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Mockus deve reaproximar Colômbia e Brasil, dizem analistas

18 mai 2010 - 13h42
(atualizado em 19/5/2010 às 08h28)
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Luís Eduardo Gomes

A Colômbia realiza no próximo dia 30 de maio eleições presidenciais que vão definir o substituto do atual governo de Álvaro Uribe. As últimas pesquisas de opinião divulgadas apontam para um empate técnico entre o candidato governista, Juan Manuel Santos, e o representante do Partido Verde, Antanas Mockus, o que exigirá a realização de um segundo turno. Especialistas ouvidos pelo Terra comentaram as eleições e projetam possíveis repercussões a partir dos dois prováveis cenários resultantes da eleição.

Mockus (esq.) e Santos são os principais candidatos à presidência colombiana
Mockus (esq.) e Santos são os principais candidatos à presidência colombiana
Foto: AFP

Marcelo Coutinho, professor de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Daniel Santiago Chaves, pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ, acreditam que uma eventual vitória de Santos, ex-ministro da Defesa no governo Uribe, representaria a continuidade da política de linha dura contras as Forças Armadas Revolucionárias Colômbia (Farc) e o reforço da relação do país dos Estados Unidos, enquanto o sucesso de Mockus, ex-prefeito de Bogotá, poderia reaproximar a Colômbia dos demais países da América do Sul, consequentemente do Brasil, e aumentar a participação popular nas políticas públicas.

Santos X Mockus
Apesar de projeções iniciais terem indicado uma vitória fácil de Juan Manuel Santos, o pleito ganhou em disputa com o surgimento meteórico nas últimas semanas da candidatura do ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus, que chegou a aparecer como vitorioso ainda no primeiro turno em simulações.

Contudo, a recuperação de Santos nas últimas pesquisas voltou a deixar a disputa em aberto. "É difícil dizermos quem vai sair vencedor, as pesquisas não uma mínima segurança. A única segurança que temos é que vai haver segundo turno", diz Marcelo Coutinho.

Em relação ao segundo turno, o professor salienta que os votos destinados para Gustavo Preto, do Polo Democrático Alternativo, e para Noemí Sanín, do Partido Conservador, serão decisivos no segundo turno. "Se esperava que nessa eleição o Polo, que apareceu como força eleitoral nas eleições passadas, se apresentasse como uma alternativa. Mas ele atualmente disputa com o Partido Conservador o terceiro lugar", diz Coutinho, que projeta que os conservadores tendem a apoiar Santos, enquanto os seguidores do esquerdista Polo Democrático Alternativo devem migrar para a candidatura de Mockus.

Já Daniel Chaves analisa que algumas questões ainda precisam ser respondidas pelos candidatos para que haja a definição do vencedor. "Quem conseguir equacionar o problema das Farc, do social e de manutenção das taxas de crescimento, certamente vai sair vitorioso", diz.

Segundo ele, Santos não representaria exatamente uma continuidade do governo atual. "Uribe representa uma série de reformas no Estado colombiano. Ele tem uma plataforma de seguridad democrática que inclui a participação cidadã na Defesa colombiana. Já Santos tem a postura mais linha dura contra as Farc, ele não tem uma plataforma de governo contínua", diz o professor, que ainda traça um paralelo das eleições colombianas com o pleito presidencial brasileiro. "Ele não é a Dilma do Lula""

Em relação a Mockus, o professor Chaves questiona se as políticas dele são aplicáveis. "Eu acho mais difícil ele conseguir fazer virar realidade o crescimento econômico com essa plataforma verde", analisa Chaves. "Não é que as pessoas não sabem o que ele vai fazer, mas (há uma dúvida) se ele vai conseguir implementar", continua.

O professor Marcelo Coutinho, por sua vez, diminui a importância das diferenças econômicas entre os dois candidatos. "Não vejo muita diferença. Acho que é o processo de pacificação e de participação da população na política nacional (que será decisivo)", diz.

Daniel Chaves também acredita que Mockus se apresenta como alternativa aos partidos tradicionais colombianos. "Eu não entendo o Partido Verde do Mockus, como mais um partido que vai procurar se solidificar como um partido clássico na Colômbia. Não é um partido que gera as políticas, ele é um partido que ouve as políticas e tenta implementá-las; propõe uma sociedade mais participativa e menos parlamentar", conclui Chaves.

Combate às Farc
Um dos pontos mais importantes da campanha presidencial na Colômbia é combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que há mais de 40 anos colocam o país em estado de guerra civil. "A tendência do Santos é reforçar a linha dura contra as Farc. Ele é o cabeça da operação Fênix, no Equador", cita Daniel Chaves, lembrando a participação do então ministro da Defesa Santos na ação do exército que matou o líder guerrilheiro Raúl Reyes, em março de 2008. O incidente, realizado em solo equatoriano, alimentou as tensões entre a Colômbia e o país vizinho.

Em relação a Mockus, Chaves acredita que ele "não vai abrandar contra as Farc", mas procurar formas alternativas de enfraquecer a guerrilha. "Ele vai investir mais em uma plataforma de educação, de assistência social, de melhoria da qualidade de vida".

O professor Marcelo Coutinho concorda que Santos tende a reforçar a retórica de repressão violenta à guerrilha e que Mockus pode propor uma abordagem diferente à questão. "Com o Mockus, embora as questões fundamentais não mudem, existe uma certa flexibilidade. Se combinar essa flexibilidade com a participação dos atores sociais, isso pode repercutir. Pode mexer, inclusive, com as populações que vivem onde as Farc têm o controle. Embora não acabe com a participação do exército", diz Coutinho. "Muitas coisas foram tentadas, talvez essa possa vir a dar certo", complementa.

Relação com o Brasil
Os especialistas identificam dois cenários opostos no que diz respeito à relação da Colômbia com o Brasil dependendo de quem sair vencedor. "O Mockus é muito bom para o Brasil. Ele aprofunda o Mercosul, a Unasul, aprofunda as relações econômicas com o Brasil, enquanto o Santos é muito mais pró-americano. Porque a guerra contra as Farc também é uma guerra americana, não é uma guerra da Unasul", diz Daniel Chaves.

Já o professor Marcelo Coutinho, acredita que a relação entre os dois países também passa pela eleição presidencial brasileira. "Os dois candidatos estão mais próximos a José Serra e mais distantes da candidatura da Dilma, que tem maiores laços com o candidato do pólo alternativo", diz o professor. "As forças políticas na Colômbia são mais de centro. O próprio Mockus já declarou publicamente que tem mais simpatia com o Serra. O Santos estaria um pouco mais a direita", complementa.

Coutinho ainda afirma que uma eventual melhora na relação entre Brasil e Colômbia pode representar um marco político para a América Latina. "Os dois países formam um bloco de quase 250 milhões de habitantes, uma coisa impressionante. Fechando (uma aliança) os dois, é quase um bloco a parte. Se for bem sucedida, a aproximação seria uma grande inovação, o fato político mais importante da segunda década do século 20 na região.

Conflito com os vizinhos
Nos últimos anos do governo Uribe, aumentaram as diferenças entre o governo colombiano e os vizinhos Venezuela e Equador. Chaves e Coutinho concordam que uma possível eleição de Santos, um candidato mais ligado aos Estados Unidos, pode piorar ainda mais a relação entre os países. "Com a eleição de Santos, o confronto tende a se agravar. O Chávez já prometeu cortar relações e já anunciou o bloqueio comercial se o Santos for eleito. Atualmente, a Venezuela é um dos principais parceiros da Colômbia, mas o Chávez já tem um plano econômico em que a Argentina será o substituto comercial. A mesma coisa o Equador", diz o professor Daniel Chaves. "O próprio operativo que matou o Reyes em território equatoriano deixa claro o tom do Equador em caso de vitória do Santos", complementa.

"Ambos (Chávez e Correa) fazem campanha para a vitória de Mockus", comenta Marcelo Coutinho. "Mockus, inclusive, afirmou que admira o Chávez durante a campanha e depois voltou atrás dizendo que o respeita", adiciona, lembrando que uma declaração de apoio aberto ao venezuelano pode ter repercussão negativa no país.

Para Coutinho, a eleição de Mockus seria benéfica para a unidade da América do Sul. "Mockus mudaria a página e abriria uma nova a ser escrita na relação desses países", conclui o professor.

Contudo, o professor Daniel Chaves afirma que Mockus não se aproxima politicamente de Chávez. "Eu tenho impressão que o Mockus representa uma possibilidade de mudança na América do Sul, justamente por ele se colocar distante da retórica conflitiva, comum em todos os países da América do Sul", diz Chaves.

Fonte: Redação Terra
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