Ex-preso é 1º a depor em retomada do julgamento de Karadzic
O ex-prisioneiro bósnio muçulmano Ahmet Zulic foi a primeira testemunha a depor nesta terça-feira na retomada do julgamento contra o antigo líder servo-bósnio Radovan Karadzic, acusado de levar a cabo uma limpeza étnica em Sanski Most (Bósnia).
Zulic relatou a brutalidade das condições do campo de detenção para que foi levado e a forma como foi tratado pelas tropas sérvias.
"Perante a falta de água, durante a prisão só podíamos beber nossa própria urina", narrou o ex-prisioneiro, que descreveu as condições "subumanas" às que foi submetido durante seu cativeiro.
Ele explicou que viveu junto a dezenas de outros prisioneiros em uma pequena garagem e relatou as surras que eles levavam. "Às vezes um homem nos segurava enquanto outro nos batia com um taco". Zulic afirmou que recebeu uma surra brutal por se negar a se benzer, como um soldado tinha lhe mandado.
"Quando alguma criança os observava, os sérvios diziam estar praticando caratê", disse.
Zulic contou que sem água e amontoados em pequenos espaços, muitos prisioneiros morreram por desidratação. "Alguns morriam no meio da noite entre gritos, em dez minutos que pareciam uma eternidade, enquanto outros morriam silenciosamente", acrescentou.
O ex-prisioneiro foi a primeira testemunha na fase de prova do julgamento a Karadzic por genocídio e crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), retomado hoje em Haia.
Zulic já colaborou antes em julgamentos contra outros supostos criminosos de guerra da antiga Iugoslávia em Haia, como o ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic.
Karadzic, que se declara inocente e é o responsável pela sua defesa, pode ser condenado a prisão perpétua caso seja declarado culpado de ser o "comandante supremo" de uma campanha de limpeza étnica contra os muçulmanos, como acusa o fiscal Alan Tieger.
Nos dias 1 e 2 de março, em suas alegações iniciais, Karadzic chamou o massacre de Srebrenica, realizado em julho de 1995, de mito. Na época cerca de oito mil homens e adolescentes morreram após a tomada da cidade majoritariamente muçulmana pelas forças servo-bósnias.