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América Latina

Cruz Vermelha define situação no Haiti como "catastrófica"

18 jan 2010 - 13h16
(atualizado às 14h10)
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A situação no Haiti é "catastrófica", a população está cada vez mais crítica pela falta de água e comida e os corpos começaram a ser incinerados em valas improvisadas nas ruas de Porto Príncipe, disse nesta segunda o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Centenas de pessoas formam fila para conseguir comida no complexo da ONU em Porto Príncipe
Centenas de pessoas formam fila para conseguir comida no complexo da ONU em Porto Príncipe
Foto: Reuters

Em uma macabra descrição da situação a seis dias do terremoto que devastou a capital haitiana, a organização humanitária afirmou que a "indiferença está aparecendo", "as pessoas começaram a tirar os corpos de frente das portas" e testemunhas denunciam a cremação improvisada de corpos na mesma cidade.

Luta pela sobrevivência

Além disso, "a busca de corpos parece ter terminado", enquanto as pessoas buscam entre os escombros qualquer coisa que possa ser útil. Em um relatório atualizado, o CICV ressaltou que a situação sanitária nos improvisados acampamentos de desabrigados continua se deteriorando, o que aumenta o risco de surto de doenças.

A organização está abastecendo água para 7,5 mil pessoas em três acampamentos e instalou banheiros públicos para mil pessoas. "A água não é só uma questão para saciar a sede. Lavar-se permite manter a higiene e devolver a dignidade às pessoas que perderam tudo", explicou o coordenador dessas ações, Guy Mouron.

Os preços dos alimentos e do transporte estão muito mais caros (o pão custa o dobro que há seis dias) e os incidentes violentos, como saques, aumentam o ritmo do desespero das pessoas. Houve inclusive quem alertasse a gritos sobre a chegada de um tsunami para aterrorizar os outros e poder roubar o que deixam durante a fuga.

A CICV indicou que todos os que dispõem de meios econômicos estão escapando e que a fronteira com a República Dominicana está repleta de pessoas procurando sair do Haiti. Perto do aeroporto, pessoas com dupla nacionalidade haitiana e americana estão fazendo fila em frente à Embaixada dos EUA para poder sair do país.

A organização, habituada a lidar com situações extremas, indicou que, dada a magnitude do desastre, não pode fornecer números exatos sobre o número de mortos e feridos pelo terremoto. Por outro lado, o CICV afirmou que está trabalhando com a Cruz Vermelha haitiana para instalar em seus escritórios um posto de contato para pessoas que buscam seus familiares desaparecidos, enquanto os sobreviventes podem se registrar como "sãos e salvos".

Cerca de 22 mil pessoas se registraram até agora no site www.icrc.org/familylinks para encontrar os parentes. Já a Federação Internacional da Cruz Vermelha, que reúne mais de 180 sociedades nacionais, indicou que enviou mais de 400 colaboradores para participar das tarefas de ajuda à população afetada.

A entidade espera mobilizar no total 500 toneladas de ajuda, entre a já enviada e a que ainda enviará nos próximos dias. A Federação lançou um pedido de financiamento de emergência de 73 milhões de euros para ajudar 300 mil pessoas durante três anos.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, e pelo menos 16 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Dois militares estão desaparecidos.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

EFE   
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