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Mundo

Reunião a portas fechadas pode decidir futuro da caça às baleias

22 jun 2010 - 08h20
(atualizado às 08h27)
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Em meio às polêmicas de suspeita de corrupção, a Comissão Baleeira Internacional (CBI) está reunida em Agadir, no Marrocos, com o objetivo de chegar a um acordo entre partidários e críticos da caça. A 62ª sessão da CBI, que foi criada em 1946 para regular a pesca às baleias, examinará até a próxima sexta-feira um projeto de acordo para colocar um ponto final a 25 anos de conflito entre seus membros, que se desentendem desde a entrada em vigor, em 1986, da moratória à caça. O plano já deve ser examinado na plenária desta quarta.

A 62ª sessão da Comissão Baleeira Internacional acontece em Agadir, no Marrocos
A 62ª sessão da Comissão Baleeira Internacional acontece em Agadir, no Marrocos
Foto: AP

Os 88 países membros da Comissão concordaram em se encontrar em sessão fechada para decidir se adotam um esboço de estratégia que permita à Noruega, à Islândia e ao Japão caçar legalmente baleias ao redor da Antártida e em outros locais por mais dez anos, em troca de uma queda gradual no número de animais capturados. A proposta, que significa autorizar a pesca comercial, não determina, porém, o que ocorrerá quando esse período interino for concluído.

Para o Japão, que apoia o fim da moratória no caso de caça para pesquisa científica, a iniciativa permitiria caçar 400 baleias minke em águas do oceano Antártico entre 2011 e 2015, para depois reduzir esse número para 200 entre 2015 e 2020. Atualmente a frota baleeira japonesa captura cerca de mil cetáceos em águas antárticas a cada ano. Mas no ano fiscal de 2009 (que terminou em março), só caçou metade a metade desse número devido às sabotagens de ativistas ambientais. Noruega e Islândia, que também criticam a moratória, foram responsáveis pela pesca de cerca de 500 exemplares.

A União Europeia, liderada pelo Reino Unido, adotou uma posição comum no final de semana, contra a retomada de qualquer tipo de caça às baleias. No entanto, Estados Unidos e a Nova Zelândia continuam a endossar fortemente as medidas propostas pelo presidente da CBI. O plano apresentado não convence nem Tóquio, que o considera restritivo demais, nem a países como Austrália, que o veem permissivo demais. Apesar disso, os nipônicos se mostraram dispostos a "negociar".

Questão crucial

De acordo com representantes europeus e africanos envolvidos nas discussões da CBI, os dois pontos mais importantes da reunião são determinar o que acontecerá quando o período interino for concluído e o tom com que os países contrários à caça vão negociar com o Japão. "Para chegar a um compromisso", considerou o delegado alemão Gert Linnemann, "será necessário determinar o que acontecerá após dez anos".

Segundo a a ministra adjunta da Agricultura marroquina, Yasue Funayama, é difícil exigir que a caça não ocorra mais nos santuários de baleias, criados no Oceano Índico e no Austral. O Japão, que pesca nessas regiões, de nenhuma forma aceitaria acabar com uma tradição cultural muito marcada pelo nacionalismo nipônico. "Nessa negociação, uma cota final zero é impossível de ser aceita pelo Japão", advertiu ela nesta segunda. "Se o Japão for atacado, pode sair da CBI e ninguém poderá então fazer nada pelas baleias", advertiu um diplomata europeu.

Polêmica e corrupção

O anúncio da CBI de fazer dois dias de trabalhos a portas fechadas para tentar pacificar o terreno e abrir caminho para as negociações não agradou as três maiores ONGs do mundo (WWF, Greenpeace e Pew). "Mas o que é que escondem? Isso proporciona a teoria da conspiração", disse Rémi Permentier, porta-voz do Pew Environment Group (que conta com o estatuto oficial de observador).

Como o presidente chileno da CBI, Cristián Marquieira, está ausente por motivo de doença, a reunião será presidida pelo vice-presidente do organismo, Anthony Liverpool, de Antígua e Barbuda (a ilha caribenha vota tradicionalmente a favor do Japão).

Segundo reportagem do Sunday Times, a fatura de hotel de Liverpool, em Agadir, está sendo paga por um empresário japonês. O jornal informou ainda que representantes africanos e caribenhos admitiram ter votado a favor da caça, após terem recebido promessas de ajuda, dinheiro e prostitutas do Japão.

Apesar das denúncias publicadas pelo diário britânico, as grandes organizações não governamentais estimam que a reunião de Agadir pode terminar com um acordo. "Ou se chega a um acordo ou se mantém o statu quo, que não satisfaz ninguém", disse Susan Liebermann, diretora de políticas da Pew.

Espécies em extinção

A caça mata aproximadamente 2 mil baleias por ano, incluindo espécies à beira da extinção como a baleia azul (Balaenoptera musculus), a cinza (Eschrichtius robustus), a franca do norte (Eubalaena glacialis) e a bowhead, ou cabeça-redonda (Balaena mysticetus). Conforme dados do Animal Welfare Institute, em Washington, nos EUA, desde que a moratória foi introduzida há 25 anos, aproximadamente 33 mil baleias foram mortas.

Com informações das agências AFP, EFE, Reuters e do jornal The Guardian

Fonte: Redação Terra
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