PUBLICIDADE

América Latina

Ajuda a bancos foi 4 mil vezes superior a doações ao Haiti

19 jan 2010 - 01h46
(atualizado às 07h26)
Compartilhar
Adriana Diniz

A União Europeia anunciou segunda-feira que enviará um total de 429 milhões de euros (o equivalente a mais de US$ 600 milhões) em ajuda de curto e longo prazo ao Haiti, enquanto os Estados Unidos doarão US$ 100 milhões. Porém, o aporte financeiro dado pelos países europeus e americanos a bancos durante a crise financeira mundial foi 4 mil vezes maior. O socorro aos banqueiros na Europa chegou a US$ 2,28 trilhões e nos Estados Unidos, a US$ 700 bilhões. Só para a seguradora AIG (America International Grupo), o governo americano disponibilizou US$ 180 milhões, quase o dobro do valor doado ao Haiti.

Moradores tentam pegar água que jorra de um galão furado
Moradores tentam pegar água que jorra de um galão furado
Foto: AP

Da doação da União Europeia, 122 milhões de euros serão gastos em ajuda humanitária urgente, 107 milhões de euros serão destinados à reparação imediata da infraestrutura básica do país e outros 200 milhões de euros serão colocados "à disposição" do governo haitiano para a reconstrução do país a longo prazo. Para analistas, a ajuda em dinheiro, nesse momento, tem efeito muito mais simbólico que prático e pode não cumprir seu verdadeiro papel: de ajudar os haitianos a reconstruir o país.

"A mensagem que os países ricos estão enviando ao mundo é: 'olha, não socorremos só os bancos, mas também os países pobres'", afirma o especialista em economia internacional, Ernesto Lozardo. "Estão querendo evitar uma crítica mundial. É positivo, mas tenho dúvidas se isso vai resultar num bem econômico e social real para o país", diz.

O total da ajuda financeira já disponibilizada para o Haiti ultrapassa US$ 1,5 bilhão. Significa uma ajuda de 13% do PIB (Produto Interno Bruto) registrado em 2008 (US$ 11,53 bilhões) e muito mais que o orçamento do governo no mesmo ano, que era de US$ 967 milhões, de acordo com agência americana. Se o montante fosse dividido igualmente entre a população, cada haitiano teria direito a US$ 166 (ou R$ 292). "É muito para o Haiti, que é um país de milhões de miseráveis, mas muito é pouco para esses países ricos", acrescenta Lozardo.

"A situação no Haiti, até anterior ao terremoto, é de um Estado falido, portanto é preciso primeiro reconstruir o Estado. Tem que redesenhar todo o país, criar novas instituições. O problema maior do Haiti hoje é de organização", diz o economista Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente do Conselho de Empresas da América Latina.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, e pelo menos 17 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Um militar está desaparecido.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
Compartilhar
Publicidade