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Ásia

Suspeitas de fraude ameaçam eleições parlamentares afegãs

17 set 2010 - 13h08
(atualizado às 13h19)
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A suspeita de fraude, alimentada por denúncias de falsificação de títulos eleitorais e de compra de votos, ameaça o pleito parlamentar do Afeganistão, que será realizado no sábado.

Serão as segundas eleições desde a queda do regime talibã, em 2001.

Estão convocados 11,4 milhões de eleitores para escolher, dentre 2.556 candidatos, os 249 representantes da Wolesi Jirga, a Câmara Baixa afegã.

O número, dado da última atualização da Comissão Eleitoral (IEC, na sigla em inglês), contrasta com os 12,5 milhões anunciados há alguns dias e com os 17 milhões registrados nas eleições presidenciais de agosto de 2009, quando centenas de milhares de cédulas fraudulentas foram invalidadas.

Os temores de fraude novamente prejudicam o pleito e alimentam a expectativa de baixa participação da população, ameaçada pela insegurança que reina no país e pelas intimidações impostas pela insurgência talibã.

Fontes oficiais informaram nesta sexta-feira que pelo menos dez membros de uma equipe de campanha, oito funcionários da IEC e um candidato foram sequestrados ontem à noite em vários pontos do país.

Na terça-feira passada, forças de segurança afegãs, atuando a partir de denúncias, apreenderam 100 mil títulos eleitorais falsos na província de Ghazni, no sudeste do Afeganistão.

A dimensão das tentativas de fraude, no entanto, é impossível de determinar. Um empresário da cidade paquistanesa de Peshawar, contatado pela Agência Efe, assegurou que foram impressas dois milhões de carteiras eleitorais na cidade.

"São os próprios candidatos que enviam sua gente e nos pedem para imprimir (os títulos eleitorais)", assegurou a fonte.

Os aspirantes às cadeiras "têm certeza de que poderão usá-las (as carteiras falsas), porque, se não, não gastariam milhares de dólares nesses materiais", disse à Efe um "intermediário" do esquema.

Segundo ele, cada título falso custa em torno de três dólares.

O porta-voz da IEC, Noor Mohamed Noor, se disse "preocupado" pela falsificação de carteiras, mas ao mesmo tempo duvidou que possam ser usadas amanhã, porque "são de má qualidade e podem ser distinguidas claramente".

Lembrou, além disso, que uma vez depositado o voto, o eleitor fica marcado com uma tinta indelével durante 92 horas, por isso é "difícil que uma pessoa possa votar duas vezes".

"Fizemos todo o possível para prevenir a fraude, mas eu não posso garantir que ocorra nas províncias e também não podemos prever", admitiu, no entanto, o novo chefe da Comissão Eleitoral, Fazal Manawi.

Manawi assumiu o comando do IEC por indicação do presidente afegão, Hamid Karzai, e sofreu forte pressão internacional por causa do papel do seu antecessor na fraude de 2009. Manawi, porém, também reduziu o número de comissários estrangeiros na Comissão de Queixas Eleitorais.

Questionado pela Efe, um porta-voz deste órgão, Zia Refhat, assegurou que se for detectado o uso de títulos falsos a favor de algum candidato, este será eliminado.

Para o chefe da missão da ONU no Afeganistão (Unama), Staffan de Mistura, o pleito "não será perfeito", mas sim melhor que o anterior.

Segundo explicou na terça-feira, foram acrescidos números de série nas urnas eleitorais e o movimento dos materiais para a votação ficou limitado ao mínimo para reduzir as possibilidades de manipulação.

A IEC estabeleceu 6.835 colégios eleitorais, mas 938 deles - localizados em 25 das 34 províncias - não serão abertos por razões de segurança, e seus eleitores poderão votar em algum outro próximo.

A Comissão assegurou que a medida evitará a fraude em zonas de difícil acesso, mas o principal líder opositor, Abdullah Abdullah, denunciou que também foram fechados centros eleitorais em áreas seguras do norte, de maioria tajique e seu celeiro tradicional de voto.

"Muitos observadores não podem ir às províncias", alertou Abdullah, que disse que os policiais e governadores usarão seu poder para ajudar os candidatos próximos a Karzai.

Abdullah diz não ter dúvidas de que essas eleições também não serão limpas e acredita que esteja ocorrendo compra de votos, como denuncia a ex-deputada e ativista afegã Malalai Joya.

Vários candidatos realizaram denúncias anônimas sobre a compra de apoio, e o próprio chefe da IEC afirmou "ter ouvido muitas coisas a respeito", embora diga não existar provas.

Para o analista eleitoral Najeed Manalay, as denúncias de fraude são tantas que "a Comissão Eleitoral deveria ter adiado as eleições".

EFE   
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