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Estados Unidos

Artigo "General desgovernado" leva crise afegã à Casa Branca

22 jun 2010 - 15h02
(atualizado em 25/6/2010 às 10h05)
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Dexter Filkins
Do New York Times, em Cabul, Afeganistão

O presidente Barack Obama, muito irritado, convocou o principal comandante das forças americanas no Afeganistão a Washington, na terça-feira, depois que um artigo de revista retratou o general e seu estado-maior como abertamente desdenhosos quanto a alguns dos mais importantes membros do governo Obama.

O general dos EUA no Stanley McChrystal faz pronunciamento na Casa Branca, em 10 de maio
O general dos EUA no Stanley McChrystal faz pronunciamento na Casa Branca, em 10 de maio
Foto: Reuters

Um representante do governo disse que o comandante, general Stanley McChrystal, se reunirá com o presidente Obama e seu vice Joe Biden na Casa Branca, quarta-feira, a fim de "explicar ao Departamento da Defesa e ao comandante em chefe as declarações que lhe são atribuídas no artigo", que será publicado na edição de 8 a 22 de julho da revista

Rolling Stone

.

McChrystal participaria de uma reunião mensal sobre a situação do Afeganistão via teleconferência, disse o funcionário, mas foi instruído a viajar a Washington devido ao artigo.

O texto mostra McChrystal ou seus assessores falando em tom fortemente derrisório sobre Biden; o embaixador Karl Eikenberry; Richard Holbrooke, enviado especial de Obama ao Afeganistão e Paquistão; e um ministro do governo francês não mencionado nominalmente. Um dos assessores de McChrystal é citado como tendo usado a palavra "palhaço" para descrever o general James Jones, assessor de segurança nacional de Obama.

Um importante funcionário do governo disse que Obama estava furioso quanto ao artigo, especialmente diante da sugestão de que estava desinteressado e despreparado para discutir a guerra no Afeganistão ao assumir o posto.

O artigo, intitulado "The Runaway General" o general desgovernado, cita assessores de McChrystal como tendo declarado que o general havia saído "muito desapontado" de uma reunião com Obama no Gabinete Oval, e que havia definido o presidente como "desconfortável e intimidado" durante uma reunião no Pentágono com McChrystal e diversos outros generais.

O artigo não menciona divergências políticas sérias com Obama, que optou por McChrystal para o comando de uma forte escalada na presença de soldados e equipamentos americanos no teatro de guerra afegão, na esperança de reverter uma deterioração na situação de segurança do país.

Ainda assim, o artigo certamente suscitará dúvidas sobre a sensatez de McChrystal e debates sobre a eficiência da estratégia de Obama, em um momento no qual a violência vem crescendo de forma acentuada no Afeganistão e diversas das plataformas centrais da estratégia americana no país parecem estar fracassando. Dois importantes aliados americanos, Holanda e Canadá, anunciaram planos para a retirada de suas forças de combate no país.

McChrystal divulgou comunicado no qual se desculpa pelas suas declarações."Peço as mais sinceras desculpas por aquele artigo", afirmou. "Foi um erro e reflexo de mau juízo de minha parte, e jamais deveria ter acontecido. Ao longo de minha carreira, vivi de acordo com os princípios da honra pessoal e integridade profissional. Aquilo que o artigo reflete fica bem aquém desses padrões".

O comunicado prossegue: "Tenho enorme respeito e admiração pelo presidente Obama e sua equipe de segurança nacional, e pelos líderes civis e soldados que lutam nessa guerra, e continuo a manter meu compromisso para com um final bem sucedido para esse esforço".

O autor do artigo - Michael Hastings, um jornalista freelancer - parece ter recebido acesso amplo ao círculo mais estreito de assessores do general. A maior parte dos comentários parecem ter sido pronunciados em momentos descontraídos, em lugares como bares e restaurantes nos quais o general e seus assessores se reúnem para relaxar. A edição da revista na qual o artigo vai sair chegará às bancas na sexta-feira.

Quanto a Holbrooke, o enviado especial de Obama à região, um assessor de McChrystal aparentemente disse que "o Chefe o definiu como um animal ferido; Holbrooke não pára de ouvir boatos de que será demitido, o que o torna perigoso".

Em outra ocasião, McChrystal é descrito como exasperado em reação a um e-mail de Holbrooke. "Oh, não. Não mais um e-mail de Holbrooke. Não quero nem abrir".

O artigo descreve uma conversa de McChrystal e um auxiliar sobre Biden. Sabe-se que o vice-presidente combateu a ideia de uma escalada no esforço de guerra, preferindo em lugar disso um plano mais enxuto com o objetivo de conter o terrorismo.

"Você está perguntando sobre o vice-presidente Biden?", pergunta McChrystal. "Biden?", retruca um auxiliar. "Você disse morda-me (Bite me, em inglês)?", responde o general.

Também são citadas declarações negativas de McChrystal sobre Eikenberry, o embaixador americano ao Afeganistão, com o qual o general teve ásperas discordâncias sobre a estratégia correta para a guerra. No ano passado, Eikenberry enviou mensagens confidenciais a Washington nas quais se opunha à decisão de Obama de reforçar os efetivos americanos no país.

"Ele é um daqueles sujeitos que quer proteger a imagem que os livros de História farão dele", teria dito McChrystal. "Agora, se fracassarmos, ele poderia proferir o seu 'eu avisei'".

O artigo também descreve uma reunião na qual um soldado expressa frustração diante das regras mais severas impostas por McChrystal para o uso de ataques aéreos contra grupos suspeitos de serem insurgentes. No artigo, o militar em questão, soldado Jared Pautsch, diz ao general que ele está colocando as vidas dos soldados em risco porque os força a economizar no uso da força.

The New York Times
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