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Estados Unidos

No Golfo do México, produtos químicos estão sob escrutínio

6 mai 2010 - 15h45
(atualizado às 16h02)
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Elisabeth Rosenthal
Do New York Times

Enquanto se esforçam para controlar o vazamento de um poço de petróleo rompido no Golfo do México, funcionários da empresa British Petroleum (BP) e do governo federal dos Estados Unidos também estão envolvidos em uma das maiores e mais agressivas experiências com o uso de agentes químicos de dispersão na história do país e talvez do mundo.

Óleo gerado por explosão da plataforma Deepwater Horizon queima em mar aberto no Golfo do México
Óleo gerado por explosão da plataforma Deepwater Horizon queima em mar aberto no Golfo do México
Foto: Reuters

Com o petróleo continuando a se despejar de um poço de alta profundidade, eles aspergiram mais de 600 mil l de agentes químicos de dispersão na superfície da água, e outros 20 mil l foram injetados diretamente no local do vazamento, a 1,6 mil m de profundidade.

John Curry, diretor de assuntos externos da BP, informou que a companhia estava se sentindo encorajada com os resultados obtidos até o momento, mas alguns grupos ambientais estão preocupados.

"Compreendo que essa é a única coisa que eles podem fazer", disse Paul Orr, da organização ecológica Lower Mississipi Riverkeeper. "Mas acredito que seja vital, posteriormente, monitorar o que está acontecendo com a vida marinha, bem como a presença de petróleo no piso do oceano e seu efeito sobre os leitos de ostras".

Mesmo nos melhores casos, os agentes de dispersão são aplicados como resultado de uma estratégia que pode ser definida como de dupla perda. Os cientistas calculam que é melhor ter o oceano ocupado por uma baixa concentração de agentes químicos de dispersão - eles mesmos moderadamente venenosos - do que ter presença densa de petróleo na superfície ou chegando à costa, onde ele pode prejudicar a fauna e a flora.

Embora a maioria dos ambientalistas apoie a aplicação dos agentes de dispersão como um mal necessário para limitar os danos, alguns vêm criticando a norma setorial que proíbe a divulgação de sua composição química. O segredo quanto à mistura exata torna mais difícil avaliar os riscos com relação aos ecossistemas marinhos e determinar que efeitos colaterais devem ser buscados ao final da crise.

Além disso, os agentes de dispersão aplicados até agora, de uma linha de produtos chamada Corexit, tiveram sua aprovação rescindida no Reino Unido uma década atrás porque testes de laboratório constataram que eles prejudicam a vida marinha que habita costas rochosas, disse Mark Kirby, assessor científico do governo britânico quanto aos testes, uso e aprovação das opções de tratamento do derramamento de petróleo.

Mas Kirby acrescentou que as constatações poderiam ter pouca ou nenhuma relevância para a atual situação, na qual o produto está sendo aplicado em mar aberto. Embora o Corexit tenha sido reprovado no teste britânico de segurança costeira, foi aprovado para uso em mar aberto, disse Kirby. (O agente de dispersão teve de passar por ambos os testes em águas britânicas).

Ainda assim, enquanto as moléculas dos 600 mil l de agentes de dispersão se combinam à água da Deepwater Horizon, a plataforma petroleira que explodiu em 20 de abril, e se espalham pelo golfo, algumas organizações ecológicas estão lutando por mais informações sobre a composição dos produtos. Esse volume de agentes de dispersão é maior do que o estoque completo mantido por nações produtoras de petróleo como a Noruega.

"Nós voamos até lá e vimos a BP aspergindo o agente em toda parte", disse Frederic Hauge, diretor do Bellona, um grupo ambientalista sediado em Oslo. "Merecemos saber qual é sua composição".

Ainda que a Nalco Company, que fabrica os agentes de dispersão Corexit, tenha postado cópias da documentação de segurança de dois de seus produtos online, na quarta-feira, certos ingredientes são definidos como "propriedade exclusiva".

Os documentos, com 10 páginas de extensão, discorrem detalhadamente sobre os compostos, que precisam ser manipulados com grande cuidado em sua forma original e não devem entrar em contato com a pele, além de poderem causar danos pulmonares. Ainda que os documentos definam o potencial de dano ambiental como "moderado", afirmam que quando usado da forma instruída e no volume recomendado, em alto mar, o potencial de exposição ambiental é "baixo".

"É como qualquer outro produto", disse Charlie Pajor, gerente sênior da companhia, sediada no Estado de Illinois. "Nós os desenvolvemos e estamos protegendo nossos segredos comerciais".

Pajor anunciou que a produção dos agentes foi ampliada no final de semana, porque os estoques que a empresa mantém são, em geral baixos; os produtos Corexit em geral são usados em volume muito menor, para combater derramamentos muito menores, ele acrescentou.

Pajor ainda disse que não se recordava de uso do produto em escala semelhante à atual.

Os agentes de dispersão não removem o petróleo do oceano, mas se combinam a ele e fazem com que as manchas de petróleo se dispersem em gotículas que podem ser carregadas para longe pela corrente. Eles se provam especialmente efetivos no tratamento de derramamentos em águas profundas, onde a corrente possa espalhar as partículas por larga área, diluindo seus efeitos perigosos.

"Estamos basicamente tomando o petróleo e o transferindo a outros compartimentos onde não causará tantos danos", disse Kirby, diretor de uma equipe de pesquisa no Cefas Lowestoft Laboratory, Reino Unido.

A maioria dos agentes de dispersão consiste de misturas de quatro a seis produtos químicos que, combinados, fazem com que o petróleo se decomponha. Existem cerca de 20 agentes de dispersão no mercado, ele disse, e embora os componentes sejam em geral semelhantes, "suas receitas são segredo, como a Coca-Cola".

Quando usados em mar aberto, os produtos criam uma nuvem tóxica na área imediata que pode ser perigosa para a fauna marinha local, concordam os cientistas, mas são diluídos muito rápido pela corrente.

Como os Estados Unidos e o Reino Unido, muitos países testam e aprovam esses produtos antes do uso, determinando seu nível de toxicidade se administradas em baixa dosagem a animais marinhos como os camarões.

Novos produtos estão sendo desenvolvidos constantemente, para obter maior eficiência. Ainda assim, alguns países proíbem seu uso porque seus efeitos de longo prazo são em certa medida indeterminados, e muitos requerem aprovação prévia das autoridades nacionais antes do uso.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times
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