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Mundo

Em Londres, eleição se parece apenas a um dia como os outros

6 mai 2010 - 14h31
(atualizado às 14h33)
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Lúcia Müzell
Direto de Londres

Na capital da Inglaterra, nada, ou quase nada, dá a entender que hoje é o grande dia de uma das eleições gerais para o Parlamento britânico mais concorridas das últimas décadas. Nas ruas de Londres, não existem militantes, cartazes ou panfletos, e os pontos de votação são tão discretos que é preciso caminhar muito até se deparar com um dos 42 mil espalhados pelo Reino Unido - e quando se encontra um "polling station" (seção de votação), não há eleitores entrando ou saindo, e muito menos filas para depositar o seu voto na urna.

Manifestantes pedindo paz tomaram conta do jardim em frente ao Palácio de Westminster
Manifestantes pedindo paz tomaram conta do jardim em frente ao Palácio de Westminster
Foto: Especial para Terra

Os eleitores que desejam votar precisam se registrar anteriormente em um ponto que desejarem na sua cidade, e a taxa de abstenção sempre fica em torno dos 35%, de um total de 44,3 milhões de pessoas aptas a votar. A campanha eleitoral oficial terminou ontem, mas não é proibido realizar a chamada boca de urna - ou seja, a falta de motivação com o pleito é uma característica dos britânicos, e não resultado de alguma regra.

"Os britânicos não têm muito apego a eleições. Para eles, basta estar chovendo que eles já desistem de ir votar, por exemplo", atesta a gerente de um restaurante em Westminster, Sarah Till.

Na região, onde fica o Palácio de Westminster - sede do Parlamento -, alguns manifestantes pela paz e o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão aproveitaram a ocasião para protestar. "É preciso votar em outros candidatos, de outros partidos. Todos os três o conservador David Cameron, o trabalhista Gordon Brown e o liberal-democrata Nick Clegg são cúmplices do genocídio em que se transformaram essas guerras todas", argumenta o manifestante Brian How. "Todos são a favor de levar as guerras até o fim. Precisamos encontrar alternativas para retornar à paz", disse How, o líder de cerca de 100 pessoas aglomeradas em frente ao palácio.

O sistema de votação é bastante diferente do brasileiro: o voto não é obrigatório e pode ser inclusive enviado pelo correio pelos eleitores, até a véspera do pleito. Nas últimas eleições gerais, em 2005, nada menos do que 50% dos eleitores escolheram votar por correspondência, e os institutos de pesquisa apontam que, desta vez, o índice deve ser ainda maior. Por conta disso, existem até mesmo entidades que estimulam a "doação" do voto por parte daqueles que não iriam votar. A ideia é permitir que as pessoas que não têm direito a voto, como imigrantes ou habitantes de outros países, possam participar do pleito.

"A política do Reino Unido é muito maior do que as nossas fronteiras terrestres. Muita gente tem relação com a Grã-Bretanha mas acaba ficando de fora de uma discussão e um momento tão importante quanto a eleição do novo primeiro-ministro", disse May Abdalla, representante da associação Give your vote.

Também diferentemente do Brasil, não apenas escolas, mas igrejas, bibliotecas e diversos outros pontos públicos podem abrigar as urnas. Os pontos de votação são abertos às 7h e só são fechados no final da noite, às 22h. Os primeiros resultados da apuração são esperados por volta da meia-noite, o que estimula muitos pubs a promoverem uma "noitada eleição" para receber os eleitores mais engajados. Nas ruas, vários destes pubs - os tradicionais bares onde os ingleses se encontram após o trabalho - utilizavam a apuração da eleição para atrair consumidores à noite.

Como acontece em outros países da Europa e nos Estados Unidos, no Reino Unido os jornais declaram suas preferências por um ou outro candidato, nos dias que antecedem as eleições. A capa do The Sun de hoje mostrava uma foto de David Cameron manipulada de maneira a ficar idêntica a uma foto do presidente americano Barack Obama, sob o título de "Nossa única esperança". Enquanto isso, o Daily Miror insinuou que o candidato conservador é inexperiente para o cargo e questionava se Cameron, o favorito a vencer o pleito, será mesmo eleito.

Fonte: Especial para Terra
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