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Mundo

Oposição acusa Governo na África do Sul por tensão racial

6 abr 2010 - 15h41
(atualizado às 15h56)
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Todos os partidos da oposição na África do Sul responsabilizam o Governo pelo clima de tensão racial que, segundo eles, permitiu o assassinato do líder africâner Eugene Terreblanche, enquanto o processo judicial sobre seu assassinato iniciou nesta terça-feira com a acusação dos dois suspeitos.

Dois funcionários da fazenda do ultradireitista Terreblanche, um de 28 anos e um menor de 15, foram hoje formalmente acusados por seu assassinato no julgamento de primeira instância de Ventersdorp, na província Noroeste da África do Sul, informou a Procuradoria.

Enquanto a audiência se realizava a portas fechadas, do lado de fora do tribunal grupos de centenas de pessoas - um de negros que apoiavam os acusados e outro de brancos simpatizantes de Terreblanche - tiveram que ser separados pela Polícia para evitar incidentes.

A Polícia teve que mobilizar uma barreira de arame farpado entre os dois grupos.

Os brancos, muitos deles com símbolos nazistas do Movimento de Resistência Africâner (AWB, na sigla em inglês) de Terreblanche, qualificavam de "babuínos" os negros e exibiam cartazes que acusavam o partido governista Congresso Nacional Africano (CNA) pela morte de milhares de granjeiros desde o fim do "apartheid".

Os negros, muitos deles do humilde povoado onde residem os dois acusados, se mostravam hostis e cantavam palavras em favor dos réus, aos quais qualificaram de "heróis" e "valentes" por terem assassinado Terreblanche, odiado por sua ideologia racista e defensor da supremacia branca.

Apesar da enorme tensão ao redor do tribunal de Ventersdorp, a audiência terminou sem graves incidentes e o juiz agendou para 14 de abril a próxima audiência com os réus, contra os quais foram apresentadas acusações de homicídio, invasão de domicílio, roubo com agravantes e destruição de provas.

Segundo o promotor do caso, George Baloyi, os acusados Chris Mahlangu, de 28 anos, e o menor, de 15 anos, serão processados juntos, embora a legislação seja diferente para menores de idade.

Em alguma medida, a tensão diminuiu no país em relação às primeiras horas após o assassinato, no domingo passado, principalmente após o AWB, um grupo com um modelo de organização paramilitar, retirar suas ameaças de "vingança" pela morte de seu líder e assegurar agora que não realizarão ações violentas.

Apesar disso, todos os partidos opositores responsabilizam o CNA e o Governo, liderado pelo presidente Jacob Zuma, pelo aumento da tensão racial no país, onde há quase 80% de negros, mais de 9% de brancos, pouco menos de 9% de mestiços e cerca de 2,5% de hindus.

A líder da oposição, a liberal Helen Zille, pediu hoje uma reunião urgente com Zuma para tratar da questão e, especialmente, sobre o suposto envolvimento do líder da liga juvenil do CNA, Julius Malema, que insiste em entoar canções proibidas de ofensa aos brancos.

Tanto Zille como o resto da oposição consideram que Malema, com suas ofensas, insultos e provocações, dirigidas especialmente aos brancos, aumentou as tensões raciais nos últimos meses e criou um clima que propiciou esse assassinato, mas seu partido o defende.

O fato ocorreu faltando dois meses para o início na África do Sul da Copa do Mundo de 2010, o que também preocupou as autoridades pela repercussão no exterior e suas possíveis consequências, mas o ministro de Segurança, Nathi Mthethwa, disse hoje que "não há razão para que os turistas fiquem preocupados".

O vice-presidente do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais, Lawrence Sclemmer, assinalou, por sua vez, que "não há nenhuma razão para que essas coisas, por mais trágicas que sejam, afetem a segurança dos torcedores ou dos jogadores durante a Copa do Mundo".

Terreblanche apareceu morto a machadadas e golpes no sábado em sua fazenda do noroeste do país. A Polícia deteve os dois acusados, que declararam que tinham discutido com ele porque não recebiam pagamento pelo trabalho.

EFE   
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