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Oriente Médio

Filho de iraniana condenada pede insistência do Brasil no caso

6 set 2010 - 15h04
(atualizado às 15h34)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

O Brasil pode fazer mais para salvar da morte por apedrejamento a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, conforme a avaliação de um dos filhos de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh. A sentença contra a iraniana poderá ser aplicada assim que o mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã, chegar ao final, na noite da próxima sexta-feira.

Mulher segura cartaz com a foto da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada a apedrejamento por adultério
Mulher segura cartaz com a foto da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada a apedrejamento por adultério
Foto: AFP

Sakineh foi condenada por adultério e participação na morte do próprio marido, embora jamais tenha admitido o crime e nenhuma prova tenha sido apresentada contra ela. Diante da midiatização do caso e do aumento da pressão para que líderes ocidentais interviessem em favor da iraniana, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ofereceu asilo à mulher no Brasil. A proposta foi recusada por Teerã, que afirmou que, apesar de ter "uma personalidade muito humana e emotiva", Lula estava desinformado sobre o caso.

"O Brasil pode continuar ajudando, demonstrando que não está de acordo com esta condenação. O presidente Lula não pode aceitar a resposta que lhe foi acordada pelo Irã", afirmou Sajjad, um dos filhos de Sakineh, responsáveis pela divulgação do caso na imprensa internacional. Sajjad conversou por telefone com jornalistas estrangeiros correspondentes em Paris, sob o intermédio do filósofo francês Bernard-Henri-Lévy, que se engajou pessoalmente na causa e vem reunindo o apoio de outras personalidades, como a primeira-dama da França, Carla Bruni-Sarkozy.

"O governo do Irã só ouve o que vem por parte das nações amigas, como a Turquia e o Brasil. Os outros países que se manifestam não são sequer ouvidos", declarou Sajjad. Segundo ele, depois de receber a proposta de Lula, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, lançou um comunicado nacional afirmando que ele e o brasileiro são "bons amigos" e que "têm outros assuntos mais importantes para tratar do que sobre uma pessoa como Sakineh".

"Ao invés de tratar sobre questões nucleares com Ahmadinejad, Lula deveria falar sobre Direitos Humanos", exortou o filho da condenada.

Neste final de semana, o Vaticano expressou seu descontentamento com a sentença e afirmou que poderá usar canais diplomáticos para intervir em favor da iraniana, em resposta a uma carta de Sajjad pedindo a ajuda do papa Bento XVIII.

O antigo advogado de Sakineh, Mohammad Mostafaei, estava presente no encontro organizado em Paris e disse que esse é o momento de o mundo demonstrar que reprova a condenação à morte por lapidação. Ele fugiu do Irã em julho por não se sentir mais em segurança no País, depois de conseguir reverter as penas de morte promulgadas contra 10 suspeitos de crimes. Hoje, o advogado mora exilado na Noruega. "Não se trata apenas de um caso. É toda essa existência de lapidação e penas de mortes infundadas que precisa ser revista", disse Mostafaei. "O governo iraniano criou uma atmosfera tão desagradável que as pessoas que defendem os Direitos Humanos são obrigadas a fugir".

Já Bernard-Henri Lévy afirmou que se a comunidade internacional não tivesse se revoltado contra a condenação de Sakineh, hoje ela já teria sido executada. "É falso dizer que essa campanha internacional pode estar piorando a situação dela. Pior do que já estava, não poderia ficar", afirmou.

O atual advogado da iraniana, Houtan Kian, também foi contatado por Lévy diante dos jornalistas e confirmou que sua cliente foi submetida a 99 chibatadas adicionais, por ter tido uma foto publicada no jornal inglês The Times. Ela já havia recebido 99 chibatadas em 2006, como parte da condenação por adultério. Agora, nas fotos publicadas, a mulher não estaria usando o véu obrigatório cobrindo os seus cabelos, motivo da nova punição. O jornal, no entanto, afirmou que houve um engano e que a mulher da imagem não era Sakineh, mas a nova sentença já havia sido cumprida, de acordo com o advogado.

Respondendo a uma pergunta feita pelo Terra, Kian afirmou que está tentando aproveitar as brechas na lei da República Islâmica para conseguir o adiamento da sentença de morte contra Sakineh, já que a partir do final do Ramadã, na próxima sexta-feira, a condenação poderá ser aplicada a qualquer momento. "Estou tentando encontrar falhas ou brechas na lei para abrandar, anular ou ao menos adiar o apedrejamento dela, mas por enquanto nada mudou", disse.

O defensor também expressou preocupação com o fato de que a iraniana foi privada de contato com ele ou com a família desde a metade de agosto. Até então, ela tinha direito a receber uma visita semanal e a realizar uma chamada telefônica para quem desejasse.

Fonte: Especial para Terra
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