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Brasileiros inauguram orfanato no Haiti após terremoto

22 jan 2010 - 10h08
(atualizado às 11h05)
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Francisco de Assis
Enviado especial a Porto Príncipe

Pelas estradas mal conservadas do subúrbio de Porto Príncipe, no Haiti, até mesmo os veículos mais possantes acabam em situações desconfortáveis. Chegar ao distrito de Croix Boquets, um entre tantos municípios haitianos tomados pela pobreza, chega a ser uma aventura. Neste cenário, a reportagem do Terra encontra o orfanato de Blessing Hand, a primeira obra inaugurada no país após o terremoto do último dia 12 de janeiro, uma iniciativa dos militares brasileiros que fazem parte da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).

Celebridades se unem para ajudar o Haiti:

"Somos abençoados por Deus. É impossível acreditar que algo tão bom tenha acontecido com a gente no meio desta catástrofe", diz Sanon Suze, a diretora do internato. "Vivíamos em um lugar escuro, que cheirava mal e não havia lugares para que as crianças brincassem. Todos os dias tínhamos problemas porque ninguém gostava de lá, mas não tínhamos outra opção", afirma a voluntária haitiana que é tida como a mãe de 32 órfãos.

"Ela me trata muito bem. Cuida de nós e nos ensina muitas coisas", afirma Milta Noel, 12 anos. "Gosto daqui. As camas são novas e tem espaço para correr pelo pátio." O local está construído em uma área pobre, onde muitas famílias vivem em condições precárias. As paredes brancas, com o desenho dos personagens da Turma da Mônica, dão alegria ao ambiente cercado por construções de barro.

Por lá um simples tijolo ainda é muito raro, fato que faz com que a Blessing Hand seja o orgulho da comunidade. "Gosto muito de estudar. Tenho vontade de aprender muitas coisas", diz Noel. "Os professores me tratam bem e eu não quero parar de ir à escola."

Parte das crianças que estão no orfanato foi abandonada pelos pais no Haiti. "Quero ser engenheiro", diz Paul Carlins, 10 anos. "Vou construir muitas casas quando for grande." Uma influência deixada pelos brasileiros que, sensibilizados pela falta de estrutura do antigo local, tiraram o dinheiro do próprio bolso para criar um lar para as crianças.

"Ao longo do nosso trabalho, descobrimos estas crianças jogadas em um lugar mal conservado. Como estamos longe de casa, longe das nossas mulheres, com saudade dos nossos filhos, ficamos sensibilizados com essas crianças", afirma o tenente Sérgio Luiz Marques. "Foi daí que surgiu a ideia de fazer uma casa nova para elas. Sem dinheiro, a solução que encontramos foi arrecadar fundos com doações dentro do próprio quartel."

Ao todo, foram necessários 30 dias para a construção. A obra custou cerca de US$ 30 mil. "Isso aqui tudo era uma plantação de mamona antes. É uma obra que já tinha sido iniciada antes do terremoto e que agora está pronta", afirma o militar. "Tínhamos que ser rápidos porque queríamos ver o orfanato pronto antes de voltarmos ao Brasil. Parte do pelotão regressa no início do mês."

"Gosto muito deles (soldados brasileiros) porque eles brincam com a gente e estão aqui todos os dias", afirma Laciin Osmeli, vestida com uma camisa do Brasil. "Eles pagam a nossa escola, nos dão comida e compram o nosso material escolar. Tratam a gente com amor", diz Eli François.

Um gesto que longe dos holofotes retrata o motivo pelo qual os brasileiros são tão queridos entre o povo haitiano. "Graças aos brasileiros essas crianças vão ter a oportunidade de serem educadas. É o que eles podem levar daqui", afirma Sanon Suze. "Foram eles que nos deram essa condição de vida. Essas crianças são o futuro do Haiti."

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 75 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, o tenente da Polícia Militar do Distrito Federal Cleiton Batista Neiva, e pelo menos 18 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Também foi confirmada a morte de uma brasileira com dupla nacionalidade, cuja identidade não foi divulgada.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Fonte: Especial para Terra
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