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América Latina

Sobrevivi com refrigerante e doces, diz haitiano resgatado

23 jan 2010 - 22h07
(atualizado às 23h19)
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O haitiano Wismond Exantus, resgatado neste sábado em Porto Príncipe depois de passar 11 dias sob os escombros da loja onde trabalhava, contou que sobreviveu à base de Coca-Cola e doces.

O jovem haitiano foi resgatado neste sábado em Porto Príncipe
O jovem haitiano foi resgatado neste sábado em Porto Príncipe
Foto: AP

"Sobrevivi bebendo Coca-Cola. Bebia Coca-Cola todos os dias e comi algumas coisinhas doces", disse ao ser levado para o hospital após ter sido resgatado por uma equipe de socorristas franceses, gregos e americanos.

Ele ficou preso nas ruínas da loja Napolitain, onde trabalhava no momento do terremoto.

"Senti o tremor e perdi a consciência. Quando acordei, gritei 'Gerald, Gerald!'", disse, referindo-se a seu colega de trabalho.

Exantus ficou preso em um pequeno espaço entre os escombros, mas conseguia se mexer um pouco para os lados. Ele tentava fazer barulho com o que tinha ao alcance das mãos, para tentar chamar a atenção das equipes de socorro.

Incapaz de sair sozinho, o jovem - que, aplaudido, deixou o local consciente e conversando -, afirmou não ter gritado, só rezado.

O irmão de Exantus, Jean-Pierre Jeaneli, disse que não conseguiu se aproximar da loja onde o irmão trabalhava, porque a polícia havia bloqueado o acesso ao prédio.

"Ajudei outras pessoas depois do terremoto. Ajudei a tirá-las dos escombros. Mas não conseguia ir à loja, porque a polícia impedia que nós fôssemos lá", disse.

"É um verdadeiro milagre", afirmou o tenente-coronel Christophe Renour, comandante do contingente francês que resgatou o jovem. "Esperamos que não seja o último".

"Ele estava em um oco dos escombros, onde podia se mover um pouco e podia encontrar o que o ajudou a sobreviver", afirmou ele.

"Algo extraordinário aconteceu. Ele resistiu durante 11 dias, o que é especialmente incrível", disse Didier le Bret, embaixador da França no Haiti, que acompanhou o salvamento.

"Oficialmente, os trabalhos de busca e resgate terminaram ontem (sexta-feira), mas como os bombeiros são uma gente obstinada, vieram quando chamados", elogiou o diplomata francês.

Ao todo, 62 equipes de resgate estrangeiras ainda trabalham para encontrar sobreviventes na capital haitiana, onde 133 pessoas já foram salvas com vida dos escombros do terremoto.

Na sexta-feira, um homem de 22 anos e uma mulher de 84 foram resgatados.

O Ministério haitiano do Interior divulgou um novo balanço de mortos neste sábado: 112.226. Além disso, foram contabilizados 194 mil feridos.

"Os danos são catastróficos", disse o ministério em um comunicado, indicando haver pelo menos um milhão de pessoas desabrigadas.

De acordo com o novo relatório, metade das casas da capital, Porto Príncipe, e das cidades de Jacmel e Léogâne, também atingidas pelo terremoto do dia 12 de janeiro, foi destruída.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 75 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, o tenente da Polícia Militar do Distrito Federal Cleiton Batista Neiva, e pelo menos 18 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Também foi confirmada a morte de uma brasileira com dupla nacionalidade, cuja identidade não foi divulgada.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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