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Oriente Médio

Analistas: sem acordo, ANP pode declarar independência unilateral

20 set 2010 - 10h56
(atualizado às 11h00)
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Tariq Saleh
Direto de Beirute

Caso aconteça um fracasso nas negociações de paz com os israelenses, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) poderá declarar um Estado palestino independente de forma unilateral, mudando o panorama do conflito no Oriente Médio, disseram analistas ouvidos pelo Terra.

Sob a intermediação de Hillary Clinton, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, aperta a mão do presidente palestino, Mahmoud Abbas
Sob a intermediação de Hillary Clinton, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, aperta a mão do presidente palestino, Mahmoud Abbas
Foto: AP

De acordo com eles, as conversas de paz entre palestinos e israelenses, patrocinadas pelos Estados Unidos, devem ruir se o governo de Israel não ceder aos apelos de americanos, europeus, e à exigência do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de prorrogar o congelamento das construções de assentamentos na Cisjordânia.

Segundo o cientista político Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para Oriente Médio em Beirute, há a possibilidade dos palestinos, cansados de décadas de processos de paz sem resultados, declararem um Estado unilateralmente.

"Há essa possibilidade pois os palestinos já vinham declarando insatisfação com várias negociações de paz nas últimas décadas. Há um sentimento favorável entre a população e movimentos políticos para uma declaração unilateral de independência", disse Salem ao Terra.

Salem explicou que há mais de um ano, o primeiro-ministro Salam Fayyad apresentou um projeto de incrementar as instituições palestinas e a economia da Cisjordânia para preparar o terreno para um Estado independente em 24 meses. O projeto recebeu o apoio do chamado Quarteto, composto pelos EUA, União Europeia, Rússia e ONU.

"Em entrevista ao um jornal israelense em abril, Fayyad enfatizou que os palestinos viriam o nascimento de um Estado independente em 2011. Ele deixou a entender que se não houvesse um acordo de paz com Israel, os palestinos tomariam a iniciativa unilateral", falou.

O analista também disse que desde o ano passado, Fayyad se reuniu com diversos líderes europeus e americanos, e que há uma tendência de que a União Europeia e os EUA, assim como a imensa maioria da comunidade internacional, reconheçam o novo Estado palestino.

"Em resultados práticos, o novo Estado não seria tão diferente do atual território, mas seria uma vitória diplomática palestina, pois a ocupação israelense passaria a ter um novo status perante a comunidade internacional - de um Estado ocupando outro Estado".

Os assentamentos ficam em território ocupado por Israel na guerra de 1967, onde os palestinos querem estabelecer seu futuro Estado. Os palestinos consideram os assentamentos judaicos como o principal obstáculo para o estabelecimento de um Estado independente e viável.

Segundo dados das Nações Unidas (ONU), cerca de 300 mil israelenses vivem dispersos entre 2,5 milhões de palestinos na Cisjordânia. Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem estabelecer sua capital, abriga outros 200 mil israelenses.

Além dos assentamentos, o processo de paz enfrenta outras questões como a localização da fronteira entre Israel e o futuro Estado palestino, o destino de refugiados palestinos que viviam nos territórios que hoje ficam dentro de Israel e a própria disputa por Jerusalém.

Abbas sob pressão

Para outro analista, Mahjoob Zweiri, especialista em Oriente Médio da Universidade do Catar, uma declaração unilateral de independência palestina, nos mesmos moldes de Kosovo (que se separou da Sérvia), seria a única solução que restaria ao presidente Abbas, já que ele foi pressionado a participar do novo processo de paz pelos EUA, e sem ter o apoio da maioria das facções políticas palestinas, incluindo o Hamas.

"Se os acordos de paz fracassarem pela relutância de Israel em não congelar as construções de assentamentos. Abbas sofrerá enormes críticas dos partidos políticos palestinos. Restaria somente uma opção - a independência unilateral", explicou Zweiri.

Segundo ele, um fracasso das negociações com os israelenses, daria ao Hamas mais força política, pois o grupo palestino vinha avisando que as negociações não levariam a lugar nenhum.

"Diante de um cenário destes, Abbas e seus aliados colocariam em prática uma espécie de 'solução final', e justificariam que a declaração unilateral foi feita pois não havia outra alternativa".

Além disso, explica Zweiri, pesquisas foram feitas entre a população palestina que se mostrou favorável a uma ação unilateral de independência."Isso mostrou que os palestinos continuam acreditando na solução de dois Estados. O que mudou foi a percepção palestina de como atingir a criação de seu Estado viável e independente".

Israel

Paul Salem enftiza o fato de que uma ação unilateral palestina é o maior temor do governo israelense, que desde o ano passado se reuniu com membros do governo americano pedindo para que os EUA não reconhecessem uma independência unilateral palestina.

O analista explicou que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também se encontra em uma situação difícil. Ele não pode ceder em relação aos assentamentos pois tem ministros de ultradireita em seu governo que são a favor da retomada das construções dos assentamentos após o dia 30 de setembro, quando expira a data do congelamento estabelecido anteriormente. "Mas, ao mesmo tempo, Netanyahu precisa mostrar que pode oferecer algo aos palestinos para evitar uma declaração unilateral de independência palestina, que seria desfavorável a Israel", enfatizou.

Já Zweiri disse que os palestinos ainda preferem uma solução negociada, para evitar uma pressão israelense sobre um novo Estado formado unilateralmente. "Líderes israelenses já vinham alertando os palestinos para não agirem unilateralmente sob o risco de graves consequências. E uma delas seria óbvia, o aumento da ocupação militar que sufocaria este novo Estado", disse Zweiri.

Para ele, a solução ainda passa pela questão dos assentamentos, "um obstáculo que tornaria um Estado palestino inviável"."A carta está nas mãos israelenses para que continuem as negociações", salientou Zweiri.

Fonte: Especial para Terra
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