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Europa

Turquia alerta EUA por possível reconhecimento de genocídio

5 mar 2010 - 08h25
(atualizado às 10h45)
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A Turquia alertou nesta sexta-feira os Estados Unidos sobre uma possível piora nas relações bilaterais com a aprovação, na Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes americana, de uma moção a favor do reconhecimento do genocídio armênio.

Manifestantes gritam palavras de ordem, durante protesto em frente à embaixada americana, em Ancara
Manifestantes gritam palavras de ordem, durante protesto em frente à embaixada americana, em Ancara
Foto: Reuters

Segundo Ancara, a resolução pode ainda interromper o processo de normalização de relações diplomáticas com a vizinha Armênia, iniciado em 2008.

A proposta de moção qualifica de "genocídio" a deportação e o massacre de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano, antecessor da Turquia, durante a Primeira Guerra Mundial.

No entanto, os turcos asseguram que os números são falsos e que grupos de armênios armados, apoiados pela Rússia durante a disputa, também mataram milhares de muçulmanos otomanos.

A Turquia fechou a fronteira com a Armênia em 1993, em virtude da guerra que confrontou armênios e azerbaijanos pelo controle do enclave de Nagorno-Karabakh, situado em território do Azerbaijão mas sob controle armênio.

"Condenamos a resolução que acusa a nação turca de um crime que não cometeu", criticou o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, em comunicado após a votação no Congresso americano.

"Tememos que a aprovação dessa moção, apesar de nossas advertências, possa abalar as relações entre Turquia e EUA e deter o processo de normalização com a Armênia", diz a nota.

Ancara chamou para consultas o embaixador em Washington, Namik Tan, e hoje o ministro de Assuntos Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, afirmou que as conversas podem ser "longas".

Davutoglu explicou que o governo turco tratará com seu embaixador e com a oposição as medidas de protesto que serão tomadas, incluindo o futuro da base militar de Incirlik, no sudeste da Turquia. As instalações estão cedidas aos EUA e são de fundamental importância para o abastecimento das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.

O chefe da diplomacia turca pediu aos EUA que atue com "bom senso" e não se deixe levar por "interesses locais", para que "não haja uma crise a cada primavera" por causa da lembrança do genocídio armênio, em 24 de abril, e as iniciativas parlamentares que lhe precedem.

Também hoje, o embaixador dos EUA em Ancara, James Jeffrey, lamentou a votação e afirmou que seu governo é "contra", já que tanto o presidente Barack Obama como a secretária de Estado, Hillary Clinton, pressionaram a comissão para que não votasse a proposta.

Torcida

Na Turquia, a votação foi acompanhada quase como um jogo de futebol da Copa do Mundo e todos os canais de notícias transmitiram ao vivo a sessão da comissão diretamente de Washington.

"Perdemos nos descontos", diz hoje o diário turco Milliyet, que se queixa que quando a sessão deveria ter acabado e a votação caminhava com um 22 a 20 contra a resolução, o presidente da comissão, o democrata Howard Berman, estendeu o tempo e pressionou os deputados a se manifestar a favor.

Contudo, a imprensa turca também explicou que a resolução ainda deve ser votada no plenário da Câmara de Representantes, depois no Senado e, finalmente, deve ser aprovada por Obama. Isso torna bastante improvável que prospere.

"Os Parlamentos não são o local adequado para julgar a história", afirmou Davutoglu, que assegurou que o governo estava disposto a compartilhar documentos com os armênios para esclarecer o que aconteceu na Primeira Guerra Mundial.

O ministro turco se mostrou contrário à "intervenção de outros países" na polêmica sobre o genocídio já que, segundo ele, "danificam" as já complicadas relações entre Turquia e Armênia.

Mesmo assim, se mostrou disposto a continuar os "esforços para conseguir a paz e a estabilidade no Cáucaso". Porém, parece claro que os eventos de ontem afastam de certo modo a possibilidade de restabelecer relações com a Armênia, o que, há apenas alguns meses, parecia mais perto do que nunca.

EFE   
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