseguiu nos últimos cinco anos", salientou Hanna.

Em seus discursos para líderes libaneses e em um comício no subúrbio sul da capital Beirute, o presidente iraniano destacou o total apoio ao Hezbollah, cujo líder, Hassan Nasrallah se encontrou com Ahmadinejad a portas fechadas.

"A mensagem dada por Ahmadinejad do tamanho do comprometimento da República Islâmica do Irã com o Hezbollah aos rivais políticos do grupo xiita foi clara", destacou o general libanês.

Segundo ele, com a crise política que se instalou no país por conta do tribunal da ONU sobre o indiciamento de membros do Hezbollah, Ahmadinejad veio ao Líbano para expressar que os aliados do grupo xiita vão defendê-lo a qualquer custo.

"Afinal, acusações contra o Hezbollah só irão danificar a imagem de seus principais patronos, Irã e Síria", completou Hanna.

Mensagem iraniana
Raghid al-Solh, analista político do Centro Issam Fares, em Beirute, disse que a visita de Ahmadinejad ao Líbano é também uma mensagem clara aos EUA e Israel de que o Irã não está isolado, e conta com aliados importantes."A vinda de Ahmadinejad tem mais a ver com o status do Irã, o de consolidar sua cada vez mais crescente importância na região, especialmente nos acontecimentos no Iraque", explicou.

O líder iraniano, de acordo com al-Solh, está usando sua calorosa recepção em Beirute para dizer aos americanos que a tentativa de isolar o Irã e seus líderes está falhando.

Para ele, a ida de Ahmadinejad ao sul do Líbano, na fronteira com Israel, serve como um recado aos israelenses de que o Irã tem forças para atingir a fronteira israelense.

"Por anos, Israel vem ameaçando bombardear o território iraniano por conta de seu controverso programa nuclear. A presença de Ahmadinejad na fronteira é um recado claro de que uma retaliação iraniana viria do Líbano".

Para Hilal Khashan, Ahmadinejad está dizendo a Israel que uma divisão da Guarda Revolucionária está no Líbano, em referência ao Hezbollah. "Há a impressão de que ele está visitando sua frente de guerra. O recado é para que Israel pense duas vezes antes de atacar o Irã", explicou Khashan.

Mas os analistas concordam que a presença do líder iraniano não deve ajudar a resolver as questões internas libanesas, muito menos trazendo resultados práticos no cenário político do país.

"Ele não trará uma resolução para a crise ente o Hezbollah e a base governista em relação ao tribunal e outros assuntos, embora o grupo xiita fique fortalecido", disse al-Solh. "Para o Hezbollah, a visita de Ahmadinejad servirá também para aumentar a confiança de seus seguidores xiitas no Líbano", disse Khashan.

Fonte: Especial para Terra
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