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Ásia

Companhias de mineração cobiçam as riquezas do Afeganistão

18 jun 2010 - 15h45
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James Risen
Do New York Times, em Washington

Companhias mineradoras de todo o mundo estão ávidas por explorar a riqueza mineral recentemente descoberta no Afeganistão, mas executivos de empresas ocidentais do setor acautelam que a guerra, a corrupção no governo do país e a falta de estrada e de outros itens de infraestrutura necessários para a exploração de minérios em larga escala provavelmente retardarão por anos o início da exploração.

Alguns poucos investidores acostumados a lidar com projetos de alto risco estão suficiente interessados nas perspectivas que o país oferece para que tenham decidido ao menos conduzir um estudo inicial de viabilidade. O banco JP Morgan, por exemplo, acaba de enviar uma equipe de especialistas em mineração ao Afeganistão, com a missão de estudar possíveis projetos de cujo desenvolvimento o banco poderia participar.

"O Afeganistão talvez venha a se tornar um dos maiores produtores mundiais de cobre, ouro, lítio e minério de ferro", disse Ian Hannam, executivo financeiro que trabalha em Londres e é um dos especialistas em mineração empregados pelo JP Morgan. "Acredito que essas descobertas tenham grande potencial transformador para o Afeganistão".

Mas executivos de companhias internacionais de mineração declararam em entrevistas que embora acreditassem no grande potencial oferecido pelos depósitos minerais identificados no Afeganistão, suas empresas não estavam planejando iniciar operações no país antes que a guerra se encerre e a situação do país se estabilize mais.

"Existem grandes depósitos por lá", disse David Beatty, presidente-executivo da Rio-Novo Gold, uma empresa de mineração sediada em Toronto. "Mas como presidente-executivo desta companhia, posso me responsabilizar pelo envio de uma equipe de prospecção a Kandahar? E depois ter de telefonar para a mulher de um de meus funcionários para informar que ele foi morto? Não".

Sabia-se há muito que o Afeganistão oferecia depósitos significativos de pedras preciosas, cobre e outros minerais, mas funcionários do governo dos Estados Unidos afirmam que pesquisadores descobriram e documentaram grandes jazidas até agora inexploradas de cobre, minério de ferro, ouro e metais industriais como o lítio.

Uma equipe do Departamento da Defesa norte-americano, composta por geólogos e outros especialistas, transmitiu os dados obtidos ao governo do Afeganistão e está colaborando como o Ministério das Minas afegão a fim de preparar informações para potenciais investidores, na esperança de abrir concorrência para a aquisição dos direitos de exploração minerais de alguns lotes em prazo de cerca de seis meses. Na quinta-feira, funcionários afegãos afirmaram acreditar que a avaliação inicial dos depósitos minerais - da ordem de US$ 1 trilhão - tenha sido conservadora demais, e alegaram que o valor pode atingir os US$ 3 trilhões.

O Ministério das Minas também anunciou que daria os primeiros passos para abrir as reservas do país a investidores internacionais, em uma reunião marcada para a semana que vem em Londres. Cerca de 200 investidores de todo o mundo foram convidados para oferecer sugestões sobre como desenvolver os depósitos de minério de ferro da região de Hajigak, província de Bamian, de acordo com Craig Andrews, o principal especialista em mineração no Afeganistão do Banco Mundial.

Especialistas ocidentais em assuntos de mineração, sem vínculos para com quaisquer governos, ajudarão o ministério a organizar o processo de concorrência, disse Andrews.

Em uma entrevista coletiva concedida em Cabul, o ministro das Minas Wahidullah Shahrani prometeu que tornaria o processo de concorrência pelos lotes e a concessão de contratos de mineração o mais transparentes que pudesse, a fim de reduzir a possibilidade de corrupção. Ele disse que o ministério postaria notificações de concorrência em seu site.

Shahrani e seus assessores acautelaram contra expectativas exageradamente otimistas, enfatizando que o desenvolvimento demoraria anos e que havia muitos obstáculos a superar, não o menor dos quais a falta de segurança em diversas das áreas nas quais foram identificados os maiores depósitos minerais, bem como a falta de uma infraestrutura de transportes.

Executivos de empresas internacionais de mineração e especialistas independentes ecoaram essas considerações. Jim Yeager, geólogo que trabalha no Colorado e já prestou consultoria ao Ministério das Minas afegão, disse que se uma empresa receber a concessão de exploração e localizar metais preciosos, o governo se reservou o direito de cancelar a licença da companhia e abrir nova concorrência, o que solapa os incentivos para que as companhias internacionais efetivamente localizem grandes depósitos, diz.

"O governo pode retirar sua licença depois que você descobrir alguma coisa", disse Yeager. "Isso precisa ser corrigido".

Diversos executivos do setor de mineração e outros especialistas afirmaram que o investimento bilionário que seria requerido para a criação de uma grande mina de cobre, por exemplo, significava que o setor se concentraria em outros depósitos, em regiões de menor risco, antes que optasse por trabalhar no Afeganistão.

"O setor vai certamente considerar o Afeganistão, mas ponderará os riscos com cautela", disse Steve Vaughn, advogado e especialista em mineração canadense. "Há toda indicação de que esses depósitos são muito grandes. Mas à medida que os riscos políticos se intensificam, os investimentos nesse tipo de projeto costumam ser reduzidos".

Hoje, muitas das principais empresas mundiais de mineração se baseiam no Canadá e Austrália, mas a China, um país sequioso de recursos naturais, está rapidamente emergindo como forte concorrente na exploração de minérios. Uma companhia estatal chinesa já conquistou um contrato de exploração de uma mina de cobre no leste do Afeganistão.

Agora, muitos executivos do setor de mineração dizem antecipar que os chineses participem de forma agressiva das concorrências para explorar os depósitos minerais recentemente descobertos no Afeganistão, mesmo que muitas empresas ocidentais optem por ficar de fora do processo.

Robert Schaffer, vice-presidente executivo da Hunter Dickinson, uma companhia de prospecção e exploração de minérios sediada em Vancouver, Canadá, derrotada na concorrência pela exploração da mina de cobre do leste do Afeganistão por uma companhia chinesa, disse acreditar que os chineses tenham "uma percepção diferenciada de riscos", porque consideram o desenvolvimento de recursos minerais como parte de uma estratégia nacional.

"A preocupação deles é com garantir a oferta de uma dada commodity, e por isso estão dispostos a fazer as coisas mesmo com prejuízo", disse Schafer. "Por isso, sim, considero que os chineses estariam dispostos a realizar investimentos em áreas que outros investidores descartariam".

Executivos do setor de mineração, bem como funcionários do governo norte-americano, também estão preocupados quanto à corrupção no governo afegão, e inseguros sobre como evitar fazer da descoberta de uma grande riqueza mineral só mais uma fonte de lucros indevidos para os oligarcas de Cabul.

"Sei que algumas pessoas viajaram para lá a fim de testar o mercado, e algumas dessas pessoas consideraram que existe risco demais, corrupção demais", observou Yeager, o geólogo do Colorado. "Os afegãos precisam resolver a questão da corrupção".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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