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Europa

Entrada da extrema-direita marca campanha na Suécia

18 set 2010 - 15h34
(atualizado às 16h32)
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A entrada no Parlamento sueco do partido ultradireitista Democratas da Suécia, prevista por todas as pesquisas, e seu possível papel de "dobradiça" após as eleições marcou a campanha eleitoral sueca.

Após a fugaz passagem da Nova Democracia no começo da década de 1990, que conseguiu uma legislatura no Parlamento, a Suécia tinha ficado à margem do auge da direita xenófoba que afetou vários países europeus, entre eles os vizinhos escandinavos.

Enquanto na Noruega o opositor Partido do Progresso é a segunda força com quase 23%, o Partido Popular Dinamarquês beira os 14%, mas sua influência na política dinamarquesa desde 2001 tem sido enorme, fazendo girar a discussão eleitoral em torno da imigração e assegurando com seus votos a permanência no poder da coalizão de liberais e conservadores.

O Democratas da Suécia ficou nas eleições anteriores gerais de 2006 abaixo dos 3%, apesar de ter obtido ampla representação em municípios do sul do país, mas as pesquisas das últimas semanas o colocam claramente acima da barreira mínima de 4%, e em alguns chega até 7%.

Seu papel na campanha tinha sido discreto, até que o canal privado de televisão, "TV4", decidiu proibir no final de agosto um anúncio eleitoral seu por ser considerado racista, ao considerar que violava a lei por atacar um grupo étnico minoritário, neste caso os muçulmanos.

A notícia foi assumida com normalidade na Suécia, mas não na Dinamarca, onde o Partido Popular Dinamarquês e seus parceiros conservadores e liberais criticaram a "falta de liberdade de expressão" e pediram para enviar observadores eleitorais a um país considerado justamente um dos mais liberais e tolerantes do mundo.

As acusações - compreensíveis só dentro do contexto escandinavo e das diferenças radicais na hora de abordar a imigração em ambos os países - suscitaram uma guerra dos dois lados do estreito do Sund da qual se beneficiou a extrema-direita sueca.

O líder do Partido Popular Dinamarquês, Pia Kjaersgaard, foi há poucos dias a um comício de Democratas da Suécia para mostrar-lhes seu apoio e alertar que Gotemburgo e Estocolmo estão a caminho de ser "Beirutes escandinavas" com guerras de grupos e violações maciças.

Apesar das advertências dinamarquesas, tanto o líder da Aliança de centro-direita, o primeiro-ministro conservador Fredrik Reinfeldt, como a do bloco "rubro-verde", a social-democrata Mona Sahlin, não se moveram, no entanto, um ponto de sua posição de não pactuar com a extrema-direita, que já praticam em nível local, e insinuaram a possibilidade de acordos pontuais entre os blocos.

"Encorajo todos os que gostam da Suécia a não votar para que o Democratas da Suécia entre no Parlamento", disse Reinfeldt, que inteligentemente defendeu que a melhor forma de diminuir a influência da extrema-direita é votar no bloco que tenha mais opções de conseguir maioria absoluta, ou seja, o seu.

Mona foi ainda mais longe advertindo que a Suécia não pode se transformar na nova Dinamarca: "Lá se começou a colaborar com o Partido Popular Dinamarquês, e então a política se afastou muito, muito do que eu penso que é decente", em alusão ao duro tom sobre a imigração da última década no país vizinho.

É o que o popular escritor sueco Jan Guillou chamou recentemente em artigo a "loucura dinamarquesa, onde a liberdade se mede na quantidade de caricaturas de Maomé publicadas e a democracia se mede pelo tamanho dos partidos xenófobos".

Embora a imigração continue sendo um assunto muito residual na campanha eleitoral, o Democratas da Suécia conseguiu a atenção que lhe tinha sido negada, amplificada pelos protestos que grupos de esquerda promoveram contra vários de seus comícios e que lhe permitem assumir o papel de mártir.

Daí que este partido surgido em 1988 em torno de um núcleo neonazista, mas cujos líderes eliminaram os elementos radicais até adotar uma imagem mais aceitável, tomando como referência o Partido Popular Dinamarquês, se veja agora finalmente às portas do sucesso.

"Esta vez é de verdade, esta vez estaremos no Parlamento", disse seu líder, Jimmie Akesson, que relativizou a recusa taxativa da Aliança, assinalando que se não alcançar a maioria absoluta, "virá caminhando, e chegará antes ou depois".

EFE   
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