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Oriente Médio

Teatro israelense se nega a fazer apresentação para colonos

30 ago 2010 - 06h03
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Cerca de 50 atores e profissionais do teatro israelenses se negaram a fazer um espetáculo em uma colônia judia em território palestino, reabrindo o debate sobre a legitimidade do boicote interno à política de ocupação.

O anúncio feito na semana passada de que as principais companhias de teatro nacionais farão apresentações no novo centro cultural do assentamento de Ariel, no norte da Cisjordânia, foi seguido quase imediatamente de declarações de vários atores de que não atuariam ali por motivos ideológicos.

"Os colonos e os assentamentos não são coisas que me divirtam e eu não quero diverti-los", declarou Yousef Sweid, membro de um grupo que se apresenta no Teatro Habima de Tel Aviv.

Às primeiras recusas se somaram outras e já são 53 os diretores, roteiristas e comediantes que assinaram um texto rejeitando atuarem na colônia.

A recusa gerou um conflito nas companhias que já haviam se comprometido a fazer apresentações na nova sala, e levaram o chefe do Governo, Benjamin Netanyahu, a ameaçar retirar o financiamento aos teatros com atores rebeldes.

O centro cultural de Ariel, com capacidade para 540 lugares e que deve ser inaugurado em 8 de novembro, já começou a vender entradas e anunciou um programa com oito shows de companhias do Habima e o HaCameri, em Tel Aviv; o Teatro de Beer Sheva e o Khan de Jerusalém.

O Governo israelense tentou frear o incipiente boicote com uma taxativa declaração por parte da ministra de Cultura e Esporte, Limor Livnat, que acusou os opositores de "dividir à sociedade israelense", pediu para que separem política de arte e assegurou que "todo israelense tem direito de desfrutar da cultura em qualquer lugar".

Os signatários da carta, entre eles várias estrelas como o diretor, roteirista e escritor Yehoshua Sobol e o ator Yossi Pollak, não questionam o direito dos colonos de desfrutar do teatro, mas defendem seu direito de opor-se à colonização.

Outros artistas, como Gila Almagor, vencedora do Prêmio Israel de teatro, não referendaram a carta, mas asseguram que, da mesma forma, não atuarão nos assentamentos em territórios palestinos.

"Sempre me opus à ocupação e me recusei a atuar além da linha verde (divisão estabelecida após o cessar-fogo da guerra de 1948).

Não irei a locais que contrariam minha visão de mundo", declarou ao jornal "Haaretz" a atriz veterana, que acrescentou que "não pediria aos atores religiosos que trabalhassem no dia do shabat", dia sagrado no judaísmo.

O boicote foi alvo de debate no conselho de ministros e levantou discussões entre os membros do Gabinete.

Netanyahu ameaçou retirar o financiamento dos teatros em que os atores boicotem o centro de Ariel e assinalou que, ao ser Israel "objeto de um ataque de deslegitimação por parte de diferentes elementos na esfera internacional (...) o último que precisa é uma tentativa de boicote interno".

O ministro das Finanças, Yuval Steinitz, disse que "Ariel é uma comunidade em Israel" como qualquer outra e pediu a demissão dos que descumprirem seus contratos.

A mesma exigência é feita pelos representantes dos colonos, que asseguram que os rebeldes "devem ser demitidos imediatamente porque suas companhias são financiadas com impostos que também são pagos pelos cidadãos da Judéia e Samaria (nomes bíblicos para a Cisjordânia)", disse à Efe Aliza Herbst, porta-voz do conselho de colonos Yesha.

Os atores "têm de dedicarem-se a atuação e manterem-se longe da política, porque nem têm formação para isso, nem são personagens políticos, nem têm dotes analíticos brilhantes. Este não é seu campo, mas o da atuação e a isso devem se limitar, não fomentar sanções culturais contra uma parte da população".

O conselho de assentamentos pediu ao público israelense que cancele suas contribuições aos teatros e boicotem as obras daqueles que se neguem a atuar em Ariel.

No outro lado está o jornalista israelense Gideon Levy, quem diz que o debate vai demonstrar se em seu país há "um teatro genuíno ou simplesmente um teatro de marionetes".

"Há uma diferença moral entre Israel soberano e legítimo e as áreas sob ocupação. Entre atuar aqui ou ali, no coração de um assentamento ilegal, construído em uma terra roubada, em um show preparado para proporcionar momentos agradáveis aos colonos que tiveram suprimidos todos os seus direitos", argumenta.

EFE   
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