PUBLICIDADE

América Latina

Brasil não pode descartar fortes tremores, diz especialista

15 jan 2010 - 06h18
(atualizado às 06h42)
Compartilhar

A hipótese de um terremoto de consequências graves no Brasil é muito rara mas não pode ser descartada, segundo George Sand França, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis- UnB). Em entrevista à BBC Brasil, França enumera uma série de fatores que poderiam influenciar no resultado de um tremor em território brasileiro, como o aumento da densidade populacional, a falta de estruturas resistentes a abalos e comparações com catástrofes ocorridas em locais com características geológicas semelhantes.

Mulher checa etiqueta que identifica corpo no estacionamento de um hospital
Mulher checa etiqueta que identifica corpo no estacionamento de um hospital
Foto: AFP

Um dos exemplos citados pelo especialista é a série de terremotos que atingiu a cidade de New Madrid, hoje no Estado americano do Missouri, entre 1811 e 1812. Os tremores chegaram a ser sentidos em Nova York e Boston, a milhares de quilômetros de distância.

"Esses abalos atingiram até 8,2 graus na escala Richter em uma área que fica no meio da placa norte-americana e não nos seus limites, onde é mais comum ocorrerem terremotos fortes", disse França. "Deveria servir de alerta para o Brasil porque o país também está no meio de uma placa, a sul-americana, cujos limites estão no meio do Oceano Atlântico, a leste, e na costa dos países do Pacífico, a oeste."

Mais pessoas

Desde o início das primeiras medições instrumentais, no início da década de 50, o tremor mais forte já registrado no Brasil atingiu 6,2 graus e ocorreu em 1955 em Porto dos Gaúchos (MT). "Hoje, a concentração demográfica da região é muito maior, então dá para se imaginar o que pode acontecer se houver um terremoto igual novamente", afirmou França. "E vai haver outro. Não sei quando - posso até nem estar mais vivo - mas vai haver."

Segundo o especialista, a qualidade das construções também precisa ser revista para se reduzir a possibilidade de uma catástrofe. "É preciso lembrar que no Brasil um terremoto entre 4,0 e 5,0 graus tem um impacto muito forte, já que não temos a estrutura do Japão e dos Estados Unidos para fazermos construções mais resistentes a abalos, e porque falta uma boa fiscalização das construções", afirmou o especialista.

Em 2007, um tremor de 4,9 graus atingiu as cidades de Caraíbas e Itacarambi (MG), destruindo várias casas e matando uma menina de 5 anos. Foi a primeira vez que um tremor deixou uma vítima fatal no país. "Essa morte ocorreu porque a casa onde a menina morava não estava preparada para o sismo", explicou França.

Investimentos

Já para o britânico Julian Bommer, professor de avaliação de risco de terremotos do Imperial College, de Londres, a frequência e a intensidade dos tremores no Brasil não justificam um investimento em estruturas específicas para resistir a abalos. "É melhor gastar com a proteção a incidentes mais comuns e urgentes no país, como a violência e as inundações", afirmou ele à BBC Brasil. "Apenas para estruturas mais críticas, como barragens e usinas nucleares, deveria se investir em construções anti-sísmicas."

Bommer, no entanto, endossa a ideia de que, apesar de ser uma possibilidade muito pequena, o Brasil pode estar sujeito a um terremoto de consequências graves. "É preciso lembrarmos que os tremores ocorrem em intervalos que podem ser de séculos, e que nos 500 anos do Brasil ainda não se experimentou um abalo muito forte", explicou.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade