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Ásia

Invasão soviética no Afeganistão completa 30 anos

25 dez 2009 - 16h05
(atualizado às 17h12)
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A invasão soviética no Afeganistão, conflito muitas vezes chamados de "Vietnã Russo", já que contribuiu para a queda da URSS, completa hoje 30 anos com seus protagonistas imersos no mais profundo esquecimento.

"Completamos com honra e coragem nossa missão militar e internacionalista (...), a sociedade deveria dedicar aos combatentes no Afeganistão a mesma atenção que aos veteranos da guerra contra os nazistas", disse hoje o general Ruslan Aushev, condecorado por sua participação no conflito (1979-89).

Aushev denuncia a situação de marginalização a que a sociedade soviética e russa condenou os 620 mil soldados que combateram durante uma década um "inimigo invisível", os guerrilheiros mujahedin, armados pelos Estados Unidos.

O general lembrou hoje que em outras antigas repúblicas soviéticas como Ucrânia, Cazaquistão, Uzbequistão, os combatentes afegãos têm os mesmos direitos que os veteranos da Segunda Guerra Mundial.

O Afeganistão, a última intervenção militar da URSS fora de suas fronteiras, ainda é um tema tabu na Rússia, ignorado tanto pelo Kremlin como pela imprensa.

Enquanto a Guerra do Vietnã foi centro de vários filmes e livros nos EUA, os russos sentem certa apreensão em mencionar essa guerra, na qual mais de um milhão de afegãos morreram vítimas de bombardeios soviéticos.

"Tenho a impressão de que a experiência militar das tropas soviéticas no Afeganistão é estudada em todas as partes, menos na Rússia", aponta o general Valeri Vostrotin, chefe do comitê de segurança da Duma, citado pela agência de notícias local "Interfax".

Segundo números oficiais, o Exército soviético perdeu cerca de 15 mil homens no Afeganistão, menos que o Exército russo na Chechênia, e dezenas de milhares voltaram para casa doentes ou feridos.

Um dos motivos para o desprezo da opinião pública aos veteranos dessa guerra é o fato de que as tropas soviéticas foram retiradas do Afeganistão em fevereiro de 1989 por uma decisão política do Kremlin, o que foi entendido como uma derrota.

Isso contrasta com os heróicos relatos sobre a coragem sem igual mostrada por militares e civis durante a luta contra a Alemanha (1941-45).

"Apesar de todos os aspectos negativos, quando chegou a hora da retirada as tropas ainda estavam preparadas para combater. Não solucionamos o problema, mas não podíamos. Era impossível", disse o coronel Lev Korolkov, ex-agente da inteligência soviética no Afeganistão, ao canal de TV em inglês "Russia Today".

Korolkov considera "fatais as consequências da intervenção soviética no Afeganistão", detonante, para alguns historiadores, para o surgimento do radicalismo fundamentalista islâmico e de líderes como Bin Laden.

Já Aushev, ex-presidente da conflituosa república da Inguchétia, alerta que a coalizão aliada "abandonará o Afeganistão em ano e meio. Os Talibãs ganharão e assumirão o poder".

"Os talibãs não são um Exército, são partisans. Ninguém venceu uma guerra contra partisans. É uma missão militar impossível de cumprir. Lutar contra o povo não tem futuro", opina.

Tanto Aushev como o atual governador da região de Moscou, o general Boris Gromov, comandante que dirigiu a retirada das tropas do Afeganistão, dizem acreditar que a guerra foi um erro, mas consideram que a URSS nunca foi uma força ocupante.

"Ninguém nos encomendou vencer a guerra. A missão era de assistência. Praticamente, sustentamos a economia afegã. Tudo foi construído por nós, escolas, fábricas e estradas. Até imprimíamos dinheiro", disse Aushev.

Na época, a invasão soviética foi denunciada no Ocidente como uma descarada tentativa de Moscou de assumir o controle do Afeganistão, país-chave para o controle do cruzamento de caminhos entre o Oriente Médio e a China.

No entanto, o Kremlin rejeitou até dez pedidos das autoridades afegãs antes de se decidir sobre o envio de tropas e, quando o fez, nunca falou da ocupação do país, mas em preservar o regime comunista, no poder desde 1978.

O próprio Zbigniew Brzezinski, assessor do presidente americano Jimmy Carter, reconheceu que Washington tramou contra o Governo comunista local para provocar a intervenção e transformar o Afeganistão no "Vietnã Russo".

Segundo os arquivos soviéticos hoje desclassificados, os generais desaconselharam o desdobramento de tropas, mas o Politburo preferiu considerar os relatórios da KGB, que alertavam sobre a crescente presença dos EUA, o que mais tarde provocou o boicote ocidental dos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980.

EFE   
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