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América Latina

Unasul, um organismo "em construção" que tenta ganhar peso

2 mai 2010 - 09h02
(atualizado às 09h16)
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Apesar de ainda não ter "vigência jurídica", a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) tentará, na próxima terça-feira, na Argentina, dar uma demonstração de força após as divisões internas que a estremeceram.

Os 12 países-membros da Unasul se reunirão na localidade de Los Cardales, na província de Buenos Aires, para decidir se o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007) será o secretário-geral do organismo, após resistências que sua candidatura enfrentou nos últimos dois anos.

O Governo de Cristina Fernández, mulher de Kirchner, acredita que vai conseguir o respaldo unânime depois da ofensiva política realizada meses atrás para somar apoios, especialmente de Peru e Uruguai, que tinham se mostrado reticentes à candidatura.

O Equador, presidente temporário do fórum, pretende aproveitar a reunião para analisar o processo de ratificação parlamentar do Tratado Constitutivo, uma condição necessária para que a Unasul adquira "vigência jurídica" e que até agora só foi cumprida por Bolívia, Equador, Venezuela e Guiana.

O chanceler equatoriano, Ricardo Patino, falou sobre o assunto há alguns dias, durante viagem por Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Paraguai para pedir que os respectivos Parlamentos ratifiquem a constituição da Unasul, requisito que deve ser cumprido por pelo menos nove países para que o tratado entre em vigor.

O atraso na ratificação do acordo reflete as "fendas estruturais" que persistem no organismo, declarou à agência Efe a diretora de Projetos e Programas do Centro Argentino de Estudos Internacionais (CAEI), María Cecilia Pon.

"A Unasul sofre o mesmo defeito estrutural que outros sistemas de integração da região, que nunca concretizam as agendas em temas cruciais, como energia ou diferenças tarifárias", afirmou Maria Cecilia.

Para Félix Peña, do Conselho Argentino para as Relações Internacionais (Cari), a Unasul, criada no Brasil em maio de 2008, "é um mecanismo que está em plena construção, um espaço útil para desfazer problemas, portanto é preciso tempo".

As divisões internas do bloco ficaram expostas com o acordo que a Colômbia assinou em 2009 com os Estados Unidos para o uso de bases militares, e que motivou uma cúpula extraordinária em Bariloche (Argentina).

Venezuela, Equador e Bolívia foram os países que mais questionaram o acordo, que também foi criticado por Brasil e Argentina, enquanto Chile, Paraguai, Peru e Uruguai expressaram respeito pelo convênio militar.

Os Estados Unidos assinaram semanas atrás um acordo militar com o Brasil, e o Governo Lula enviou uma cópia do texto à sede da Unasul, no Equador, para que seus vizinhos conhecessem os detalhes.

As diferenças internas do organismo ficaram evidentes também durante o conflito originado pelo golpe de Estado de junho de 2010 contra o presidente Manuel Zelaya em Honduras, um dos temas que está na agenda de 4 de maio.

Colômbia e Peru reconheceram o pleito hondurenho de novembro, que já estava previsto, mas que foi organizado durante o mandato de facto de Roberto Micheletti, e que deu o triunfo a Porfirio Lobo, enquanto Brasil e Venezuela lideraram o grupo que se opôs a reconhecer eleições sem Zelaya no poder.

O presidente equatoriano, Rafael Correa, evitou inclusive convocar uma reunião da Unasul para debater a situação de Honduras porque não havia "consenso", segundo reconheceu em dezembro passado, embora quatro meses antes chanceleres da região tivessem expressado que não reconheceriam "nenhuma convocação a eleições de parte do Governo de facto".

"A crise de Honduras mostrou a falta de eficácia operacional da Unasul, mas também do Brasil, que não apresentou uma boa solução", disse à Efe a analista da empresa de consultoria Nueva Mayoría Rosendo Fraga.

Por outro lado, especialistas consultados consideraram que o bloco foi eficaz na crise da Colômbia com a Venezuela e Equador, em março de 2008, por uma operação militar de Bogotá contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em solo equatoriano, e no massacre de 20 camponeses bolivianos no mesmo ano na localidade de Pando.

Na cúpula de terça-feira, a Unasul também se propõe a analisar o diálogo com os EUA após o interesse do Brasil e outros países-membros de convocar o presidente do país, Barack Obama, para que apresente sua estratégia para a região.

Além disso, prevê abordar o apoio regional à reconstrução do Haiti e Chile, devastados por fortes terremotos em janeiro e fevereiro, respectivamente, e a criação de um fórum de países latino-americanos e do Caribe.

EFE   
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