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Estados Unidos

Álbum reúne obras que Hitler queria para "Führermuseum"

9 dez 2009 - 14h39
(atualizado às 14h42)
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Depois de combater em diversos pontos da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, John Pistone estava entre os soldados norte-americanos que capturaram o refúgio montanhês de Adolf Hitler nos Alpes bávaros, nos últimos dias da guerra.

Robert Edsel segura o álbum com imagens das obras que Hitler queria para o seu museu
Robert Edsel segura o álbum com imagens das obras que Hitler queria para o seu museu
Foto: AP

Ao percorrer a casa de montanha de Hitler, conhecida como Berghof, perto da cidade de Berchetsgaden, Alemanha, Pistone encontrou uma mesa sob a qual existiam prateleiras. Entusiasmado com a certeza da vitória sobre os nazistas, Pistone carregou com ele um álbum repleto de fotografias de quadros, como recordação.

"A sensação de estar lá era ótima, e sabíamos que as forças deles estavam no fim, àquela altura", disse Pistone à agência de notícias Associated Press.

Só 64 anos depois de levar o álbum para sua casa em Ohio, Pistone, 87 anos, descobriu seu pleno significado: o documento era parte de uma série compilada por Hitler para selecionar as peças de arte que desejava para seu "Führermuseum", que seria construído em Linz, Áustria.

O álbum de Pistone deve ser formalmente devolvido à Alemanha em cerimônia no Departamento de Estado dos Estados Unidos, em janeiro. A Alemanha tem 19 outros álbuns localizados no complexo de Berchtesgaden, parte de uma coleção de 31 álbuns com imagens das peças destinadas ao museu de Linz ou em estudos para tanto.

O livro de Pistone, com espessura de 7,5 cm e peso de 5 kg, começou a sair da obscuridade algumas semanas atrás, quando um amigo dele ficou curioso sobre o álbum que estava na estante do veterano.

O amigo descobriu, depois de algumas buscas na internet, que a Monuments Men Foundation for the Preservation of Art, de Dallas, esteve envolvida, em 2007, na restituição de dois outros álbuns, usados para documentar obras de arte roubadas de famílias judias.

O fundador da instituição, Robert Edsel, se interessou pelos esforços de proteção a obras de arte na Segunda Guerra Mundial enquanto vivia na Itália, e viajou ao Ohio recentemente para examinar o álbum de Pistone. Bastou vê-lo para se convencer de que o ex-soldado tinha em mãos um dos álbuns que mostravam o acervo do museu planejado.

A lombada do álbum traz as palavras "Gemaldegalerie galeria de quadros, em alemão Linz", e o número romano XIII. O álbum ainda traz um selo da empresa que o encadernou, em Dresden.

Birgit Schwarz, historiadora alemã da arte que vive em Viena e escreveu livros sobre o elo entre Hitler e as artes (entre os quais um sobre o museu de Linz), está convencida da autenticidade do álbum. Ela diz ter reconhecido quadros que constam do álbum, bem como o título e o número.

"Está absolutamente provado!", ela escreveu em um e-mail entusiástico à AP, depois de ver imagens digitalizadas do álbum. "'Pest in Florenz', de Hans Makart, por exemplo, a primeira imagem do álbum XIII, foi um presente de Mussolini a Hitler", ela afirmou.

A busca por suvenires era coisa de rotina para os soldados aliados, ao final da guerra, e surgem problemas quando as pessoas tentam vender, em lugar de restituir, itens culturalmente importantes, disse Thomas Kline, advogado de Washington e especialista em restituição de obras de arte.

"É realmente importante que, quando as pessoas vasculham seus sótãos e encontram as recordações de guerra do vovô, estejam conscientes de que mesmo algo simples como um álbum de fotos pode ter significado cultural importante", disse Kline.

O embaixador J. Christian Kennedy, enviado especial do Departamento de Estado para assuntos relacionados ao Holocausto, disse que para a agência restituir objetos capturados durante a guerra era motivo de satisfação. "Nossa missão é fazer a coisa certa", afirmou.

Edsel criou sua fundação em 2007, para honrar e levar adiante o trabalho do grupo Monuments Men, formado por 345 homens e mulheres de 13 países que ajudaram os aliados a proteger tesouros culturais durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, eles começaram a buscar os proprietários legítimos das obras de arte saqueadas pelos nazistas, centenas de milhares das quais continuam desaparecidas.

"Meu desejo é completar o trabalho dos Monuments Men", disse Edsel, autor de dois livros sobre o trabalho do grupo. A descoberta dos álbuns pode ajudar. No caso de Pistone, os especialistas dispunham dos títulos das peças contidas no álbum, mas as fotos podem ajudá-los a identificar com precisão cada obra, diz Edsel.

"São documentos importantes da cena do crime", ele disse sobre os álbuns. Edsel diz que a arte que Hitler desejava para seu museu havia sido roubada, confiscada ou comprada. O álbum XIII continha peças de alguns dos pintores alemães favoritos de Hitler, entre as quais uma foto do retrato de Frederico, o Grande, por Adolf von Menzel, que decorava o escritório de Hitler em Munique.

Edsel diz que sua organização recebe um telefonema por dia de pessoas que tentam identificar itens da época da guerra encontrados em suas casas."Estamos em busca de pessoas de boa vontade que não saibam o que têm em mãos", afirmou.

Piston voltou para casa depois da guerra, concluiu a faculdade, se tornou restaurateur e teve cinco filhos. O álbum em geral ficava na estante de sua casa em Beachwood, Ohio, e só era visto ocasionalmente pelas pessoas da família.

Quando ele conheceu Edsel e descobriu sobre os Monuments Men, Pistone sabia que precisava devolver o álbum à Alemanha. "Queria deixá-lo nas mãos certas", disse.

Antes que seja devolvido, o álbum e dois outros localizados pela fundação ficarão expostos por três meses no Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial, em Nova Orleans, disse Edsel.

Ele acrescentou que, dos dois outros álbuns, um já foi doado ao Arquivo Nacional norte-americano, onde se unirá a outros documentos que serviram de prova dos roubos nazistas durante o julgamento de Nuremberg. O segundo será doado ao Arquivo Nacional dentro de no máximo três anos.

"Quando os soldados e famílias percebem o que têm em mãos e nos procuram para devolver o material, nunca há problemas. É um momento feliz e sempre celebrado, de uma maneira ou de outra", disse Kline. "Temos uma grande dívida para com essa geração que salvou o mundo do nazismo".

Tradução: Paulo Migliacci ME

Fonte: AP AP - The Associated Press. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser copiado, transmitido, reformado o redistribuido.
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