Em Londres, eleição se parece apenas a um dia como os outros
- Lúcia Müzell
- Direto de Londres
Na capital da Inglaterra, nada, ou quase nada, dá a entender que hoje é o grande dia de uma das eleições gerais para o Parlamento britânico mais concorridas das últimas décadas. Nas ruas de Londres, não existem militantes, cartazes ou panfletos, e os pontos de votação são tão discretos que é preciso caminhar muito até se deparar com um dos 42 mil espalhados pelo Reino Unido - e quando se encontra um "polling station" (seção de votação), não há eleitores entrando ou saindo, e muito menos filas para depositar o seu voto na urna.
Os eleitores que desejam votar precisam se registrar anteriormente em um ponto que desejarem na sua cidade, e a taxa de abstenção sempre fica em torno dos 35%, de um total de 44,3 milhões de pessoas aptas a votar. A campanha eleitoral oficial terminou ontem, mas não é proibido realizar a chamada boca de urna - ou seja, a falta de motivação com o pleito é uma característica dos britânicos, e não resultado de alguma regra.
"Os britânicos não têm muito apego a eleições. Para eles, basta estar chovendo que eles já desistem de ir votar, por exemplo", atesta a gerente de um restaurante em Westminster, Sarah Till.
Na região, onde fica o Palácio de Westminster - sede do Parlamento -, alguns manifestantes pela paz e o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão aproveitaram a ocasião para protestar. "É preciso votar em outros candidatos, de outros partidos. Todos os três o conservador David Cameron, o trabalhista Gordon Brown e o liberal-democrata Nick Clegg são cúmplices do genocídio em que se transformaram essas guerras todas", argumenta o manifestante Brian How. "Todos são a favor de levar as guerras até o fim. Precisamos encontrar alternativas para retornar à paz", disse How, o líder de cerca de 100 pessoas aglomeradas em frente ao palácio.
O sistema de votação é bastante diferente do brasileiro: o voto não é obrigatório e pode ser inclusive enviado pelo correio pelos eleitores, até a véspera do pleito. Nas últimas eleições gerais, em 2005, nada menos do que 50% dos eleitores escolheram votar por correspondência, e os institutos de pesquisa apontam que, desta vez, o índice deve ser ainda maior. Por conta disso, existem até mesmo entidades que estimulam a "doação" do voto por parte daqueles que não iriam votar. A ideia é permitir que as pessoas que não têm direito a voto, como imigrantes ou habitantes de outros países, possam participar do pleito.
"A política do Reino Unido é muito maior do que as nossas fronteiras terrestres. Muita gente tem relação com a Grã-Bretanha mas acaba ficando de fora de uma discussão e um momento tão importante quanto a eleição do novo primeiro-ministro", disse May Abdalla, representante da associação Give your vote.
Também diferentemente do Brasil, não apenas escolas, mas igrejas, bibliotecas e diversos outros pontos públicos podem abrigar as urnas. Os pontos de votação são abertos às 7h e só são fechados no final da noite, às 22h. Os primeiros resultados da apuração são esperados por volta da meia-noite, o que estimula muitos pubs a promoverem uma "noitada eleição" para receber os eleitores mais engajados. Nas ruas, vários destes pubs - os tradicionais bares onde os ingleses se encontram após o trabalho - utilizavam a apuração da eleição para atrair consumidores à noite.
Como acontece em outros países da Europa e nos Estados Unidos, no Reino Unido os jornais declaram suas preferências por um ou outro candidato, nos dias que antecedem as eleições. A capa do The Sun de hoje mostrava uma foto de David Cameron manipulada de maneira a ficar idêntica a uma foto do presidente americano Barack Obama, sob o título de "Nossa única esperança". Enquanto isso, o Daily Miror insinuou que o candidato conservador é inexperiente para o cargo e questionava se Cameron, o favorito a vencer o pleito, será mesmo eleito.