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Ásia

Medo de fraude marca eleições parlamentares afegãs

17 set 2010 - 12h03
(atualizado às 12h22)
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Aproximadamente 12,5 milhões de afegãos estão convocados às urnas para as eleições parlamentares afegãs, um processo marcado pelo medo de fraudes, a dispersão do voto e a primazia das lealdades tribais sobre os fatores ideológicos.

O censo eleitoral do pleito coloca pouco mais de 376 mil novos eleitores, mas o número total está muito longe dos 17 milhões registrados para as presidenciais de 2009, marcadas por uma fraude de centenas de milhares de votos.

"Tentamos evitar que os eleitores se registrem mais de uma vez, e levamos em conta os dados da missão da ONU sobre refugiados e os movimentos internos de população", explicou à Agência Efe um porta-voz da Comissão Eleitoral Afegã (IEC).

Segundo a lista definitiva da IEC, 2.556 candidatos concorrerão pelas 249 cadeiras nestas segundas eleições à Câmara Baixa afegã, dos quais 2.150 são homens e 406, mulheres, que contam com um total de 68 assentos reservados.

Após o fiasco do pleito presidencial de 2009, o presidente afegão, Hamid Karzai, destituiu o chefe da Comissão Eleitoral, mas ao mesmo tempo reduziu os estrangeiros presentes na Comissão de Queixas, muito mais firme contra a fraude.

A figura presidencial tem primazia no sistema afegão, mas as eleições acontecem marcadas pela crescente distância entre o Parlamento e Karzai, que procurou por candidatos aliados para conseguir uma Câmara mais dócil.

No Afeganistão, os candidatos concorrem como independentes e não sob listas de partidos, e por isso as legendas se limitam a brindar apoio externo, e os fatores ideológicos ficam em segundo plano.

Também desta vez os analistas coincidem em pensar que o resultado eleitoral ficará marcado pelos complexos tecidos locais e as lealdades familiares, tribais e étnicas.

"As pessoas influentes vão tentar inclinar o resultado a seu favor, o que inclui subornos aos responsáveis eleitorais. O risco de fraude é muito alto", disse à Agência Efe Ghulam Farooq, da Associação de Direitos Humanos do Afeganistão (AHRO).

Em 2005, alguns dos antigos "senhores da guerra" que de um modo ou outro participaram dos conflitos armados do país nas últimas décadas já conseguiram eleger aliados, graças a suas tradicionais redes de poder, ainda intactas.

E para esta ocasião, vários voltaram a participar de uma eleição, embora a Comissão Eleitoral tenha vetado as candidaturas de 36 aspirantes por "vínculos com grupos armados ilegais", além das canceladas por duplicidade, conflitos de interesses ou outros motivos.

"Se não há fraude, os 'senhores da guerra' não têm nenhuma chance. Se a fraude existe, estarão lá de novo, tentando se garantir. Esperamos que a nova geração de afegãos aposte na democracia", disse à EFE Ramazan Bashardost, que já disputou a Presidência e agora concorre a uma vaga no Parlamento.

Ao contrário do processo na capital, Cabul, centro de operações de muitos candidatos em razão da falta de segurança no país, a autoridade eleitoral teve dificuldades para chegar às regiões mais remotas e ao território controlado pelos talibãs.

A IEC tinha estabelecido 6.835 colégios eleitorais, mas já reconheceu que 938 deles não poderão abrir suas portas por razões de segurança e logística, e que o número de centros de voto abertos "poderia se reduzir" ainda mais.

A apuração dos votos já começa amanhã, quando a IEC já pretende anunciar dados preliminares. Os resultados parciais devem ser publicados no dia 9 de outubro, e os definitivos, uma vez conhecidos os pontos da Comissão de Queixas, devem ser divulgados no dia 30 de outubro.

EFE   
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