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Estados Unidos

Estrela em ascenção, Nikki Haley surge como nova Sarah Palin

15 jun 2010 - 11h23
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Shaila Dewan e Robbie Brown
Do New York Times, em Bamberg, Carolina do Sul

Nikki Haley, favorita para se tornar a primeira mulher e a primeira pessoa não caucasiana a governar o Estado da Carolina do Sul, sempre desafiou as regras estabelecidas, com uma garra muito peculiar.

Nikki Haley discursa durante festa de campanha em Columbia, no Estado da Carolina do Norte, no dia 8 junho
Nikki Haley discursa durante festa de campanha em Columbia, no Estado da Carolina do Norte, no dia 8 junho
Foto: The New York Times

Quando menina, seus pais - os primeiros imigrantes indianos que a pequena cidade operário de Bamberg jamais havia visto - inscreveram Haley e a irmã em um concurso infantil de Miss Bamberg. Os jurados do concurso, que na época escolhia uma miss branca e uma miss negra, ficaram tão desorientados que simplesmente desclassificaram Haley e sua irmã Simran - mas não antes que Haley, aos cinco anos de idade, cantasse "This Land Is Your Land".

Na semana passada, Haley voltou a provocar uma reviravolta depois de uma primária repleta de acusações pessoais, entre as quais alegações de infidelidade conjugal, na qual se opunha ao vice-governador e ao secretário de Justiça do Estado, bem como a um deputado federal. Haley é deputada estadual e recebeu 49% dos votos; agora precisa disputar um segundo turno das primárias contra o deputado Gresham Barrett, sobre o qual levou vantagem de mais de 25% no primeiro turno. E tudo isso com uma campanha tão desprovida de verbas que, em lugar de distribuir cartazes da candidatura, ela precisava vendê-los por US$ 5, segundo a candidata.

Agora, ela se vê na posição de uma das mais brilhantes estrelas em ascensão no Partido Republicano, favorita do movimento Tea Party, recebedora do endosso de Sarah Palin e alvo de atenção em todo o país.

"Adoro que as pessoas considerem que minha história interessa, mas não vejo o que ela tem de tão diferente", declarou Haley em entrevista, na sexta-feira, exibindo apenas um leve traço de sotaque sulista. "Sinto-me como qualquer contador ou empresário que decida tomar parte direta no governo de seu Estado".

Haley - nascida Nimrata Nikki Randhawa e sempre conhecida como Nikki, ou "pequenina", pela sua família - diz que crescer em Bamberg teve suas dificuldades. O pai dela usa turbante e, ainda que os homens sikhs não devam cortar os cabelos, seu irmão passou a apará-lo depois que as agressões na escola se tornaram excessivamente crueis. "É o jeito, para sobreviver", ela disse. "Você aprende a mostrar às pessoas que é mais parecida com elas do que diferente".

Mas a ascensão política de Haley suscitou questões sobre sua diferença, e ela se tornou mais cuidadosa na maneira pela qual trata, especialmente, o aspecto religioso de sua vida.

Em 2004, por exemplo, ela recebeu grandes elogios, especialmente em veículos de mídia como o The Hindustan Times e o sikhchic.com, por ser a primeira sikh eleita para o Legislativo estadual da Carolina do Sul e a primeira republicana de origem indiana eleita para qualquer Legislativo americano.

"Nasci e fui criada na fé sikh, meu marido e eu nos casamos na igreja metodista e nossos filhos" - Nalin, 8 anos, e Rena, 12 anos - "foram batizados como metodistas. Frequentamos templos das duas religiões", diz.

Haley não mencionou o fato de que ela e o marido, Michael Haley, realizaram duas cerimônias de casamento, uma pelo rito sikh e a outra na igreja metodista de St. Andrew's by-the-Sea, em Hilton Head, a cidade em que vivem os pais de Michael Haley.

Na época, porém, Haley não parecia sentir desconforto quanto a assumir as duas religiões. Hoje ela declara ter se "convertido ao cristianismo" antes de casar, em 1996, e que foi batizada na St. Andrew¿s. Também alterou o texto de seu site. Na rubrica "Nikki é cristã?", ela substituiu uma referência ao "Todo-Poderoso" por uma referência a "Cristo".

"Acredito que essas questões sejam muito pessoais", disse, sobre a alteração. "Mas, quando as pessoas perguntam a respeito, é preciso responder".

Tim Pearson, o gerente de sua campanha, disse que a organização de campanha começou a responder mais especificamente a certas perguntas. "Recebíamos muitos e-mails e outras mensagens de pessoas que queriam saber de que Deus ela estava falando, ao mencionar a divindade", ele afirmou.

Até mesmo o nome de Haley se tornou questão em 2004, quando um adversário político, deputado estadual há 30 anos e na época o mais veterano dos legisladores estaduais da Carolina do Sul, revelou que ela estava registrada como eleitora sob o nome Nimrata Randhawa, e não Nikki Haley. (Material de campanha de adversários e mensagens de e-mail que a definem como budista e muçulmana também circularam, ela conta.) Mas apelidos como o seu não são incomuns: uma das inspirações de Haley, o político republicano de ascendência indiana e governador da Lousiana, Piyush Jindal, é mais conhecido pelo apelido Bobby.

Haley começou cedo a trabalhar no negócio de roupas de sua família - Exotica International, uma empresa que vende vestidos e ternos para festas, e joias - e assumiu a responsabilidade por toda a contabilidade aos 3 anos.

Seu pai, Ajit Randhawa, era professor de biologia no Vorhees College, na vizinha Denmark, Carolina do Sul. Sua mãe, Raj, fundou a Exotica para vender roupas importadas.

Antes de entrar para a política, Haley se formou em contabilidade na Universidade Clemson, onde conheceu Michael Haley. Trabalhou para a FCR, uma empresa de reciclagem e coleta de lixo, e posteriormente voltou à empresa da família como diretora financeira e ajudou a transformá-la em um negócio multimilionário.

Depois, quando descobriu que o deputado estadual Larry Koon se aposentaria em 2004, ela decidiu entrar na disputa para sucedê-lo. Mas Koon optou por continuar. Na época, o condado de Lexington, perto de Columbia, estava vivendo uma transição, de comunidade rural a bairro suburbano afluente, com muitos novos moradores. A mudança na base eleitoral da região pode ter sido um dos motivos para o fracasso dos ataques religiosos e raciais contra Haley.

Mas ainda assim eles foram tão virulentos que o comando estadual do Partido Republicano repreendeu Koon, diz Katon Dawson, presidente estadual do partido na época.

Haley ligou para Dawson a fim de pedir conselhos. "Ela me perguntou se valia a pena aguentar aquilo. Disse que eu era o presidente do partido, e que devia saber se valia ou não a pena suportar", ele conta. Dawson pediu que Jenny Sanford, então primeira dama do Estado, conversasse com a candidata novata, para reanimá-la. As duas conversaram, e Sanford contou em entrevista que havia ficado impressionada. Agora, está fazendo campanha por Haley.

A candidata, vestida para campanha em um conjunto marrom da Exotica, transmite uma impressão de disciplina e competitividade, quer esteja falando de seu talento nos videogames - "sou a rainha do Wii" - quer mencionando planos de reforma tributária, promoção da transparência financeira e limitação do número de mandatos que um político pode servir. Ela fala como se já tivesse vencido.

"Mal posso esperar até janeiro, quando as pessoas poderão ver que é de fato possível realizar muita coisa em um primeiro ano de mandato", diz.

Haley se tornou parte de um pequeno grupo de proponentes de uma redução do papel do governo, alinhados ideologicamente ao governador Mark Sanford e adversários da hierarquia republicana no Estado, a quem acusam de ter abandonado os princípios conservadores. Como Mark Sanford, ela defende repetidamente suas propostas junto ao eleitorado, ocasionalmente causando embaraços a líderes legislativos, o que a ajudou a construir uma base leal de adeptos. E, como no caso de Mark Sanford, isso levou a acusações de que ela emprega retórica vazia.

"Sou fã da antiga Nikki Haley", diz Harry Cato, deputado estadual republicano pelo condado de Travelers Rest e presidente interino da Assembleia. "A nova Nikki Haley se transformou em uma máquina de relações públicas".

Mas os partidários de sua candidatura apreciam seu espírito combativo. Haley se provou disposta a romper com líderes legislativos ao sair em público com apelos por votações nominais, em lugar de votações anônimas, nas questões legislativas. Foi retirada de um comitê influente do Legislativo quando tentou conquistar a presidência. As duas casas do Legislativo estadual terminaram por adotar normas que requerem mais votações nominais.

Pouco antes da primária para o governo do Estado, dois homens saíram a público dizendo que tiveram casos com ela, e um legislador usou um termo racista para se referir a Haley. Mas os episódios só beneficiaram a campanha de uma candidata que gosta de mostrar que está em desvantagem e que não desiste.

"Quando mais eles a combatem, mais ela se entusiasma", disse Ashley Landess, amiga de Haley e presidente de uma organização de pressão que ajudou a defender a mudança em favor da votação nominal. "Estão cometendo um grande erro, se acham que ameaças a farão calar. Isso não vai dar certo".

The New York Times
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