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Europa

Declaração do Papa sobre pedofilia pode ser insuficiente

17 set 2010 - 14h31
(atualizado às 15h33)
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A declaração feita pelo Papa Bento XVI, que reconheceu na quinta-feira que a Igreja não foi bastante vigilante e rápida na gestão dos escândalos de abusos sexuais de menores, não é suficiente para satisfazer as associações de vítimas, afirmam especialistas no Vaticano. O Papa "é sincero em seu arrependimento, mas isto não bastará para as associações de vítimas de padres pedófilos", avaliou Marco Politi, comentarista do jornal italiano Il Fatto Quotidiano, em entrevista por telefone.

Concorda com ele Andrea Tornielli, vaticanista do jornal Il Giornale e autor do livro "Ataque a Ratzinger": "Estas declarações não serão suficientes, embora o Papa tenha dito coisas importantes". Um comunicado da Rede Internacional de Vítimas de Abusos de Padres (SNAP) parece confirmar esta análise: "É desonesto dizer que a autoridade da Igreja foi lenta e careceu de vigilância. Ao contrário, foi rápida e vigilante, mas para ocultar e não para prevenir estes horrores".

Para Politi, estes grupos "pedem três coisas: clareza sobre o passado, sobre todos os abusos dos anos 80-90, um programa concreto de compensações para as vítimas e que o Papa se reúna com as associações de vítimas e não com as vítimas de sua escolha, como na Austrália, nos Estados Unidos ou em Malta". As declarações feitas pelo Papa durante sua viagem ao Reino Unido traduzem "um reconhecimento pleno e total da responsabilidade dos bispos, e também do Vaticano", disse Andrea Tornielli.

"Esta afirmação não é nova, porque em sua carta aos irlandeses (a raiz da publicação, em novembro, de um relatório que apontava centenas de abusos encobertos pela hierarquia católica) e em suas declarações posteriores, parecia claro para ele que a Igreja tinha alguma responsabilidade", acrescentou. No entanto, a de ontem é "uma síntese muito forte que deveria servir para tranquilizar as associações de vítimas", avaliou.

Por outro lado, as posições do Papa não despertam unanimidade na Igreja, que tem alguns membros que não hesitam em ver na denúncia destes escândalos um complô contra o Vaticano. Durante a última Sexta-feira Santa, o pregador do Vaticano provocou um escândalo ao estabelecer um paralelo entre os ataques contra o Papa sobre a pedofilia e o antissemitismo.

Bento XVI "não se declara vítima de ataques do exterior e assume suas responsabilidades", embora "não creia que a opinião do Papa seja partilhada por toda a Igreja", confirmou Andrea Tornielli. "Durante muito tempo, todo mundo subvalorizou esta situação: foi o cardeal Ratzinger (prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé encarregada deste assunto antes de ser eleito Papa em 2005) que mudou as regras durante o papado de João Paulo II, fazendo vir todos os casos a Roma", observou.

Até então, estes eram exclusivamente competência dos bispos locais, que tendiam a enterrar estes assuntos por medo de escândalo. Agora, cabe ao Papa Ratzinger gerenciar esta crise, a mais grave que a Igreja viveu em anos.

O Pontífice voltou a fazer alusão velada a este delicado tema esta sexta-feira, quando pediu aos responsáveis dos mais de 2,8 mil centros educativos católicos do Reino Unido que garantam "um meio seguro para crianças e jovens", em um ato festivo com jovens em Twickenham, perto de Londres. Deveria voltar a abordá-lo em seu possível encontro com uma dezena de vítimas até sábado à noite, em Londres.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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