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Especialistas: abertura de Santos a Chávez não garante pacifismo

24 jun 2010 - 14h51
(atualizado às 16h19)
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A iniciativa do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, de abrir caminhos de cooperação com os vizinhos Venezuela e Equador não é uma garantia de que a relação entre os líderes destas nações deixará de ser tensa. Especialistas em relações internacionais ouvidos pelo Terra acreditam que a busca por entendimento, anunciada por Santos no último domingo, possa ser afetada futuramente por problemas concretos, como a guerrilha nas fronteiras, e a imprevisibilidade do chefe de Estado venezuelano, Hugo Chávez.

Presidente eleito Juan Manuel Santos faz o pronunciamento após obter vitória nas urnas
Presidente eleito Juan Manuel Santos faz o pronunciamento após obter vitória nas urnas
Foto: EFE

Ao longo da administração Álvaro Uribe, a troca de farpas entre o então ministro da Defesa Santos e Hugo Chávez abalou as relações entre os dois países. A briga começou em 2002, quando Santos apoiou publicamente uma tentativa frustrada de golpe contra o mandatário venezuelano.

Com o Equador, o desconforto teve início em março de 2008 quando o ministro Santos, linha dura no combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), comandou a ação do exército que matou o líder guerrilheiro Raúl Reyes em solo equatoriano.

"A postura de abrir o caminho para a cooperação já era esperada caso Santos fosse eleito. Porém, não vejo com tanto otimismo que a busca por entendimento dure muito tempo", disse o cientista político Pedro Paulo Funari, coordenador do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. "Se ele enfrentar dificuldades com a guerrilha nas fronteiras vizinhas, esse discurso pode ir por água abaixo", afirmou Funari, ao comentar o discurso da vitória de Santos, realizado neste domingo, em que disse querer "trabalhar de mãos dadas com Venezuela e Equador".

Segundo o especialista, o objetivo do novo presidente colombiano ao manifestar essa abertura é o de sondar até que ponto os vizinhos estão dispostos a conversar. "O novo governo não vai voltar atrás a respeito do acordo de ajuda militar dos Estados Unidos (bases americanas estão instaladas na Colômbia), o que pode irritar Chávez em futuras negociações", disse.

Para o cientista político Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o componente da imprevisibilidade de Chávez é o fator que pode colocar em risco a postura pacífica entre as duas nações. "A atuação das Farc é um aspecto que ainda está fora do controle do governo colombiano e o combate à guerrilha nas fronteiras ainda pode gerar problemas com os vizinhos", afirmou. "Tenho certeza que, inicialmente, os esforços serão por buscar um entendimento, mas se isso vai dar certo é algo que somente poderemos confirmar mais adiante", acrescentou Ayerbe.

Novo começo

Apesar de Juan Manuel Santos prometer manter a luta intensa do atual governo contra a guerrilha, o tráfico e a atração de investimentos externos, bem sucedidas durante a gestão Álvaro Uribe, os especialistas acreditam que a postura "santista" será muito mais branda que a do antecessor.

"Santos vai dar continuidade à política de segurança de Uribe, mas a busca por um novo começo é uma realidade", explicou Funari. Para Ayerbe, "Colômbia e Venezuela têm um vínculo histórico muito importante, principalmente no comércio, assim como Brasil e Argentina. "O atrito entre os dois países está gerando impacto econômico, portanto, é do interesse dos dois manter boas relações", concluiu.

Juan Manuel Santos, do governista Partido Social da Unidade Nacional (Partido de la U), se tornou presidente do país ao vencer o segundo turno das eleições, no último domingo, com mais de 9 milhões de votos (69% do total), frente aos 3,5 milhões (27,5%) de seu rival, Antanas Mockus.

Fonte: Terra
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