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Após "milagre", mineiros recebem cartas de amor e broncas

23 ago 2010 - 20h08
(atualizado em 24/8/2010 às 09h52)
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Abraçada a um bilhete amarfanhado, escrito a 700 metros de profundidade por seu marido, preso há 18 dias numa mina, Lilianett Ramírez redige sua primeira carta de amor em várias décadas.

Parentes de um 33 dos mineiros presos colocam bandeiras do Chile no local do acidente, em Copiapó, no Chile
Parentes de um 33 dos mineiros presos colocam bandeiras do Chile no local do acidente, em Copiapó, no Chile
Foto: AP

O bilhete que Mario Gomez, 63 anos, enviou no domingo à superfície, prometendo em breve rever a mulher, comoveu todo o país. Até então, não se sabia se os 33 mineiros presos na mina de San José após um desmoronamento estavam vivos ou mortos.

Agora Ramírez, 51 anos, terá pela frente uma torturante espera de três a quatro meses, enquanto os engenheiros perfuram uma nova galeria até o refúgio em que os homens se encontram. Eles sobreviveram graças à água que escorre da perfuração, e do ar que entra por dutos de ventilação.

Na segunda-feira, os engenheiros instalaram tubos plásticos - chamados de "pombas" - pelos quais enviam glicose, gel de hidratação, nutrientes líquidos e remédios aos mineiros. Eles pretendem enviar cartas também.

"Dá para imaginar? Após 30 anos de casamento vamos começar a nos mandar cartas de amor outra vez", disse Ramírez, rindo, apesar do cansaço, após mais de duas semanas instalada no acampamento batizado de "Esperança".

"Quero lhe dizer que eu o amo demais. Quero lhe dizer que as coisas serão diferentes, que teremos uma nova vida", disse ela. "Vou esperar o quanto for necessário para ver meu marido outra vez."

As equipes de resgate encontraram o bilhete de Gomez preso à broca usada para localizar os mineiros. "Vejo vocês em breve (...) e vamos ser felizes para sempre depois disso", escreveu ele.

O presidente Sebastián Piñera leu no domingo a carta em voz alta a Ramírez, e em todo o país milhares de pessoas tocaram buzinas, agitaram bandeiras e espontaneamente aplaudiram a sobrevivência dos mineiros.

Em êxtase, parentes dos mineiros dançaram e cantaram músicas tradicionais em volta de fogueiras, perto da boca da mina, e dividiram churrasco com as equipes de resgate.

O acampamento está tomado por fotos dos mineiros e imagens de santos padroeiros colocados em pequenos altares, nos quais há vigílias noturnas. Os nomes dos 33 sobreviventes foram gravados nas pedras das montanhas ao redor.

O ministro de Minas, Laurence Golborne, disse que enviar cartas aos mineiros é essencial para mantê-los animados nestes próximos meses de espera.

A dona de casa Luisa Segovia, 49 anos, está escrevendo para o seu irmão. "Há muitas coisas que eu quero dizer a ele", disse, com uma foto em preto e branco dele presa com um alfinete à blusa. "Quero lhe dizer que estamos lhe esperando de braços abertos."

Mas lá embaixo também haverá espaço para broncas. O agricultor Alberto Avalos, 42 anos, tem um sobrinho soterrado. "Honestamente, quero perguntar a ele que diabos estava fazendo lá embaixo da mina. Quero amaldiçoá-lo por ter nos deixado tão preocupados."

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