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Ásia

Afegãos vão às urnas em meio ao processo de paz com talibãs

17 set 2010 - 12h04
(atualizado às 12h30)
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O movimento talibã ameaçou, com seus ataques, acabar com as eleioções parlamentares de amanhã no Afeganistão, a primeira que acontece após o início do incerto processo de diálogo com os insurgentes.

São três os eventos que a ONU tinha considerado cruciais para o progresso do Afeganistão durante 2010: a "jirga" (assembleia) de paz de junho, a Conferência de Cabul de julho e estas eleições para os 249 assentos da Câmara Baixa.

Nos dois primeiros, que serviram para que o presidente Hamid Karzai tentasse recuperar a legitimidade perdida, se buscou o consentimento afegão e internacional ao chamado "plano de reconciliação", que prevê gastar US$ 784 milhões em cinco anos para recolocar na sociedade 36 mil insurgentes.

Mas segundo fontes oficiais citadas pela imprensa internacional, os Estados Unidos gastaram até agora somente US$ 200 mil no plano, e desde abril voltaram para o lado do Governo apenas 100 insurgentes, frente aos nove mil dos últimos cinco anos.

No último dia 4, Karzai anunciou a criação de um Conselho de Paz composto por 50 membros, cujas identidades revelaria após o fim do Ramadã, mas este passo, como tantos outros, foi criticado pelo movimento insurgente.

"A formação de uma nova ''shura'' (conselho) em nome da paz é a repetição de experiências de fracasso anteriores", observou um porta-voz talibã, em declarações à agência afegã "AIP".

Os fundamentalistas insistem em que não aceitarão nenhum diálogo até que as tropas estrangeiras abandonem o país; enquanto isso, seguem boicotando as iniciativas do Governo e atacando as forças internacionais e afegãs.

Prova do auge talibã é que a Comissão Eleitoral declarou o pleito de amanhã como "de alto risco", e decidiu manter fechados 938 colégios (do total de 6.835) em 25 das 34 províncias afegãs, sobretudo no sudeste pashtun.

Os cerca de 50 mortos durante as últimas eleições, as presidenciais de 20 de agosto de 2009, por causa da violência talibã, são motivo suficiente para isso.

"A crescente violência no país dificultará sem dúvida o processo eleitoral e dará opção para que se produza uma significativa fraude nestas eleições", disse à Agência Efe o analista Wadir Safi, professor da Universidade de Cabul.

Mas não só os ataques que se preveem obscurecem o processo.

Durante as últimas semanas, os candidatos viram como o movimento talibã, que qualificou o pleito como uma forma de ampliar a "ocupação" do país, lhes impedia de desenvolver suas campanhas.

"Não é possível ter boas eleições sem uma boa campanha", afirmou à Efe o candidato Daoud Sultanzoy, que pretende revalidar sua cadeira pela província de Ghazni.

Sultanzoy explicou que muitos dos candidatos a deputado não conseguem participar de atos eleitorais, especialmente no sul e leste afegão, de tradicional domínio talibã.

Até o momento, pelo menos três candidatos e mais de 12 membros de equipes de campanha morreram em fatos violentos; dezenas deles foram sequestrados e centenas receberam ameaças desde o início da campanha.

O contraste com o último pleito parlamentar (2005) é evidente: na ocasião, a jornada aconteceu com certa normalidade, o que gerou reflexões sobre a suposta fraqueza da insurgência. No entanto, agora se admite abertamente que o movimento talibã tem capacidade para causar um grande estrago.

Em 2005 também não se ventilava a possibilidade de negociar com os insurgentes; agora, foi aberto um processo formal justo quando a guerra está em um de seus piores momentos.

Julho foi o mês com mais baixas militares americanas (66) e junho foi o mais sangrento para o conjunto das forças internacionais (102 mortos), que em 2010 já perderam mais de 500 homens.

Para os civis, a situação é ainda pior. Durante o primeiro semestre de 2010, 1.271 civis morreram vítimas do conflito, 21% a mais que nos primeiros seis meses de 2009, segundo um relatório da ONU.

EFE   
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