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Estados Unidos

Demissão de McChrystal pode levar a saída de outros oficiais

25 jun 2010 - 14h31
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Alissa J. Rubin
Do New York Times, em Cabul, Afeganistão

Os trabalhos referentes à condução da guerra no Afeganistão pareciam estar transcorrendo normalmente na quinta-feira, ainda que muita gente no posto de comando da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Cabul ainda estivesse em choque com a rápida sucessão de eventos que culminou na demissão de seu comandante, uma decisão que levou muitos dos oficiais aqui estacionados a atualizar seus currículos.

Embora ninguém tenha declarado estar de saída, havia pouca dúvida, entre os presentes, de que a maioria dos oficiais mais próximos ao general Stanley McChrystal, demitido na quarta-feira pelo presidente Barack Obama, o acompanharia na demissão. Isso deve acontecer em parte como demonstração de solidariedade e em parte porque o novo comandante, o general David Petraeus, não deve necessitar de seus serviços.

Os principais subordinados de McChrystal, mais ou menos como os principais assessores de um presidente, servem de acordo com a necessidade do general. Quando um novo comandante é indicado, ele quase sempre traz sua equipe com ele. A situação é um pouco mais complicada neste caso, porque mudanças abruptas em meio a uma guerra poderiam resultar em perda de continuidade e conhecimento institucional.

"Muita gente vai ficar durante a transição e depois veremos uma substituição gradual", disse um importante funcionário da Otan que comentou sob a condição de que seu nome não fosse revelado, porque ele não tem autorização para falar publicamente sobre o assunto. O objetivo é garantir que as operações cotidianas e as decisões estratégicas mais amplas não sejam interrompidas.

Diversos representantes da Otan disseram antecipar a partida dos subordinados de McChrystal que tiveram declarações negativas sobre funcionários importantes do governo Obama citadas em um artigo da revista Rolling Stone e que isso deve acontecer o mais cedo possível.

Muita gente está observando com atenção para determinar se algumas das figuras principais serão mantidas, entre as quais o major-general Michael Flynn, comandante das operações de inteligência, e o major-general William Mayville, vice-chefe de estado-maior encarregado de operações. Os dois são considerados como importantes para o sucesso da missão e ambos têm bom relacionamento com Petraeus, embora também sejam aliados estreitos de McChrystal, disseram dois oficiais da Otan que trabalham em estreito contato com ambos. São também figuras respeitadas, e a opinião geral é a de que oferecem uma compreensão matizada das táticas necessárias a combater uma insurgência.

Mas até mesmo esses dois comandantes podem deixar seus postos. O encarregado de operações no estado maior, uma posição crítica, precisa contar com a mais completa confiança de parte do comandante. O relacionamento de Mayville com McChrystal pode tornar impossível sua manutenção agora que Petraeus está assumindo o comando.

O contra-almirante Gregory Smith, que comanda os serviços de comunicações, fez parte do pequeno grupo de subordinados que acompanhou McChrystal a Washington esta semana. Seu retorno ao Afeganistão estava marcado para o final de semana, o que sugere que, ao menos por enquanto, ele deve manter o seu posto.

Já que foi afastado de seu comando, McChrystal não deve retornar ao Afeganistão, disseram integrantes de seu estado-maior.

Sabe-se que Petraeus costuma levar com ele equipes grandes e diversificadas, para as diversas missões que já foi apontado para liderar, com integrantes civis e militares que tendem a ser ferozmente leais a seu chefe. No Iraque, onde serviu por boa parte da guerra, o general criou diversos conselhos consultivos para garantir que estivesse estudando todas as possíveis soluções para os diferentes problemas.

Petraeus precisa ser confirmado pelo Senado antes que possa assumir o comando.

As forças armadas anunciaram na quinta-feira que seis soldados da Otan haviam sido mortos no dia anterior. Quatro soldados britânicos morreram em um acidente com um veículo e dois soldados da Romênia foram mortos por uma bomba caseira quando estavam de patrulha.

No total, 80 soldados da Otan foram mortos em junho no Afeganistão, o que faz do mês o mais mortífero para a coalizão liderada pelos Estados Unidos desde o início da guerra, em 2001, de acordo com o site iCasualties.org.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times
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