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Haiti tem 70 mil pessoas enterradas em valas comuns, diz governo

17 jan 2010 - 23h08
(atualizado em 18/1/2010 às 00h13)
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Cerca de 70 mil corpos foram enterrados em valas comuns no Haiti depois do violento terremoto que devastou o país, anunciou neste domingo o secretário de Estado para a Alfabetização, Carol Joseph. O ministro disse que o governo decretou estado de emergência até o final de janeiro, assim como um luto nacional de 30 dias, até 17 de fevereiro.

Voluntário de uma ONG espanhola busca por vítimas do terremoto com a ajuda de um cão farejador
Voluntário de uma ONG espanhola busca por vítimas do terremoto com a ajuda de um cão farejador
Foto: EFE

O registro anterior, divulgado no sábado pelo primeiro-ministro haitiano Jean-Max Bellerive, indicava cerca de 25 mil corpos recolhidos.

Os "milagres" e a violência se alternavam neste domingo no Haiti, com a descoberta, cinco dias depois do terremoto, de mais pessoas vivas entre as ruínas de uma Porto Príncipe, onde aumentam os saques e os sobreviventes vagam famintos sob um sol escaldante.

Um dinamarquês membro da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) foi resgatado neste domingo em bom estado de saúde, depois de ter permanecido quase cinco dias embaixo dos escombros. "Acabaram de resgatá-lo sem um arranhão", disse um alto funcionário da Minustah, que pediu para não ser identificado, ao se referir ao sobrevivente Jen Kristensen.

Na manhã deste domingo os socorristas tinham resgatado três pessoas entre os escombros de um supermercado: uma criança de 7 anos, um homem de 34 e uma mulher de 50, que tiveram a sorte de estar cercados de alimentos. Uma quarta pessoa, um homem, permanecia vivo sob os escombros à espera de sua retirada.

Essas quatro pessoas se somam aos 70 sobreviventes encontrados até agora sob os escombros de Porto Príncipe pelas 43 equipes internacionais no local, que chegam a 1.739 socorristas e 161 cães. As equipes conseguiram chegar a 60% das áreas mais afetadas pelo terremoto.

Em Leogane, a 17 km de Porto Príncipe e epicentro do terremoto, 90% das construções estão destruídas, segundo a ONU. "Este é realmente o epicentro do terremoto e muitas, muitas pessoas morreram", afirmou David Orr, do Programa de Alimentação Mundial (PAM). A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) abriu um hospital de emergência em Carrefour, distrito próximo a Leogane, e lançou um apelo urgente para que os veículos que transportam material médico possam chegar o quanto antes possível.

Já as equipes da ONG Médicos do Mundo (MDM) indicaram neste domingo que a situação é "catastrófica" e lamentaram não ter outra alternativa a não ser amputar membros de várias vítimas.

No plano diplomático, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegou neste domingo ao Haiti para percorrer as ruínas da sede da missão da ONU na capital e se reunir com o presidente René Preval. O Conselho de Segurança da ONU indicou que se reunirá na segunda-feira para discutir a coordenação da ajuda.

O presidente do Haiti viajará na segunda-feira para Santo Domingo para assistir a uma reunião preparatória da Cúpula Mundial pelo Haiti, convocada para reconstruir o país. Nesse mesmo dia, o presidente do BID, Luis Moreno, chegará a Porto Príncipe para discutir a ajuda da organização.

O ex-presidente americano Bill Clinton, enviado especial da ONU ao Haiti, também viajará para esse país na segunda-feira para fornecer ajuda e se reunir com dirigentes haitianos e sobreviventes, informou a sua fundação.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, e pelo menos 15 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Três militares estão desaparecidos.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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